Jornal Povo

Cultura negra em movimento!

Entenda como o Babalorixá Dário D’Osaiyn mantém a tradição de sua família viva nos dias de hoje.

Bàbáloriṣá Dário D’Osaiyn (Foto: Daniel Lobo) 

Por mais que muitos não admitam é complicado ser negro, homossexual, candomblecista e nascido em uma comunidade do Rio de Janeiro. Entretanto, em meio ao caos urbano, preconceito por parte da sociedade e a vida atribulada que esses cidadãos levam, alguns se salvam e lutam para auxiliar seus semelhantes. Esse é o caso de Dário Firmino, neto de negros e fundadores de movimentos culturais importantes dentro de nosso estado.

Hoje o Babalorixá dá continuidade em tudo que lhe foi passado pelos seus mais velhos e mestres, como gosta de chamar e nos relata na entrevista abaixo.

Nome completo?

– Dário Luiz Firmino Junior. Nascido no morro da Serrinha, em Madureira. Terra do meu glorioso Império Serrano. Onde cresci e me criei.

Como chegou ao candomblé?

– A vivência ligada aos movimentos de matriz africana e educado por mulheres negras. Isso reforçou e recriou em minha pessoa, uma identidade e um entendimento de raça com bases sólidas. Os ensinamentos que tive convivendo e crescendo com grandes mestres e mestras jongueiras como Darcy do Jongo, Tia Ira e todo Jongo da Serrinha. Meus avós Ovídio Brito e o grande músico percussionista Cosmelino Simplicio, que me deixou essa ancestralidade e um pé na minha umbanda querida. Eles me fizeram entender e respeitar, desde cedo, a hierarquia existente dentro do sistema político/social que existe em um terreiro de candomblé ou em uma comunidade negra do Brasil.

Bàbá Dário militando (Foto: Talita Magar) 

O fato de sua origem estar sempre ligadas aos movimentos populares negros te facilitou obter algum entendimento dentro do culto?

– Com muita certeza! Meus sobrinhos, filhos de santo e todos que me procuram para alguma orientação ou caminho. Recebem exatamente o que eu recebi desses mestres e matrizes culturais.

Ser parente de pessoas ligadas a movimentos com o samba e o jongo te fazem sentir-se mais próximos de seus ancestrais?

– Há dez anos atrás, eu e outros jovens (éramos jovens. Risos) fundamos a Cia de Aruanda que trabalha levando cultura popular a escolas e comunidades carentes. Uma vez por mês, sob o viaduto Negrão de Lima organizamos, com outros tantos, uma roda de danças populares. Levando isso para minha casa de candomblé, deve-se dizer que o serviço prestado por uma comunidade de matriz africana sempre foi de acolher e prestar socorro para a grande comunidade. Sempre organizamos campanhas de conscientização ambiental, coleta de alimentos, vestes e outros bens para os necessitados de Guapimirim, onde temos nossa sede.

Como passa esse sentimento para os seus filhos de santo?

– Uma casa de santo não se sustenta apenas com roupas bonitas e coloridas. Na verdade, essa é a parte menos importante. Uma comunidade coesa é engajada em temas sociais, que enverga importância em posicionamentos políticos. Essa é a família que escolhi criar e viver.

Onde fica localizada a sua casa e a qual raiz você pertence?

– Minha roça, como chamamos a Casa de Santo, fica localizada na cidade de Guapimirim, aos pés da serra dos órgãos, logo antes de Teresópolis. Sou descendente de Ilê Axé Iya Nasso Oka, Terreiro da Casa Branca, localizado na Bahia. Fui iniciado por finado Papai Flávio de Oxaguian, conhecido como Professor José Flávio Pessoa de Barros, autor de vários livros e participante ativo de militância em prol do movimento negro. O mesmo era filho da também finada Iya Nitinha de Oxum. Hoje sou filho de Iya Débora de Oxum, que vem se mostrando uma jovem a frente de seu tempo. Herdeira do Ilê Axé de Mãe Nitinha. Nunca deixo de citar minha Avó, também falecida, Florzinha de Nanã, Mãe Pequena do Ilê Oxum/Miguel Couto, pois foi quem me ensinou a caminhar sozinho em minha religião.

O que acredita poder acrescentar ao candomblé existente por conta de ainda ser um jovem Bàbálorìṣá?

– Acredito que minha pouca idade seja minha maior contribuição. Não quero parecer desrespeitoso com meus mais velhos, pois é com eles que sigo aprendendo e me espelho sempre. Vivemos um momento político delicado e o candomblé do Brasil vem sofrendo muito com isso. É preciso equipar nossa tradição com toda energia e representatividade possível. Por isso me sinto um jovem em potencial, assim como outros líderes religiosos que lutam para manter nossa cultura viva.

Deixe um recado para os leitores, por favor:

– Mojuba! Marielle vive! Vidas negras importam! Se não fosse o candomblé! Não ao racismo! Que Osaiyn tenha sempre uma folha de remédio para todos nós. Axé!

Contato Bàbá Joaquim D’Ògún

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