Jornal Povo

A arte fotográfica inserida no sagrado

Foto: Orum Aye

Muitos de nós podemos não admitir, mas a arte de imagens está muito ligada a evolução do Candomblé. Não se pode afirmar que o fato está relacionado aos livros do repórter fotográfico Pierre Verger, mas também não conseguimos pensar no caso sem citar o francês.

O tempo passou e uns preferiram manter seus segredos ritualísticos. Já outros, nem tanto. A liberação passou a ter relação com a família de àṣẹ e como ela vê a questão.

Trabalhando constantemente em comunidades de Terreiro, o fotógrafo Yuri Retoro nos contou quando decidiu embarcar nas imagens sagradas e falou um pouco sobre suas referências.

Fotógrafo Yuri Retoro

– Trabalho com TV a 11 anos. Em meados de 2014 tive aulas de fotografia na faculdade de Produção Audiovisual. Me apaixonei, comprei material e busquei o que fotografar. Aproveitei a riqueza de imagens existentes no Candomblé e que fazia parte de um àṣẹ para começar. Demorei a divulgar o material pelo meu local de trabalho, com receio de algum tipo de julgamento, mas com o perfil profissional do Instagram isso se tornou possível e o Orum Aye ganhou uma proporção que eu não imaginava. Abriu minha mente para enxergar melhor a cultura e a resistência negra de uma comunidade de Candomblé. Não tive influência de ninguém como eu disse anteriormente, mas depois de meu início, estudei as obras de Pierre Verger e procurei me referenciar no nosso povo. A galera de santo (Mônica, Roger, etc.) que já conta nossa história ancestral através de suas imagens. Falou o fotógrafo.

Alguns contos são ditos pelos mais velhos, mas na verdade, o que de fato os antigos desejam, é a preservação da história e respeito ao Òrìṣà. Quando perguntado se ele acredita que a fotografia atrapalha o sagrado, o profissional deu seu ponto de vista.

– Não acho que atrapalha, mas entendo que quem abre demais a porta de sua casa, acaba recebendo gente indesejada. Na fotografia religiosa o cuidado é maior, pois tudo é sagrado. O profissional mexe com a fé das pessoas. Por isso entendo a resistência. Fé mexe com a nossa cabeça e com os nossos sentimentos. Acho que o trabalho fotográfico veio para mostrar para o mundo o que é esse movimento maravilhoso. É bacana ter mais gente para divulgar a nossa cultura e deixar visível que não somos o demônio que pintam. Temos que nos expor e dizer o que somos e fazemos. Sendo assim, acredito que a fotografia ajuda no crescimento dos adeptos, pois nossa religião é belíssima. Explicou Yuri.

Pensando e verificando que imagens não somem ao fotografar e que o Òrìṣà não abandona o corpo de um filho seu por conta do flash, chega-se a conclusão de que o Candomblé possui algumas tradições bem vivas e conservadoras, o que faz fotógrafos e demais artistas sentirem algo especial, quando ali estão, como relata Yuri em seu fechamento.

– Me sinto parte da família que fotografo. No meu olhar, o Candomblé é uma grande comunidade. Sinto que estou contando a história de meu povo e do meu ancestral. Quando tenho permissão para transmitir aquele conto, pois é assim que entendo sobre fotografar, a minha satisfação e felicidade é muito grande. Sei que estarei deixando o meu olhar para o mundo e mostrando um pouco sobre meus antepassados. Finalizou o fotógrafo Yuri.

E o Candomblé segue seu curso. Transitando entre o tradicionalismo e a modernidade. Gerando a possibilidade de fotografarmos da maneira que quisermos. Com lentes ou com a nossa memória.

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