Jornal Povo

A educação e a formação de novos religiosos dentro do Candomblé

Foto: Histórias do Candomblé

Não é de hoje que o Candomblé deixou de ser um espaço frequentado apenas por pessoas sem escolaridade e baixa renda. O cenário é bem diferente nos dias atuais.

Cada vez mais estudiosos estão optando pelo segmento de matriz africana e isso se deve a elevação do nível de escolaridade dentro da mesma, em alguns casos.

Com a preocupação de que seus filhos saibam se defender das intolerâncias existentes no país, o Bàbálorìṣá Robson Lage D Ògún, filho de Ìyá Regina Lucia D Yemanjá, do Ile Àṣẹ Opo Afonjá, nos falou um pouco sobre a visão dele sobre a importância de se obter conhecimento acadêmico e agregar o mesmo a religiosidade.

Robson Lage presente na última Expo Religião

– A formação acadêmica auxilia na atuação do religioso. Isso irá criar argumentos teóricos para que ele possa debater melhor sobre sua religiosidade. Nos faz entender que a religião vai além da presença na comunidade de Terreiro. Tem que ser mais amplo. Tem que ter um cunho social e político. Isso você só alcança obtendo uma formação. Sem o lado acadêmico você não consegue entender nem um Ìtàn, pois o que existe por traz do lado místico é uma história real. Isso tudo está ligado a antropologia e irá ajudar bastante não somente na vida religiosa. Falou o Bàbálorìṣá.

Formado em Direito e Mestre em Gestão Pública, Bàbá Robson admite não precisar incentivar seus filhos para que procurem se instruir, pois a observação com relação ao comportamento ético religioso do mesmo, faz com que todos criem o interesse pela faculdade.

– Quem puxa os seus não degenera. Lá em casa temos muitos professores e diretores de escola. Pessoas ligadas a ONG’s e diversos outros segmentos. Esse fato faz com que os que ainda não estão formados busquem preencher esse campo. Vale lembrar que também tenho filhos que não possuem formação e isso não os diminuem em nada, perante ao nosso culto e a minha pessoa. Explicou Robson Lage.

Quando pensamos em mudança de comportamento também fora da casa de àṣẹ, falamos do ser humano e seu dia a dia. Foi nesse desfecho que o Bàbálorìṣá mostrou certa preocupação e salientou novamente a importância do estudo, dentro do espaço sagrado e para a vida dos religiosos de matriz africana.

– Aconselho aos acadêmicos e não acadêmicos a consultarem seus mais velhos. Estudem e verifiquem mais as informações pertinentes a sua religião. Tem muita coisa na internet que atrapalha o processo de educação religiosa. Ao mesmo tempo que a velocidade da notícia publicada auxilia, ela atrapalha, quando não é verdadeira. Não é tudo que serve como fonte de pesquisa, pois tem muita coisa que a mente criou. Isso não pode ser passado adiante por nós. Devemos consultar nossos àgbàs para saber se devemos guardar aquilo como conhecimento. Finalizou o Robson D Ògún.

Nossa ancestralidade nos deixou o conhecimento religioso e a força da resistência para que a informação chegasse até aqui. Cabe a nós Candomblecistas, darmos continuidade a esse importante legado e, como os tempos são outros, temos que buscar falar em pé de igualdade fora da instância religiosa.

Contato Bàbá Joaquim D’Ògún

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