A Justiça do Rio revogou ontem a prisão preventiva de Alexandre Motta de Souza, amigo do sargento reformado da Polícia Militar Ronnie Lessa, denunciado como um dos autores da morte de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, crime ocorrido no bairro do Estácio, no dia 14 de março do ano passado.
Durante operação realizada dois dias antes do crime da parlamentar completar um ano, a polícia encontrou na casa de Alexandre, no bairro do Méier, zona norte da cidade, 117 peças de fuzil, que faltavam ainda o gatilho e o cano para ficarem completas. O próprio Lessa admitiu em depoimento à polícia que o armamento era de sua propriedade e que Alexandre guardou apenas as peças em sua casa, atendendo a um pedido do policial, que era seu amigo de infância.
Na decisão em que concedeu a liberdade provisória, a juíza da 40ª Vara Criminal do Rio, Alessandra Bilac, acolheu o parecer favorável do Ministério Público após ouvir as informações prestadas pelos policiais que participaram da prisão e o depoimento dos réus. Os policiais disseram que Alexandre apontou o local onde as caixas lacradas estavam guardadas e que ele demonstrou surpresa e desespero com o que havia dentro delas. Alexandre mora sozinho com um irmão deficiente mental, sendo ele o responsável por cuidar do irmão.
Audiência de sete horas
A audiência, realizada por videoconferência na tarde de ontem, durou quase sete horas. Denunciados por posse ilegal de arma de fogo, Alexandre foi interrogado no Fórum Central do Rio, enquanto Ronnie Lessa acompanhou tudo de uma sala de videoconferência no Presídio Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, onde está com a prisão preventiva decretada.
Alexandre disse que todo o material pertencia a Lessa, que apenas lhe pedira para guardá-lo em sua casa. Já o sargento reformado da PM afirmou que as peças encontradas na casa de Alexandre eram itens de airsoft – jogo em que os participantes utilizam arma de pressão. Segundo ele, as caixas estavam lacradas e Alexandre – seu amigo há 30 anos – não sabia o que tinha nelas.
Após revogar a prisão de Alexandre e determinar a expedição do alvará de soltura, a juíza concedeu prazo de 10 dias para os advogados dos acusados juntarem documentos. Depois disso, o Ministério Público estadual e os advogados de defesa terão que apresentar as alegações finais, momento anterior à sentença.