Jornal Povo

Moradores da Muzema fazem manifestação contra decisão da prefeitura de derrubar prédios

Moradores do condomínio Figueiras do Itanhangá, na Muzema, onde 24 pessoas morreram no desabamento de dois edifícios em abril, realizam, desde a madrugada desta quinta-feira, uma manifestação, na Avenida Engenheiro Souza Filho, também no Itanhangá, contra a decisão da prefeitura de demolir seis prédios que foram interditados pela prefeitura na terça-feira. A via está interditada para a circulação de veículos. Policiais militares estão no local.

O município deu um prazo de 72 horas, que vai expirar na sexta-feira, para a desocupação de 45 apartamentos dos seis prédios, localizados no trecho da rua do condomínio onde houve o desabamento dos edifícios.

Um dos moradores, Valdir Lima, de 47 anos, refuta o argumento de que os prédios correm risco de desabamento, afirmando que nenhum laudo técnico foi apresentado pela prefeitura. Ele diz que os moradores querem uma perícia independente. Ainda segundo ele, o secretario de Infraestrutura e Habitação da cidade do Rio, Sebastião Bruno, disse os moradores dos prédios que serão demilidos devem “se virar” para arranjar um lugar para morar.

— O secretario Sebastião disse que todo o Figueiras vai ser derrubado, mas não só o condomínio, todo o entorno, inclusive as ruas e prédios. Quando eu perguntei sobre o que serão feito com as 2 mil famílias que serão desabrigadas, ele disse para gente se virar. Ele marcou uma reunião na segunda-feira, mas não nos deu garantia de nada. Não sabemos se teremos aluguel social. Queremos entrar em acordo, conversar com o prefeitura. Ninguém vai fazer manifestação para prédios que irão cair. Se estamos pedindo uma vistoria é porque não acreditamos que os prédios estão para cair — afirmou Valdir.

Na manhã desta quarta-feira, um grupo de moradores esteve reunido com defensores na Coordenação do Núcleo de Terras e Habitação da Defensoria Pública para pedir ajuda e evitar as demolições. Valdir Lima disse que nos bastidores da prefeitura a informação dá conta de que o objetivo é acabar com o condomínio destruindo todos os prédios.

— Pessoas trabalharam por mais de 30 anos na vida e conseguiram deixar comunidades violentas e comprar um apartamento aqui para, de repente, perderem tudo? Isso não vamos permitir sem lutar muito. Estamos buscando os caminhos legais para que isso não aconteça. A prefeitura disse que 45 famílias receberam a notificação para a desocupação. O Ministério Público quer conversar, a Defensoria Pública também. Só a prefeitura é que não quer. Até o momento, nenhum aluguel social foi pago a morador algum. Não somos vinculados com milicianos. Não somos. A compra de um imóvel construído de forma irregular não pode justificar que famílias inteiras sejam colocadas na rua — comentou Lima.

A Secretaria municipal de Infraestrutura e Habitação informou que para receber o Auxílio Habitacional Temporário no valor de R$ 400 as famílias precisam se enquadrar nos requisitos da Lei 8.742/1993. Por meio de nota, a pasta informou que “o benefício só pode ser concedido para famílias com renda mensal de até R$ 1,8 mil”. Segundo a nota, nenhum auxílio foi pago até o momento porque ninguém que se interessou preencheu os requisitos necessários. 

“O primeiro atendimento é feito pela Secretaria municipal de Assistência Social e Direitos Humanos, que encaminha para a Subsecretaria de Habitação as famílias que demonstram interesse e se enquadram nos requisitos. Até o momento, em relação à Muzema, a Subsecretaria de Habitação não recebeu nenhum encaminhamento de pessoas com o perfil em acordo com a lei”, diz um trecho da nota.

As notificações afixadas nas portas dos imóveis que serão demolidos até a semana que vem diz que tudo o que for encontrado dentro dos apartamentos depois das 72 horas de prazo será retirado pela prefeitura. “O prédio será lacrado e interditado em sua totalidade visando a imediata demolição. Os materiais que permanecerem no interior do imóvel serão encaminhados para o depósito público da prefeitura com o apoio policial se necessário, e somente serão retirados mediante os devidos procedimentos administrativos”, diz a notificação.

Na noite de terça-feira, moradores fizeram uma manifestação de protesto contra a iniciativa da prefeitura de demolir imóveis. Ele foram para a frente da Câmara Municipal com faixas e cartazes. Até o momento, cinco prédios em construção ou com risco de queda foram demolidos no condomínio.