Jornal Povo

Bienal vende mais de 4 milhões de livros no Rio

Terminou neste domingo a 19ª edição da Bienal Internacional do Livro do Rio. Nos dez dias de evento, passaram pelo Rio Centro, na Zona Oeste da cidade, mais de 600 mil pessoas e foram vendidos mais de 4 milhões de livros, dos 5,5 milhões disponíveis. Na edição anterior do evento, em 2017, foram 3,6 milhões de livros vendidos e público de 680 mil pessoas.
Segundo os organizadores, a bienal é reconhecida como o maior evento literário do país e contou com mais de 300 autores do Brasil e de outros países, além de dezenas de artistas, acadêmicos, filósofos, cientistas, lideranças religiosas, movimentos sociais, ativistas e youtubers, que participaram de palestras, debates e bate-papo com o público.
A diretora-geral do evento, Tatiana Zaccaro, destaca que a média de vendas superou a edição de 2017, passando de 100% de aumento em algumas editoras. Ela atribuiu o sucesso ao ambiente cultural e de discussões de qualidade proporcionado pelo evento.
“As curadorias dos espaços foram incessantes propondo os melhores temas, buscando os melhores autores e personagens. O espaço infantil foi um sucesso, o Café Literário teve todas as sessões praticamente lotadas e a Arena #SEMFILTRO causou um alvoroço, consolidando a Bienal como o maior programa cultural e o mais diverso do país”.
Entre os temas discutidos na bienal este ano estiveram a felicidade, democracia e autoritarismo, meio ambiente, fé, empoderamento, fake news, escravidão, ciências e diversidade. As sessões foram gravadas e podem ser vistas no site.
Censura e manifestações
A 19ª edição da Bienal Internacional do Livro foi marcada pela tentativa de censura de livros de temática LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) por parte da prefeitura do Rio. Na quinta-feira, o prefeito Marcelo Crivella determinou o recolhimento da obra ‘Os Vingadores – A Cruzada das Crianças’, um quadrinho de super-heróis da editora norte-americana Marvel, em que uma cena mostra um beijo entre dois homens.
A prefeitura nega que tenha havido tentativa de censura ou homofobia e que, em conformidade com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), determinou que a revista fosse lacrada em material opaco e colocada uma advertência sobre conteúdo impróprio para menores de idade. Porém, o prefeito aparece em vídeo determinando o recolhimento da obra e a prefeitura notificou os organizadores que apreenderia o livro que não estivesse lacrado e com a advertência. Fiscais da prefeitura chegaram a comparecer à bienal na sexta-feira e no sábado, mas não apreenderam nenhum material. Após a declaração do prefeito, a revista esgotou em 40 minutos.
Na sexta-feira, os organizadores da Bienal pediram na Justiça o direito de comercializar obras literárias de qualquer temática e foram atendidos pelo desembargador da 5ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), Heleno Pereira Nunes. A prefeitura recorreu e conseguiu uma decisão no sábado (7) do presidente do tribunal, Claudio de Mello Tavares, para recolher obras que tratem de temas LGTB “de maneira desavisada” para crianças e jovens.
O caso chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF) no domingo (8). Pela manhã, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu à suprema corte a suspensão da decisão judicial do TJRJ e foi atendida pelo presidente do STF, ministro Dias Toffoli. Também ontem, o ministro do STF Gilmar Mendes determinou a suspensão da decisão do TJRJ, atendendo a pedido de mandado de segurança dos organizadores da Bienal.
Apesar da proximidade do fim do evento, a prefeitura ainda entrou com um pedido de embargos de declaração no STF, por meio da Procuradoria-Geral do Município, pedindo a suspensão da liminar concedida por Toffoli. Diante da repercussão do caso, o presidente do TJRJ divulgou nota na noite de ontem negando que tenha compactuado com censura.
“Censura ocorreria se eu houvesse proibido a publicação ou circulação da obra em questão. Como se trata de espaço aberto ao público, o que determinei, segundo meu convencimento, foi simplesmente o alerta sobre conteúdo delicado, para que os pais pudessem decidir ou participar da decisão de aquisição da obra, voltada ao leitor infanto-juvenil, ainda em formação”, disse Tavares.