Jornal Povo

Caminhada pela paz na Baixada

ONG promove ato em homenagem aos três jovens assassinados no bairro Miguel Couto no último final de semana.

Por: Hyago Santos

Pelas ruas do bairro Miguel Couto, em Nova Iguaçu, uma única voz se fez por muitas em um só pedido: A paz na Baixada Fluminense. Isso porque foi realizada na manhã desta sexta-feira, uma caminhada em memória dos três adolescentes Fabrício Victor da Silva, de 15 anos, Luís Felipe da Silva, de 17 anos e Breno da Silva Pimentel, de 18 anos, assassinados no último sábado. Os corpos dos três jovens foram encontrados numa antiga garagem de ônibus na localidade.

A concentração começou na porta da ONG Casa do Menor São Miguel Arcanjo, que organizou o ato, e seguiu no bairro. As faixas que eram levadas pelas mãos dos jovens da região levavam mensagens de paz e pedidos pelo fim das mortes aos adolescentes da periferia. Entre as faixas levadas, a maior delas tinha uma frase: ‘Pare de nos matar’.

Manifestantes no centro de Miguel Couto/Foto: Divulgação

Ao chegarem no local onde foram encontrados os corpos dos três jovens, os manifestantes então fizeram uma prece, acompanhada de um desabafo.

“A luta pela paz é uma luta diária. Nós queremos paz e queremos pedir ao Criador que nos ajude o que ser irmãos em um mundo dilacerado pela violência e marginalizado pela falta de cuidado”, disse um dos manifestantes.

No local onde os corpos foram encontrados, foram feitas orações em memória dos adolescente/ Foto: Leandro Monteiro

“Nosso objetivo com esse ato foi levantar a bandeira da vida. A faixa que diz ‘Parem de nos matar’ representa resistência e é muito simbólica para todos nós. A Casa do Menor existe há 33 anos e surgiu com a morte de um menino negro, de origem popular, pobre e de território periférico, que foi assassinado em frente a casa paroquial do Padre Renato [fundador da ONG]”, disse Leandro Monteiro, coordenador da Casa do Menor. “O mais triste para nós é saber que desses quatro adolescentes que foram mortos em Miguel Couto, três são de famílias de alunos e ex-alunos da Casa do Menor”.

Instituição oferece diversas atividades sociais e cursos profissionalizantes

A Casa do Menor tem seu foco em inclusão social e resgate de jovens menos favorecidos. A instituição oferece atividades voltadas para a cultura, arte, além de cursos profissionalizantes. Lá, eles aprendem informática, panificação, elétrica, serralheria, entre outras profissões que os ajudam a ingressarem no mercado de trabalho. 

“A Casa do Menor continua sendo uma alternativa concreta para acabar com a violência na Baixada. Aqui nós realizamos o trabalho de prevenção. Não se resolve violência com mais violência e com tirania. Mas sim, com políticas públicas efetivas na área da segurança”, completou Leandro. 

Chacina da Baixada, 2005

A Baixada Fluminense carrega em sua história a mancha de ser protagonista do maior crime de assassinato do Rio de Janeiro. A ‘Chacina da Baixada’, como ficou conhecida, deixou pessoas mortas em diferentes pontos de Nova Iguaçu e Queimados, quando policiais à paisana abriram fogo as vítimas, a maioria jovem. Só em Nova Iguaçu foram 17 vítimas.

Chacina da Via Show

 Dois anos antes, em 2003, uma outra chacina acontecera. Quatro jovens do bairro Santo Antônio, em Guadalupe, Zona Norte, resolveram ir para extinta casa de festas Via Show, em São João de Meriti, e nunca mais voltaram. Geraldo Sant’Anna de Azevedo Junior, de 21 anos, Bruno Muniz Paulino, de 20 anos, e os irmãos Rafael Paulino, de 18 anos, e Renan Medina Paulino, de 13 anos, foram sequestrados, torturados e mortos por policiais militares que faziam a segurança naquele dia. Alguns autores do crime, mesmo condenados, seguem em liberdade até hoje.

 

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