Jornal Povo

Polícia simula possíveis mudanças físicas de crianças desaparecidas e divulga para pais

Depois de tantos anos, um minuto de silêncio. Faltaram palavras para seis mães de crianças e adolescentes desaparecidos, ao verem a foto do envelhecimento digital de seus filhos, ontem pela manhã, na Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA). Com a imagem da última vez que tiveram com os menores em mente, foi difícil encarar as possíveis mudanças causadas pelo tempo. As lágrimas foram inevitáveis.

A emoção foi tão grande que uma delas chegou a ter um princípio de infarto e precisou ser socorrida a um hospital.

Outra mãe, Luciene Torres, de 57 anos, continua sua busca por informações que a ajudem a encontrar Luciane da Silva, que desapareceu aos 9 anos, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Atualmente, a menina já teria 19 anos.

“Tenho na cabeça a última imagem que vi, então há uma luta muito grande dentro da gente. Quando vemos que passou tanto tempo e o que perdemos, isso é o que mais dói. Não vi crescer, não vi se transformar de criança em adolescente, numa jovem, a gente perde tudo”, desabafou.

Medo de não reconhecer

Para ajudar outras mães que sofrem com a dor do desaparecimento de crianças, Luciene Torres criou a ONG Movimento Mães Virtuosas do Brasil. Segundo ela, um dos grandes medos das mães é o de não reconhecer mais filhos ou filhas.

“O maior medo dentro da gente é de passar ao lado deles na rua e não reconhecer. Esse é o meu maior medo, não saber mais quem é a minha filha, também abandonar esse rostinho, essa última imagem dela, e adotar essa nova imagem. Hoje, já não procuro mais uma Luciana de 9 anos”, comentou Luciene.

Segundo a delegada Ellen Souto, titular da Delegacia de Descoberta de Paradeiros, o principal objetivo do envelhecimento digital é a divulgação da imagem do desaparecido atualizada. Essas progressões serão divulgadas mundialmente.

“As imagens das crianças envelhecidas são divulgadas em todas as redes sociais da delegacia e vão para a aba de pessoas desaparecidas da Interpol. São todas direcionadas para os países (Portugal, Espanha, Itália e Suíça) que são rotas do tráfico de mulheres para exploração sexual”, explicou.