O dólar mantém a trajetória de alta nesta terça-feira (26), sendo negociado acima de R$ 4,27 e batendo nova máxima intradia, após ter renovado na véspera maior valor nominal de fechamento da história, com os investidores reagindo a declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, que afirmou que o câmbio de equilíbrio “tende a ir para um lugar mais alto”.
Às 14h41, a moeda norte-americana subia 1,5%, a R$ 4,2761. Na máxima da sessão até o momento, chegou a R$ 4,2771. Trata-se da maior cotação intradia já registrada, sem considerar a inflação. O recorde anterior tinha sido registrado em 24 de setembro de 2015, quando bateu R$ 4,2484.
Já o dólar turismo era negociado ao redor de R$ 4,45, sem considerar os impostos.
Por volta das 11h05, a alta da moeda teve uma leve desaceleração, depois que o Banco Central vendeu dólares no mercado à vista, em leilão extra, com taxa de corte de US$ 4,232.
Na véspera, o dólar fechou em alta de 0,5%, a R$ 4,2129. O recorde anterior de fechamento havia sido atingido na semana anterior, quando a moeda encerrou a sessão cotada a R$ 4,206. Na parcial de novembro, acumula alta de 5,07% sobre o real. No ano, o avanço até agora é de 8,74%.
Mais cedo, o coordenador de Operações da Dívida Pública, Roberto Beier Lobarinhas, afirmou que o impacto da alta do dólar sobre a gestão de dívida é “muito pouco relevante”. “Olhamos a composição da dívida cambial e não observamos variação relevante. Para a gente, está bem tranquilo”, afirmou.
Questionado sobre uma possível atuação conjunta com o Banco Central, ele apontou ainda que não foi observado “nada nem próximo da necessidade de se fazer qualquer coisa, qualquer atuação. Não há nada no radar nesse sentido”.
Na véspera, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que, diante da redução da taxa básica de juros no país, o câmbio de equilíbrio “tende a ir para um lugar mais alto”.
“Quando você tem um fiscal mais forte e um juro mais baixo, o câmbio de equilíbrio também ele é mais alto”, afirmou Guedes em entrevista coletiva na embaixada brasileira em Washington, acrescentando que o Brasil tem uma moeda forte e que flutuações no câmbio não são motivo de preocupação.
“Os comentários do Guedes mostram que não tem uma preocupação com a taxa de câmbio no atual patamar”, disse à Reuters Camila Abdelmalack, economista da CM Capital Markets. “O mercado acaba achando que isso é uma indicação de que o BC não vai atuar.”
Já o presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta terça-feira que “há prós e contras” com fato do dólar ter alcançado novo valor nominal recorde.
“Se você for analisar na ponta da linha, tem vantagens, prós e contra no dólar a R$ 4,21 como está agora (sic)”, afirmou o presidente, na saída do Palácio da Alvorada. “Espero que caia (a cotação da moeda), torço, assim como torço para que caia a taxa Selic, torço para que aumente a nossa credibilidade junto ao mundo”, acrescentou.
O avanço do dólar nas últimas semanas acontece também em meio as incertezas em torno das negociações comerciais entre a China e os Estados Unidos, com o mercado em busca de sinalizações sobre um possível acordo para colocar fim à guerra comercial que se arrasta desde o começo de 2018.
Internamente, o mercado também reage ao movimento de saída de dólares do país, que enfraquece o câmbio. Em outubro, o déficit nas transações correntes chegou a US$ 7,9 bilhões maior que os US$ 5,8 bilhões projetados pelo Banco Central (BC) e com o investimento estrangeiro abaixo do esperado.
A menor oferta de moeda no país em meio a contínuas saídas de capital se tornou uma preocupação ainda maior depois da frustração do mercado com o megaleilão do excedente da cessão onerosa do pré-sal, no último dia 6, no qual praticamente apenas a Petrobras fez lances.
No dia 5 de novembro, o dólar havia encerrado em R$ 3,99 na venda. Desde então, a cotação disparou mais de 5%, em termos nominais.
Diante do salto histórico do dólar à vista, o Banco Central anunciou nesta terça-feira leilão de venda à vista de no mínimo US$ 1 milhão, em oferta líquida de moeda, indicando ao mercado as ferramentas disponíveis para controlar a volatilidade.
“O Banco Central deu um recado, vendo o que está acontecendo. Não é porque o Guedes falou que o dólar vai ficar alto que vai ficar por isso mesmo”, disse à Reuters Jefferson Laatus, sócio e fundador do Grupo Laatus.
“O mercado, depois da fala do Guedes, quer testar quais são os patamares que incomodam o Banco Central. E teve essa venda de dólares à vista, um recado do BC”, acrescentou.
Ele avaliou, porém, que o dólar pode manter o viés de alta caso o BC não volte a atuar.
Via: G1