O Hospital Municipal Albert Schweitzer, em Realengo, fechou as portas na tarde desta sexta-feira. O encerramento das atividades aconteceu por volta das 17h30. Segundo um funcionário do hospital, que preferiu não se identificar, a unidade está funcionando apenas para os pacientes de trauma e internação e não há previsão de retorno.
Ainda de acordo com o funcionário, o fechamento foi a única opção, já que, segundo ele, a unidade sofre com falta de técnicos, médicos e materiais.
— Cada setor teve uma reunião com o seu chefe de equipe, e depois só nos foi passada a informação de que deveríamos fechar as portas — disse.
A gari Cátia Cilene, de 48 anos, deixou o hospital às 21h sem saber se o pai será transferido para outra unidade ou se receberá alta mesmo com o quadro de saúde complicado. Sebastião dos Santos, de 74 anos, está internado desde o final da madrugada de quarta-feira, quando deu entrada apresentando hemorragia interna. Com problemas de pressão alta e diabetes, ele só conseguiu fazer exame de endoscopia nesta sexta.
— Não tinha médico para fazer exame. Ele ficou em dieta durante todos esses dias. Agora, tiraram ele da sala vermelha e acomodaram-no na enfermaria. A informação que circula nos corredores é de que os funcionários vão fechar dois andares e trabalhar apenas com metade da equipe — disse a acompanhante, que, quando chegou à unidade nesta sexta, encontrou o pai sem medicação. — Os pacientes estão ao Deus dará.
Já Thawane Desirée, de 26 anos, chegou ao hospital com o filho às 17h30 desta quinta, após duas convulsões. Segundo ela, o menino de 6 anos chegou a fazer exame de tomografia, mas, até às 21h15 desta sexta-feira, não havia médico para dar o laudo.
— Ele continua com fortes dores na cabeça e pode ter tido um trauma, mas não sabemos. Quanto maior a demora, pior vai ficar para o meu filho — disse ela, lembrando que a medicação prescrita pelo médico após o exame não estava disponível na farmácia.
Ângela Cristina de Jesus, 38 anos, chegou ao hospital por volta das 18h, acompanhando uma amiga que deu à luz no ultimo dia 2 na própria unidade. Mais cedo, a paciente procurou a Clínica da Família em Campo Grande, onde a médica percebeu que ela estava com a barriga muito inchada e a encaminhou para o Albert Schweitzer. Na unidade, a paciente enfrentou dificuldades para o atendimento.
— Nós chegamos na ambulância e, de imediato, os funcionários disseram que não atenderiam porque estavam em greve. A médica da ambulância entrou na unidade para relatar o caso. Só depois de meia hora é que resolveram tirá-la da ambulância e atendê-la — contou.
A dona de casa Laura Rios trouxe o casal de gêmeos de 6 anos para a emergência da unidade, mas saiu sem atendimento.
— Meus filhos estão com febre e dor na garganta. Me mandaram procurar a Upa, mas também estão de greve. Acabaram me indicando o Posto de Atendimento Médico de Realengo. Não sei o que vou fazer — disse.
Pelos corredores, de acordo com os relatos de acompanhantes, funcionários dizem que estão há dois meses sem receber salário e que algumas pessoas estão sobrevivendo de vaquinhas organizadas por amigos.
Uma manifestação dos profissionais da saúde está marcada para este sábado. No evento criado nas redes sociais, os funcionários reivindicam a regularização dos salários atrasados. O protesto será em frente ao Albert Schweitzer.
Uma funcionária do Hospital Pedro II, que também pediu anonimanto, lamentou por não poder comparecer a manifestação deste sábado. O motivo é simples: ela não tem dinheiro para chegar até lá.
— Eu queria muito participar, mas, na situação em que me encontro, não tenho dinheiro para pegar o ônibus. Os poucos plantões que eu consigo dar é porque arrumo carona para ir trabalhar — desabafou.
O Hospital Albert passa por problemas há alguns meses. Em abril deste ano, um parto chegou a ser feito às escuras depois de um apagão que durou 3 horas. O gerador da unidade funcionou por apenas 17 minutos.
Em outubro, enquanto o prefeito Marcelo Crivella e o governador Wilson Witzel travavam um jogo de empurra sobre a gestão de dois hospitais da cidade — entre eles, o Albert Schweitzer —, a população sofria para conseguir atendimento médico de qualidade.
No fim daquele mês, Crivella anunciou a devolução dos hospitais Albert Schweitzer e Rocha Faria. As unidades migraram das mãos do estado para a prefeitura em 2016, nas gestões do ex-prefeito Eduardo Paes e Luiz Fernando Pezão. A medida, porém, não se concretizou.
Em novembro, um grupo de manifestantes fechou a Avenida Brasil em protesto por falta de pagamento. Na ocasião, a prefeitura informou que estava trabalhando para tentar resolver o acerto dos salários atrasados.
Ao G1, a Secretaria de Saúde do município informou que, apesar da falta de pagamento, o sindicato dos trabalhadores da saúde prometeu manter 50% do efetivo trabalhando. Segundo a Prefeitura, todos os hospitais da cidade seguem com as portas abertas e atendendo a população de acordo com a classificação de risco.
Via: Jornal Extra