Jornal Povo

Mãe faz festa de 15 anos com decoração para filha desaparecida desde 2015

O planejamento da festa de 15 anos fazia parte da conversa diária entre mãe e filha. Polyanna Ketlyn da Silva Ribeiro sonhava usar um vestido de princesa na festa de debutante. Para realizar a vontade da filha, a vendedora Marcele Silvério Moreira da Silva, de 38 anos, celebrou o dia no nascimento de Polyanna no último domingo em sua casa humilde no bairro de Piratininga, na Região Oceânica de Niterói. No entanto, na comemoração que teve direito a bolo cor de rosa e decoração, a mãe caiu em prantos. Desde 2 de abril de 2015, Marcele não sabe o paradeiro da filha.

A menina, então com 10 anos, saiu de casa para comprar uma caixa de fósforo e uma mariola e não foi mais vista. Um banner com duas fotos de Polyanna decorou o ambiente. Foi feita uma montagem como uma foto da menina quando ela desapareceu e uma outra fotografia confeccionada pelo Núcleo de Envelhecimento da Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA) da Polícia Civil. Uma imagem de como Polyanna estaria nos dias atuais.

— A minha filha sempre sonhou com a festa de 15 anos. Eu quis fazer uma homenagem e também mostrar para que ela que eu fiz. Quem sabe alguém veja e conte para ela. Tenho certeza de que a minha filha está viva. Sinto isso dentro do meu coração. Eu queria fazer a festa, mas não tinha dinheiro. Com a ajuda de amigos e parentes, consegui juntar R$ 300 para fazer a homenagem — conta Marcele, que tem outros três filhos.

A menina desapareceu ao fazer um trajeto de cerca de cem metros entre a sua casa e o comércio. Marcele relembra que tinha muitas crianças na rua, mas elas só viram Polyanna perto de casa:

— Ela foi sequestrada no meio do caminho. Eu acredito que a minha filha tenha sido levada por traficantes de crianças. Agora a minha luta é para que o caso da minha filha seja investigado pela DDPA e não pelo núcleo da Delegacia de Homicídios de Niterói. Quando fui lá fazer a foto da minha filha pelo envelhecimento digital, vi que eles têm mais experiência com os casos de desaparecimento.

Marcele vive com o marido e três filhos numa pequena casa às margens da Lagoa de Piratininga. Recentemente, ficou sabendo pelos médicos que os dois filhos menores — uma menina de 7 anos e um menino, de 4 — têm autismo e precisam de acompanhamento. O menor ainda não fala e ainda usa fraldas. Marcele agora busca especialistas para atenderem os filhos.

No domingo, após o tradicional “Parabéns pra Você”, Marcele leu uma mensagem para a Polyana que emocionou a todos. O vídeo, postado no perfil da mãe no Facebook, tem mais de 2 mil curtidas. “Nesse dia, 8 de dezembro, às 17h45 nascia você, minha bonequinha. Meu bebezinho pesava 2quilos e 675 gramas e media 45 centímetros. Chegava ao mundo a minha felicidade, a minha melhora amiga, a pessoa mais doce que pode existir, Um anjo que Deus em sua infinita generosidade mandou para a minha vida… Foram dez anos de muito amor, noites sem dormir e luta, muita luta. Até que aquele fatídico dias 2 de abril de 2015. Vi o meu mundo desabar. Minha felicidade foi roubada de mim. Meu coração arrancado do peito. Tudo ficou negro, a vida perdeu sentido”, diz um trecho da mensagem.

Marcele descarta qualquer possibilidade de sua filha estar morta. Após o desaparecimento, as buscas se estenderam por dias nas imediações da residência e do bairro. Segundo Marcele, mergulhadores vasculharam cada metro quadrado da Lagoa de Piratininga, mas nenhuma pista foi encontrada. Ao se referir à filha, Marcele fala algumas vezes no passado. Quando percebe, corrige rapidamente e passar a usar o presente:

— Meu sentimento é de impotência. Não sei mais o que fazer, mas tenho certeza que vou encontrar a minha filha viva ainda este ano.

Há três semanas, Marcele e outros familiares de desaparecidos participaram de um processo de progressão feito pelo Núcleo de Envelhecimento da DDPA — inclusive, foi a foto que ela usou na confecção do banner. A vendedora revela ter ficado muito emocionada e chegou a passar mal:

— Não suportei a emoção de ver como está o rosto de minha filha, aos 15 anos.

Em nota, a Polícia Civil informou que o caso continua sendo investigado pela Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo: “As investigações seguem na DHNSG para localizar a vítima. No momento não há novidades para divulgar sobre o caso”.

Via: Jornal Extra