Um levantamento exclusivo feito pela GloboNews mostrou que ao menos três funcionários contratados pela Superintendência de Desportos do Estado do Rio de Janeiro, a Suderj, recebem seus salários, mas não aparecem para trabalhar.
Essa é a realidade de Jocinei Santos da Costa, contratado como assessor; Alessandra Coutinho Cathoud Ventura, assistente da vice-presidência administrativa; e Abílio Henriques Quintal, assistente da divisão de manutenção.
Os três possuem cargos comissionados na Suderj e ganham mais de R$ 55 mil por ano. Outra coincidência entre os três é que todos moram em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, e possuem ligações com o deputado federal Felipe Bornier (Pros).
Desde o início do ano, Felipe é secretário estadual de Esportes do governo de Wilson Witzel (PSC). A Suderj é diretamente vinculada à secretaria de Bornier. Os três funcionários citados na reportagem só foram contratados depois que o deputado federal assumiu como secretário.
Bornier é um sobrenome conhecido na política do Rio de Janeiro. Felipe é filho de Nelson Bornier, que foi três vezes prefeito de Nova Iguaçu.
A Suderj é responsável pela administração de cinco centros esportivos no Rio de Janeiro, Como o Parque Aquático Júlio Delamare e o antigo Estádio de Atletismo Célio de Barros.
A sede do órgão funciona no 21º andar de um prédio no centro do Rio. O local fica a 40 quilômetros de distância de um endereço particular em Nova Iguaçu, onde Jocinei mostrava orgulhoso o certificado de auxiliar de propaganda e marketing.
Nova Iguaçu não conta com nenhum centro esportivo administrado pela Suderj.
Para Mauro de Mattos, especialista em administração pública, esses três exemplos são “casos clássicos de improbidade administrativa e peculato, que a pena vai de 2 a 8 anos, dependendo das condicionantes”.
“Os comissionados, os servidores públicos que não são efetivos, eles têm as mesmas obrigações que os efetivos. Eles respondem a um código de conduta que tem direitos e obrigações. Ele é obrigado a ser assíduo, inclusive o servidor que falta 30 dias continuamente, ele responde a um processo de abandono de cargo público”, explicou Mattos.
A Secretaria de Esportes informou, em nota, que os funcionários da Suderj citados na reportagem atuam “realizando trabalhos externos de acompanhamento de núcleos esportivos existentes em regiões do estado”.
Mas a GloboNews apurou que a Suderj não é a responsável por nenhum desses núcleos.
A Secretaria de Esportes, então, enviou uma segunda nota, cinco dias depois. Estão em andamento “um processo de ampliação dos núcleos esportivos” e “um estudo de viabilidade técnica para que a Suderj volte a administrar esses espaços”.
A nota diz que Jocinei Santos, Abílio Henriques Quintal e Alessandra Cathoud poderão se tornar membros da comissão de fiscalização desses núcleos esportivos.
De acordo com a Secretaria de Esportes, quando foram abordados pela GloboNews, esses três funcionários “estavam numa sala cedida, em Nova Iguaçu, para acompanhar um projeto social que existe no imóvel vizinho”.
A GloboNews pediu um contrato de cessão do espaço. Esse contrato não foi enviado.
A secretaria informou ainda que esses servidores “têm suas folhas de ponto assinadas, com carga horária de 40 horas semanais e exercem funções em horários de expediente adaptáveis”.
Mas a secretaria não enviou as folhas de ponto solicitadas pela GloboNews, nem nenhum documento para comprovar o trabalho dos funcionários.
Sobre as fichas de filiação partidária, o MDB informou que nenhum desses servidores têm qualquer relação com o partido, nem, inclusive, o secretário Felipe Bornier.
A nota do MDB diz ainda que o pai dele, Nelson Bornier, foi presidente do MDB de Nova Iguaçu até o ano passado.
Ele se desfiliou do partido no início de 2018 e disputou as últimas eleições pelo Pros.
E diz ainda que as fichas devem ter sobrado dessa época, já que ele não representa mais a legenda.
Via: G1