Jornal Povo

‘Perdi meu pai por negiglência do Estado’, diz filho de gari comunitário atendido na CER do Leblon

O gari comunitário Paulo Roberto de Sousa, de 53 anos, morreu na noite desta quarta-feira após atendimento na Coordenação de Emergência Regional do Leblon. A unidade é gerida pela Organização Social (OS) SPDM, mesma que coordena a gestão do hospital municipal Pedro II.

De acordo com o filho do gari comunitário, o motoboy Isaac de Sousa, que levou o pai a unidade de saúde, houve demora no atendimento a Paulo Roberto, que, segundo ele, começou a passar mal em casa com sintomas de infarto.

— Meu pai deu entrada no hospital por volta de 16h, ele faleceu 22h. Ele ficou mais de cinco horas lá esperando para nada. Perdi meu pai por negligência do Estado.

O motoboy conta que chegou ao hospital por volta das 16h, e que o pai só foi atendido porque ele chamou uma médica e explicou a situação. Depois disso, a médica solicitou um eletrocardiograma, que constatou o infarto.

— A gente saiu de casa e ele estava infartando, mas a gente não sabia que era um infarto. E chegando no hospital, foi a negligência. Ele não foi atendido de imediato.

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, Paulo Roberto passou pela classificação de risco às 17h21 e o exame foi realizado às 18h. O filho afirma ainda que chegou a procurar, antes, a emergência do Hospital Municipal Miguel Couto, mas que foi orientado a ir ao CER, porque a unidade só atendia pacientes de trauma “sangrando e ferido”.

Após o exame, Paulo Roberto foi levado à sala amarela, de emergência médica, e, de acordo com o filho, deveria esperar para saber se o quadro de saúde dele iria melhorar ou piorar.

— Ele ficou lá na maca sofrendo, sentindo dor e dizendo que não estava aguentando mais — Segundo ele, não houve atendimento prioritário ao pai.

— Ele foi jogado lá como se fosse só mais um que estivesse passando mal.

A Secretaria Municipal de Saúde afirma que outro eletrocardiograma foi realizado às 20h40 e que não houve alteração no quadro em relação ao exame anterior, mas o paciente piorou e faleceu pouco antes das 22h.

Um pai carinhoso, cuidadoso, e conselheiro e querido por todos. É assim que Paulo Roberto de Sousa é descrito pelo filho.

— Agora no momento de dor, a lembrança que eu tenho é do meu pai sofrendo no hospital. Fora isso, só restam as lembranças boas. Nossa convivência era muito boa. Perdi maior paizão.

Além de Isaac, de 25 anos, Paulo Roberto tinha um filho de 15 anos, e vivia com uma mulher no Vidigal, onde nasceu e foi criado. Ele morava com o filho mais novo, a mulher e dois filhos dela. Segundo o filho, Paulo Roberto trabalhou como gari comunitário “a vida dele toda praticamente” e gostava de conversar com os amigos e vizinhos na rua depois do expediente.

Isaac acredita que se houvesse atendimento prioritário ao pai dele, ele poderia ter voltado para casa:

— Se ele tivesse sido atendido certo, cedo ou tarde ele teria voltado para os braços da família dele, agora o que resta para a gente é só dor e saudade.

Via: Jornal Extra