Jornal Povo

Sem salário, funcionários da saúde do Hospital Pedro II recebem doações

Funcionários do Hospital Pedro II, em Santa Cruz, na Zona Oeste, receberam doação de alimentos nesta segunda-feira (16). Uma maca foi usada para carregar os donativos. A unidade é uma das que aderiram à greve, que já dura sete dias e voltou a restringir o atendimento.

Funcionária de serviços gerais do setor de limpeza, Luciene Maria Cardoso afirma ainda não ter recebido todos os atrasados.

“Moro de aluguel e tenho que pagar babá. Falei com algumas pessoas que vou trazer minha filha para trabalhar comigo, porque não estou conseguindo botar o sustento dentro de casa. Estou passando necessidade, sou sozinha. Está difícil, está difícil”, disse.

O Conselho Regional de Enfermagem (Coren-RJ) ajudou nas doações.

“A gente está recolhendo aqui materiais, fraldas para o Pedro II. Estamos doando fraldas geriátricas, leite em pó para os profissionais que estão sem alimento nas suas casas”, disse Glauber Amancio, do Coren.

No Pedro II, somente os casos mais graves estão sendo atendidos. Solange Porto de Castilho, de 55 anos, foi internada na manhã desta segunda-feira na Sala Vermelha do Pedro II. Ela chegou com isquemia cerebral. O marido, Sérgio Luiz de Castilho, contou que estava há três dias tentando atendimento para a mulher.

“Se atendessem ela antes, ela estaria em casa. A gente vem, vai e volta, vem, vai e volta. É isso aí. E eles aqui ainda fazem o impossível que é trabalhar sem salário, né? Ela está há três dias em casa, deitadinha lá, porque não tem médico, não tem nada”, lamentou o marido.

Realengo

No domingo (15), na porta do Hospital Albert Schweitzer, em Realengo, na Zona Oeste, Rita Célia da Costa implorava por um neurologista para filha, Kimberly, de 25 anos, que está internada desde sábado (14) na UTI do hospital.

“A minha filha sofreu um acidente, e ela está no CTI, mas não tem neurologista desde ontem (sábado). Ela está precisando de um neuro. Pelo amor de Deus, minha filha, minha única filha, minha filha precisa de um neuro! Crivella, pelo amor de Deus, minha filha, minha única filha, salva a minha filha”, apelou a mulher.

Nesta segunda-feira, no mesmo hospital, Kenderson de Souza, ficou 40 minutos esperando um funcionário. Ninguém apareceu.

“Passei a madrugada toda sentindo fortes dores no abdômen, uma dor insuportável, só choro a madrugada inteira. Quando eu vim aqui no Albert, não encontrei ninguém, nenhum médico, é uma demora insana para poder me atender”, reclamou o paciente.

Méier

O aposentado Benedito Carvalho Nascimento também teve que procurar outro hospital. Foi para o Salgado Filho, no Méier, na Zona Norte. Ele está com problemas na próstata.

“Minha mãe falou: ‘Vai andando nos hospitais até aparecer um filho de Deus para te ajudar, porque a gente não pode pagar’. Como é que a pessoa vai pagar R$ 1.000 numa consulta? Eu fui ali na clínica e ele falou que é R$ 1.000. Como é que eu vou pagar R$ 1.000 se o que eu ganho nem a R$ 990? Eu não aguento de tanta dor. Sofrimento”, chorou o aposentado.

Ilha

No Hospital Evandro Freire, na Ilha do Governador, funcionários protestaram mais uma vez. Eles dizem que só receberam 65% do salário de outubro e novembro, mas nem sinal do décimo terceiro. Na unidade, o atendimento está restrito à emergência.

Edson Leitos dos Santos, técnico de enfermagem da sala vermelha, começou a vender bala em ônibus para conseguir dinheiro.

“Vendi amendoim na Lagoa, no Centro. Porque quem tem fome, tem pressa. Quem está salvando vida, precisa ser salvo nesse momento”, contou o técnico de enfermagem.

A Secretaria Municipal de Saúde afirma que as unidades de urgência e emergência estão abertas acolhendo pacientes de acordo com a classificação de risco.

Sobre o caso da Kimberly, que aguarda atendimento de um neurologista, a direção do Hospital Albert Schweitzer disse que ela foi avaliada duas vezes por um neurocirugião e que não há indicação de cirurgia. Caso haja necessidade, ela será transferida para o Hospital Souza Aguiar, no Centro.

Kimberly está internada no CTI em estado grave. Já o Kenderson, que não conseguiu atendimento no Hospital Albert Schweitzer, foi para o Hospital Rocha Faria, em Campo Grande, na Zona Oeste, e lá foi diagnosticado com cálculo renal.

Via: G1