Jornal Povo

Projeto de passistas plus size promove inclusão no carnaval do Rio

“O samba pede passagem e não o manequim de ninguém.” Com esse lema, o projeto Plus no Samba RJ tenta desconstruir a imagem da mulher padrão sambando no carnaval. Através de sua idealizadora, Nilma Duarte, o coletivo de empoderamento vem ganhando espaço e, desde 2017, já conseguiu reunir mais de 80 mulheres.

“Quando eu comecei, não tinha noção de como mudaria a vida das pessoas. A ideia não era só de colocar gordas para sambar. Mas sim de livrar mulheres que sofrem preconceito e são fragilizadas. Comecei batendo de porta em porta e perguntando para as escolas onde estavam as gordas. E sempre me diziam que elas estavam presentes. Só que, na verdade, elas estavam escondidas, no meio das baianas, em uma ala. Mas nunca em evidência”, relembra Nilma.

Para Nilma, o objetivo vai muito além de fazer com que as mulheres com manequim acima do 44 tenham um lugar cativo no carnaval do Rio. A meta é resgatar a autoestima de todas elas.

“Consigo fazer com que essas mulheres se sintam representadas. E não é um objetivo só para o carnaval. Quero que elas estejam bem. Independente de quando estão em grupo ou se estão sozinhas. Que elas consigam despertar olhares. Ainda existe resistência por parte das pessoas de um modo geral, mas quando há aceitação, é maravilhoso”, pondera.

Mesmo com o carnaval enraizado em sua família e já veterana do samba, a cabeleireira Karin Rodrigues, de 47 anos, sentia insegurança em desfilar.

“Comecei a desfilar aos 8 anos com a minha vó e dentro de uma escola de samba eu passei por vários setores: fui porta-bandeira, comissão de frente, ala e, aos 46 anos, fui a primeira rainha de bateria plus size. Mas a sociedade sempre impôs padrão de beleza. E sempre fiquei muito receosa e retraída em desfilar com figurino de samba”, conta Karin.

Já para a diarista Raquel Gabriel, de 38 anos, o projeto é uma oportunidade de poder se amar verdadeiramente.

“Sempre quis sambar, me exibir para as pessoas dançando. Só que tinha vergonha do meu corpo. Não queria ter o julgamento das pessoas ao verem uma mulher gorda sambando. Mas, ao mesmo tempo, quis mostrar para elas que a gente pode ser e deve ser o que quer. Você tem que se olhar no espelho e ver que você está bem. O padrão é a gente que faz, o de cada um. E não o próximo que faz.”

Mesmo com forte adesão e presença no mundo do samba, a idealizador do Plus no Samba RJ admite que ainda falta muito caminho a percorrer.

“As escolas admiram muito o nosso trabalho, mas ainda não chegou em um patamar que deveria estar. Algumas escolas nos procuram, nos convidam para desfilar. Mas, ainda está longe de ser inclusivo como deveria. O meu desejo é que todas as escolas percebam que a mulher grandona está em todos os lugares e que elas não têm vergonha de mostrar como são”, finaliza Nilma.

Via: G1