Yago Pikachu havia dito, na sexta-feira, que o Vasco de Abel Braga, na comparação com o futebol apresentado em 2019, iria tentar propor mais o jogo. O Bangu, rival da estreia no Carioca, domingo, fez o que normalmente os times de menor expressão fazem ao enfrentar rivais mais poderosos: recuou, abdicou da posse de bola e esperou as condições para explorar os contragolpes. A ideia e a prática convergiram, porém, um velho problema se manteve em São Januário: a falta de criatividade.
O empate sem gols, porém, tem um contexto que não pode ser esquecido: foi o primeiro jogo da temporada, após nove dias de treinos, com um time e grupo reformulados (foram muitas saídas e apenas uma contratação). Abel ainda conhece os jogadores, descobre como melhor fazê-los render. Mas para colocar em prática o que deseja terá de superar a dificuldade recorrente. Como superar as defesas?
Com Vanderlei Luxemburgo, o Vasco se sentia mais confortável em fazer o que o Bangu fez no domingo. Dava a bola ao rival e buscava o gol na base do contra-ataque – nem sempre foi assim, a julgar pelas boas atuações no 4 a 4 com o Flamengo e na vitória por 2 a 0 sobre o São Paulo pelo Brasileirão. No domingo, o Vasco sofreu como sofreu em empates em casa com Avaí, CSA e Chapecoense. Até porque a escolha de Abel por Gabriel Pec não funcionou.
O Vasco atuou, na maior parte do tempo, em um 4-4-2, com Talles vindo de trás, Pec aberto pela direita e Marrony e Cano centralizados na frente. Faltou articulação no meio tanto que o volante Bruno Gomes – de ótima atuação – foi quem acabou por tentar armar a equipe.
– Sentimos um pouco algum tipo de situação no posicionamento. Às vezes, não é questão de quatro atacantes. Pec é um meia, mas ele ficou um pouco entregue à marcação. Quando se tem a bola, com o futebol intenso de hoje, tem de tentar jogar entre as linhas e especialmente nas costas dos volantes. Fizemos isso nos treinos, mas não repetimos no jogo. Nós passávamos a linha dos volantes para receber a bola. Eles, então, estavam sempre bem posicionados. Não foi a dinâmica que queremos e pretendemos. O legal é ter convicção que pode e vai melhorar muito – disse Abel.
Como a posição de meia é uma das carências do elenco, uma alternativa é compensar a falta de um jogador capaz de criar com troca de passes rápida, velocidade pelos lados, ultrapassagens e um time muito compacto para evitar perder a bola. O Vasco pouco fez isso. Ficou foi com a bola (60% de posse) e finalizou sete vezes ao gol (outras nove para fora), pouco para tamanho volume.
No segundo tempo, período no qual melhor atuou, uma jogada apareceu: Cano, um centroavante que se movimenta, recebeu a bola e abriu a jogada com passe em diagonal a Pikachu. Até porque os laterais avançaram. O argentino, aliás, não se furta em tentar o gol. Ele acertou duas conclusões, mas precisa ser mais acionado. E, de preferência, em jogas trabalhadas e não em cruzamentos para área pelo alto.
– Acredito que, aos poucos, a gente vai conhecendo a forma como o treinador gosta de trabalhar. No segundo tempo, conseguimos ter um volume maior de jogo e caprichamos no segundo passe para deixar o companheiro na cara do gol. Só que a gente chegou pouco. Os laterais estão tendo mais amplitude, estão jogando abertos. Em certos momentos, a gente não pode perder a bola no meio porque vai estar só com dois zagueiros e um volante na cobertura. Se for ver as oportunidades, foram através dos laterais, dos cruzamentos. É isso que ele pede. Aos poucos estamos pegando o estilo de jogo que ele quer implantar na nossa equipe – completou Pikachu.
Na defesa, o Vasco não correu riscos. O Bangu chutou duas bolas de fora da área e teve uma única chance: Juliano cabeceou para fora.
Abel adiantou que, na quarta-feira, contra o Flamengo irá poupar titulares. Terá mais tempo para treinar e aperfeiçoar o time. No sábado, o adversário é o Boavista.
Via: Globo Esporte