Jornal Povo

Entrevista com Mãe Ana de Xangô: Atual Ialorixá do terreiro mais famoso do Brasil

O Jornal Povo conseguiu obter uma entrevista exclusiva com a sucessora da saudosa Mãe Stella de Oxóssi, e a escolhida pelo Orixá patrono da casa Xangô foi sua filha dignitária do cargo Mãe Ana de Xangô. Ana Verônica Bispo dos Santos, Ana de Xangô, 53 anos, professora de formação acadêmica e pedagoga agora está à frente de uma das maiores instituições de religião de matriz africana o Ilê Axé Opó Afonjá de Salvador Bahia, casa de santo mais famosa do Brasil com vários prêmios e reconhecida pela UNESCO.

Após algumas semanas de negociação com o presidente do Corpo Civil da instituição, Dr José Ribamar, que se mostrou solícito na execução de nossa entrevista, conseguimos falar com Mãe Ana que gentilmente nos atendeu via telefone e com muita simplicidade falou sobre religiosidade, educação, cultura, respeito as tradições,  como será sua gestão, e  principalmente o respeito ao seu Orixá e patrono da casa Xangô.

Vida longa na sua gestão Mãe Ana de Xangô.

1)            Mãe Ana, antes do anúncio a senhora pensava em seguir o sacerdócio com mãe de santo? 

Para mim ser uma mulher negra de uma religião de matriz africana já era satisfatório, então minha caminhada no terreiro Ilê Axé Opô Afonjá como é bom já me satisfazia.

 

2)         Mãe ana , a senhora antecede uma enfermeira de formação e anterior uma professora de piano que falava outras línguas,  como a senhora vê suceder essas senhoras?

Vejo como uma grande responsabilidade pelo seguinte fato suceder a Mãe Stella, que era enfermeira, e suceder a Mãe Mãezinha, que tocava piano. Isso me dá mais força, mais perseverança e investir em me aperfeiçoar nas minhas propostas, não só religiosa, tal quanto de estudos.

 

3)         A figura de mãe Stella foi se construindo com o tempo e trouxe muitas coisas boas para axé como projetos culturais ajudas institucionais. Como a senhora pretende, junto com os Obas trazer e manter tais investimentos?

 

Dar continuidade com seriedade e responsabilidade perseverança no legado que Mãe Stella plantou aqui no Ilê Axé Opô Afonjá assim como outras matriarcas, que aqui passaram investimentos projetos sociais e culturais .

4) Os ensinamentos do candomblé são feitos pela oralidade, como senhora analisa essa transmissão nos dias de hoje, e principalmente a transmissão desse conhecimento no terreiro de São Gonçalo?

Juntamente com o corpo de Ogans e Obás e todo o Egbé do Axé Opo Afonjá. O conhecimento será passado no dia a dia, no cotidiano do terreiro através das atividades internas.

5)         Nós sabemos que a religião de matriz africana é feita de dogmas pautada no respeito aos mais velhos, onde o processo andrológico é latente. A senhora pretende utilizar outros métodos pedagógicos para cada vez mais melhorar esta relação entre os mais novos e mais velhos?

Hierarquia é fundamental na religião principalmente quando se fala matriz africana. Toda a comunidade religiosa ou cívica existe uma hierarquia e o respeito aos mais velhos é primordial. E isso será dado seguimento, gradativamente é uma afirmação no sentido de conduzir as tradições.

6)         Afonjá de São Gonçalo BA, é casa mãe. Como a senhora pretende estabelecer a relação com o Afonjá de Coelha da Rocha e o Afonjá de Éden São João de Meriti RJ,  hoje dirigido por Mãe Celia Pimentel sobrinha de Mãezinha?

O respeito mútuo é importantíssimo qualquer seja a comunidade, e a relação será solida de integridade de respeito e amizade do legado de ambas as casas.

7)         Cada Yalorixá tem seus cargos para sua gestão. Como é feita essa escolha? Vendo por uma ótica organizacional que está implícito na sua formação como pedagoga isso ajuda ou atrapalha na composição desses cargos?

O legado das obras da casa, é fundamental para a gente assim como a organização. Então. Essa formação. Tanto educar e organizar é o que são elos inseparáveis. Para si. Para que a gestão. Possa adquirir. Não só o conhecimento mais comum a priori o equilíbrio de como conduzir todo desenvolvimento dentro do terreiro.

8) A Mãe Ana continuará lecionando. A senhora já pensou como será sua atuação com seu alunado, que agora estará sabendo da sua posição a frente do maior terreiro do Brasil?

Sobre continuar a lecionar, esse é o meu desejo. A atuação com o meu aluno, eles devem já estar cientes sobre isso, porque hoje esse assunto, é mundialmente comentado, fora também do Brasil ,está sendo falado sobre a nova Iyalorixá do Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, Se eu irei permanecerei, ou não lecionando por um bom tempo ou menos, quem determinará isso está na mão de Xangô se ele conduziu a minha vida desta forma porque ele sabe o que está fazendo algo de bom acontecerá. Eu ressalto quem determinará isso a partir do momento da decisão dele. Eu estou aqui para cumprir as determinações, porém determinada por Xangô, e os orixás com comando de Olorum.

9)         O Rio de janeiro sofre muitos ataques de intolerância religiosa. A senhora já refletiu sobre essa questão e o que educacionalmente a senhora pode ajudar?

Comentei com amigos próximos e dialogando conversando em pautas assuntos relacionados ao nosso cotidiano. Uma relação é sólida base da integridade respeito à amizade. Respeito mútuo é importantíssimo em qualquer que seja a comunidade.

10)       Mãe Ana, ficou marcado em fotos na imprensa o seu sorriso amistoso e fraterno. O que a Ana de sorriso fraterno faz para se divertir? E como é sua vida em casa família?

Sobre família graças a Deus, uma vida sólida de união de paisTemos reuniões, familiares com toda a família.

Mãe Ana de Xangô Yalorixa do Ilê Opo Afonjá Salvador BA

Por Mingos Lobo

Agradecimentos ao Presidente do corpo de Obas da sociedade Cruz Santa Ilê Axé Ópo Afonjá Dr José Ribamar Daniel .

Foto fonte internet:  Betto Jr / Correio da Bahia