Jornal Povo

Irmão de pedreiro morto na Vila Cruzeiro critica ação da PM: ‘Todo dia uma família chora’

Irmão de Samuel Meneses da Conceição, de 47 anos, morto na manhã desta quarta-feira durante uma operação da Polícia Militar na Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio, o eletricista Júlio César Menezes da Conceição, de 50, criticou a ação da Polícia Militar na comunidade. Segundo ele, a família entrará com uma ação contra o governo estadual. Moradores da Vila Cruzeiro apontaram PMs como autores do disparo que atingiu Samuel.

— Só queremos que ele (o governador Wilson Witzel) tome providência (e evite) que mais famílias chorem. (Vivemos um) desespero. Todo dia uma família chora — disse Júlio César, nesta quinta, quando cuidava da liberação do corpo do irmão no Instituto Médico Legal (IML).

Parentes afirmam que ainda não foram procurados por nenhuma autoridade. Samuel estava a caminho do trabalhado quando foi atingido por um disparo e já chegou morto ao Hospital estadual Getúlio Vargas, na Penha.

— Até o momento, ninguém nos procurou. Nem a Polícia Militar, nem a Polícia Civil, nem qualquer assistente social. O que sabemos são as mesmas informações que tínhamos ontem. Meu irmão foi baleado a caminho do trabalho — disse Robson Rodrigues, outro irmão de Samuel.

A Comissão de Direitos Humanos da Alerj está acompanhado o caso. A deputada estadual Renata Souza (PSOL) atenderá parentes de Samuel nas próximas horas. O objetivo é ajudar com atendimento psicológico e auxiliar no atendimento junto à Defensoria Pública.

— Vamos correr atrás dos nossos direitos para a família dele não fique desamparada — afirmou Júlio César.

Nesta quarta, após receber a notícia do que havia acontecido com Samuel, Robson cobrou uma investigação sobre o caso.

— A gente quer saber de onde o tiro partiu. Apesar de saber que isso não vai acontecer porque o nosso governo só fica em palavras. Minha cunhada vai ficar sozinha com quatro filhos e quem vai ajudar? Vai caber à família se juntar para isso. Eu não posso esperar isso do governador, do presidente ou do meu prefeito — desabafou.

Também nesta quarta, o porta-voz da Polícia Militar, coronel Mauro Fliess, lamentou a morte de Samuel e informou que o episódio será investigado.

— Nós tomamos conhecimento desse triste episódio. Houve disparo de marginais antes da nossa chegada. A nossa operação era na Vila Cruzeiro, mas ele foi ferido no Parque Proletário. Uma investigação será feita pela Polícia Civil e um inquérito será aberto na Corregedoria da Polícia Militar — disse.

Pedido de enterro gratuito

Após o corpo de Samuel ser liberado, a família irá ao Tribunal de Justiça solicitar gratuidade para o sepultamento. O enterro de Samuel deve acontecer nesta sexta-feira.

— O nosso sentimento é que o Samuel não será o primeiro e nem o último. O governador tem que saber que hoje é a nossa família e amanhã será a de outra pessoa. No ano passado, a cada três mortes, uma foi causada pela polícia. Qual é a solução do governador para resolver essa situação? Quantas vítimas terão que passar por isso para algo será feito? — desabafou Rayanne Soares, prima do pedreiro.

Após o desabafo da família, sobre o abandono do governo, a Secretária de Vitimização disse que “o superintendente de vitimados civis está indo ao encontro da familia no IML acompanhado da assistente social da pasta”. A secretaria não comentou as críticas dos familiares.

Pedreiro deixou quatro filhos

O pedreiro era presbítero da Igreja Evangélica Assembleia de Deus Ministério Transformando Vidas e frequentava o templo de Olaria, também na Zona Norte. Samuel dixa mulher e quatro filhos, dois deles ainda crianças, de dez e cinco anos de idade. Ele foi descrito como uma pessoa “exemplar” pelos familiares.

— Samuel era gente finíssima, nota dez, amigo e pai. Não tenho nem palavras para descrevê-lo. Era muito humilde e sempre ajudou todo mundo, nunca virou as costas para nenhum dos irmãos. Ele era a pessoa que apaziguava todo mundo quando surgiu algum problema na família — disse Robson.

Via: Jornal Extra