Jornal Povo

Pedro Alves festeja repercussão de Guga em ‘Malhação’ e abre o jogo sobre sua orientação sexual

Não é tarefa fácil estrear em novelas com um personagem de tamanha relevância e alvo de preconceito, como o Guga de Malhação – Toda Forma de Amar. Aos 26 anos, seu intérprete Pedro Alves tomou para si essa responsabilidade e virou um dos destaques desta temporada por defender, com garra, o jovem que luta, dentro e fora de casa, por respeito e direito de ser quem é.

Na trama, ao se revelar gay, ele enfrenta a pior das rejeições: a do próprio pai. Max (Roberto Bomtempo) não aceita o namoro do filho com Serginho (João Pedro Oliveira) e até tentou convencê-lo a passar por um tratamento para deixar de ser homossexual. Fora dos estúdios, o artista se mantém fiel ao discurso de Guga e também vive seus amores como bem entende: gosta de meninos e de meninas.

“É muito bom ser quem sou, sem me esconder. Me sinto livre! Não devo nada”, diz Pedro, categórico.

Longe do sofrimento que o personagem enfrenta na história, o ator tem uma família que o acolhe e apoia, independentemente de sua orientação sexual. Tanto que o assunto nunca foi motivo para uma conversa cara a cara com seus pais. Fluiu naturalmente.

“É engraçado porque nunca parei para dizer com quem eu namorava. Mas o dia em que foi uma pessoa do mesmo sexo, eu simplesmente contei que estava namorando e que queria apresentá-lo. Não perguntaram nada e agiram com naturalidade. Meus pais nunca se opuseram. Tive muita sorte e gostaria que todos tivessem a mesma realidade”, conta o ator.

Diferentemente de alguns colegas de profissão, que preferem não falar abertamente sobre suas vidas íntimas, Pedro não se deixou intimidar. Não é uma questão para ele expor sua bissexualidade. Mais do que isso, usa a seu favor o fato de ter sua voz ouvida por tanta gente.

“Tem mais é que falar sobre, é um ato social do qual me orgulho. As pessoas são curiosas e não têm problema nisso. Sempre fui muito respeitado e preciso falar para que outros também sejam.”

Só que nem sempre foi assim. Também já bateu insegurança e ele até cogitou se resguardar:

“Já pensei assim há anos. Mas entendi que eu precisava ser sincero comigo e com os outros. Sabia que meu posicionamento poderia ajudar outras pessoas e, pra mim, ser artista é isso. Não é só entreter. É informar, debater, levar a reflexão. Tomei coragem e fui!”.

O retorno do público, ele diz, “não poderia ser melhor”: “Não imaginava que, em um momento social de tanto ódio, as pessoas fossem torcer por ele. Impressionante como se solidarizam com o drama familiar do Guga. Devo a elas todo meu carinho e amo receber os abraços calorosos nas ruas”.

Por conta da trama, Pedro já sentiu na pele o preconceito: “Mas nunca na minha página pessoal. Já vi muito ódio em outras redes. Eu relevo. Quem se dá ao trabalho de destilar o ódio é amargurado e infeliz. Torço para que mude e encontre paz.”

“Acho que todos nós já sofremos preconceito por algo. Antigamente, eu era muito tímido, não tinha coragem de falar nada. A insegurança me fazia receber aquilo com passividade, se aproveitavam da minha ingenuidade. Hoje, não fico calado. Se me deparar com qualquer ato preconceituoso na rua, mesmo que não seja comigo, meto minha colher. Precisamos uns dos outros e estou disposto a ajudar.”

Um personagem como o Guga significa representatividade: “Precisamos falar do tema com carinho e dar vida aos Gugas espalhados pelo Brasil. Eles precisam se ver na tela. Falar sobre isso é mudar as estatísticas sobre homofobia. É espalhar amor e compreensão entre as famílias”.

Serginho é um amor da ficção que atraiu uma legião de fãs. Fora de cena, Pedro deixa seu status de relacionamento no ar.

“Estou sempre namorando meu trabalho e apaixonadíssimo”, disfarça o rapaz, que “nunca ficou com fã” e tem recebido as mais variadas cantadas na internet.

“Pessoalmente, não acontece. Não senti diferença. Percebo pelas redes sociais e muitas delas me fazem rir, porque o povo é muito criativo. Se fosse cara a cara eu, iria morrer de vergonha (risos).”

Com Guga, Pedro já disse a que veio na dramaturgia. Não à toa, largou tudo na Bélgica, onde morou dos 8 aos 19 anos, para investir na carreira artística. Para além do talento, tem estudo. Aos 12, cursou teatro na Academia de Artes do Governo e foi alfabetizado em francês. Aqui, fez CAL (Casa das Artes de Laranjeiras).

“Quis algo novo e desafiador. Foi quando decidi que não faria faculdade em Paris, como previsto, e voltaria ao Brasil”, diz o ator, que fala fluentemente francês e português, se vira bem em inglês e em holandês.

“Saudade faz parte da minha vida desde pequeno. Morava na Bélgica e sentia falta dos familiares que estavam aqui. Agora que voltei, sinto falta de quem está lá. É preciso se acostumar. É um aperto no peito que permanece e que preciso saber lidar.”

No Rio de Janeiro, vive sozinho e se dá muito bem com sua independência: “Amo ter minha liberdade e ser dono de casa. Sempre fui o mais responsável dos meus irmãos. Não significa que seja melhor, é só um dom. Aprendi a cozinhar quando criança e tenho mania de casa arrumada. Quer me deixar feliz? Diz que minha comida está boa.”

Sua grande família, de oito irmãos, é motivo de orgulho: “É sempre uma confusão explicar isso (risos). Somos nove, mas só tenho dois irmãos por parte de pai e mãe. Isso não importa para gente, porque não vemos diferença, somos muito unidos. Adoro estar com eles. Sou o do meio, posso aconselhar os mais novos e pedir conselho aos mais velhos. É o máximo ter tantos irmãos que torcem por você e te defendem. É uma farra quando estamos reunidos”.

Via: GShow