Jornal Povo

Crianças mortas em incêndio são enterradas na mesma cova em Paraty

Cerca de 150 parentes e amigos da família acompanharam o velório das três crianças que morreram durante um incêndio em um casarão de Paraty, Costa Verde do Rio, na manhã da última sexta-feira. A cerimônia ocorreu no Necrotério Municipal, que fica a cerca de 400 metros do cemitério, onde foram feitos os sepultamentos, às 10h50. O pai das crianças, ex-marido de Dara de Almeida Santos de Souza, estava bastante abalado. A mãe das vítimas está internada no Hospital Praia Brava, em Angra dos Reis, e ainda não sabe da morte dos filhos.

— Eles estiveram na noite de Natal juntos com nossa família. Não percebemos nada de estranho, e a Dara também nunca falou nada sobre a relação deles, que era muito recente. Ficamos surpresos de início ao saber que ele é o autor desse incêndio — diz um parente que não quis se identificar.

Durante os enterros, ninguém quis gravar entrevista. A bisavó das crianças, avó de Dara, passou mal e precisou ser atendida por médicos dentro de uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Outra parente, não identificada, foi amparada após uma queda de pressão. As crianças foram enterradas na mesma cova.

Segundo a família de Dara, no momento em que os parentes chegaram no local do incêndio, enquanto os três corpos ainda estavam dentro do casarão, o autor do crime, identificado apenas como Fernando, “mostrava-se abalado e chorava bastante, abraçando todas as pessoas que estavam no local”. Mas após os relatos de vizinhos de que o casal tinha brigas constantes, a família começou a desconfiar de Fernando Evangelista, de 36 anos.

— As crianças iam para a casa de vizinhos e parentes e depois não queriam voltar para a própria casa — completa o parente, corroborando a informação da polícia de que os menores tinham medo do padrasto, que, por sua vez, confirmou as agressões físicas constantes cometidas contra eles.

A Polícia Civil prendeu Fernando após ouvir os depoimentos de testemunhas e as contradições em falas do homem à policia. De acordo com o delegado Marcelo Russo, titular da 167ª DP (Paraty), esse crime foi motivado por ciúmes. Os irmãos Marya Alice de Almeida Santos da Conceição, de 4 anos, Cauã de Almeida Santos da Conceição, de 5, e Marya Clara de Almeida Santos, de 7, morreram durante o incêndio.

— Nós ouvimos o depoimento de sete testemunhas, incluindo a avó e a babá das crianças. O acusado havia criado a história de que um dos filhos seria o autor do fogo nos colchões do quarto, por ele ser muito levado. Ele planejava se livrar das crianças, que já demonstravam grande temor do padrasto, para viver só com a mulher. Mas contradições no depoimento devendaram a autoria desse crime — explica o delegado.

O laudo técnico pericial realizado na casa apontou ação humana como causa. Ele vai responder por três homicídios qualificados pelo emprego de fogo e agravados pelo fato das vítimas terem menos de 14 anos; tentativa de feminicidio contra a mãe das crianças, hospitalizada, com dolo eventual; e pelo crime de incêndio em local habitado — penas que somam mais de 100 anos.

O autor do crime é de São Paulo e está há sete meses em Paraty. O relacionamento com Dara tinha apenas três meses. Nesta sexta-feira, dia do incêndio, o homem saiu de casa e seguiu até um bar próximo, onde comprou isqueiro e um maço de cigarro. Na volta para casa, por volta das 6h30, ele deixou a mulher no banheiro e incendeou o colchão de casal na porta de casa, como forma de bloquear a saída. Depois, ele saiu para o trabalho, numa padaria do bairro.

Via: Jornal Extra