Jornal Povo

Com enredo sobre a vida de Cristo, carnavalesco da Mangueira enfrenta resistência de religiosos

Antes mesmo de a Mangueira entrar na Sapucaí, o carnavalesco Leandro Vieira vive um calvário com críticas a respeito da apresentação deste ano. A escola vai fazer uma releitura da vida de Cristo com o enredo “A verdade vos fará livre”.

No desfile, Leandro vai mostrar um Jesus diferente, o Jesus da Gente: negro, filho de pai desempregado e mãe humilde e que vai nascer e crescer no Morro da Mangueira.

Este Jesus, segundo o carnavalesco, como na Bíblia, apesar das dificuldades, prega palavras de amor, de tolerância, de respeito às diferenças e contra o preconceito.

O carnavalesco viu o tom das críticas subir principalmente depois do ataque à produtora Porta dos Fundos, que produziu um especial de Natal, no qual insinua que Jesus teve uma experiência homossexual.

O Instituto Plínio Corrêa de Oliveira, uma associação católica de São Paulo, criou um abaixo-assinado virtual que já soma mais de 90 mil assinaturas contra o samba-enredo da Mangueira, que chama de blasfêmia.

“Na mesma proporção que tem gente que critica, tem gente que acolhe o enredo. Críticas e elogios fazem parte da vida de um artista, fazem parte do exercício de colocar uma obra à disposição do público”, disse o carnavalesco.

O acirramento das críticas à Mangueira tem deixado, inclusive, outras escolas de samba em alerta com relação à segurança contra alguma retaliação.

Como publicado nesta quarta-feira (29) no blog do Ancelmo Góis, no jornal O Globo, a Arquidiocese do Rio de Janeiro enviou no dia 23 de janeiro uma carta ao presidente da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), Jorge Castanheira, demonstrando preocupação com a maneira como questões religiosas serão abordadas na Avenida.

Na carta, assinada por Claudine Milione Dutra, coordenadora jurídica da Mitra Arquidiocesana do RJ — e subscrita por outras 17 instituições de diferentes crenças – diz não se tratar de censura, mas cautela para que não haja ofensas e desrespeito nos desfiles.

Leandro diz que não inventou nada na história. Ao contrário, para criar o enredo, além de ler a Bíblia, ouviu padres, pastores e teólogos e fez uma vasta pesquisa sobre o tema. Ele diz que as fantasias e alegorias têm objetivo de chamar a atenção para crimes de ódio e intolerância.

“Meu carnaval é crítico, não é neutro. Alguns tabus serão colocados”, disse Leandro.

Articuladora do grupo Católicas pelo Direito de Decidir, em São Paulo, Tábata Tesser fez questão de visitar o barracão com um grupo de católicas do Rio. Ela conta que ficou emocionada com as fantasias e alegorias e que está organizando um grupo de católicos para ver o desfile na Sapucaí.

“A Mangueira vai propor uma reflexão sobre a realidade brasileira e os ensinamentos cristãos. Não há ofensas ou desrespeito”, assegurou Tábata.

“Grupos que pregam o obscurantismo, o conservadorismo radical, vão ver blasfêmia no desfile. Os verdadeiros cristãos vão perceber que o samba é um hino que poderia ser cantado nas igrejas pelos grupos jovens”, emendou.

“A Mangueira está resgatando os valores do humanismo e contando a história de Jesus, esse homem que pode assumir outras formas. E que esse mundo tão intolerante precisa conhecer”, disse Tábata.

O pastor Henrique Vieira, da Igreja Batista do Caminho, que conheceu o projeto da Mangueira pela internet, também fez questão de visitar o barracão. E acabou convidado por Leandro para desfilar como uma das representações de Jesus.

“As fantasias e alegorias não ofendem ninguém. Ao contrário, provocam a reflexão que é necessária para que a gente avalie se está seguindo os ensinamentos cristãos. O que o enredo denuncia, o ódio, o preconceito, a intolerância, isso sim deveria ofender os cristãos. Jesus andou com pessoas humildes e desprezadas, discriminadas. Isso não ofende, mas chacoalha a consciência das pessoas ”, disse Vieira.

O carnavalesco disse que, no início dos trabalhos no barracão, a Mangueira foi visitada por representantes da Arquidiocese do Rio. Segundo Leandro, eles não fizeram qualquer pedido a respeito do enredo ou do desfile.

Procurada pelo G1, a assessoria da Arquidiocese do Rio disse que, por se tratar de uma carta particular endereçada a uma pessoa específica, não iria divulgá-la. E que também não comentaria o tema.

A Liesa também informou que não vai se manifestar sobre o assunto.

Via: G1

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