Jornal Povo

Titular da delegacia da Barra entrega o cargo após operação contra milícia no Rio

Um dia depois da prisão do seu chefe de investigação, a delegada titular da 16ª DP (Barra da Tijuca), Adriana Belém, entregou o cargo nesta sexta-feira (31). Segundo a Polícia Civil, “a decisão foi tomada para garantir a lisura das investigações conduzidas na unidade distrital”.

Jorge Luiz Camilo Alves foi detido na operação Intocáveis II, que prendeu 33 pessoas por indícios de ligação com a milícia de Rio das Pedras, na Zona Oeste do Rio.

Alves é citado como um dos três policiais civis envolvidos com o grupo. Seis policiais militares também são suspeitos de envolvimento. Alves trabalharia realizando “o recolhimento e repasse de valores espúrios para outros agentes, de modo a garantir a impunidade das ações” da milícia.

Em entrevista ao CBN Rio, a delegada confirmou que a saída está ligada à prisão de Camilo. Ela afirmou ainda que não pode ser responsabilizada por nenhum outro ato que não tenha sido dela.

“Na medida em que houve esse lamentável episódio, eu acho que é razoável, para garantir a lisura e a isenção das investigações que ali estão em andamento, eu preferi entregar a titularidade da delegacia para que as investigações sejam conduzidas da forma mais séria possível. Foi um fato que me pegou também de surpresa, que outro delegado vá para lá e toque as investigações com a lisura e o comprometimento que eu sempre tive”, disse ela na entrevista.

Giniton Lages assume a 16ª DP

A entrega do cargo foi aceita pelo secretário de Polícia Civil Marcus Vinícius Braga. Segundo Marcus Vinícius, o delegado Giniton Lages, que foi titular da Delegacia de Homicídios, será o novo titular da 16ª DP.

A informação foi publicada no Boletim Interno da corporação nesta sexta e a posse deve acontecer na próxima segunda-feira (3).

Ainda segundo o secretário de Polícia Civil Marcus Vinícius Braga, ainda não foi decidido para qual delegacia Adriana Belém irá.

Giniton Lages foi um dos responsáveis pela investigação do caso Marielle, que resultou em duas prisões dos suspeitos do crime e na apreensão de 117 fuzis.

Conversas telefônicas

Conversas entre Ronnie Lessa, acusado de matar Marielle Franco, e Alves foram usadas nas investigações.

“Quando Ronnie Lessa foi preso, alguns celulares foram apreendidos, houve análise do conteúdo e lá se verificam várias mensagens entre Ronnie e Camilo, além de intermediações com outros agentes. As investigações prosseguem”, afirmou a coordenadora do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), Simone Sibilio, na sexta-feira.

O MP destacou que houve uma “intensa sequência de diálogos” entre Ronnie e o policial civil Jorge Luiz Camillo Alves. “Ronnie Lessa, em vários trechos dos diálogos, se refere a ele como o ‘Amigo da 16’, numa referência à delegacia onde o mesmo está lotado”, disse o MP.

A coordenadora do Gaeco disse também que um dos presos na operação Intocáveis, Manoel Baptista, aparece em mensagens, antes de ser transferido para um presídio fora do Rio de Janeiro, conversando com policiais sobre a atuação da milícia em Rio das Pedras e Muzema.

“Eles se falavam entre si. E alguns, mesmo dentro do sistema, continuavam a mostrar essa capilaridade”, explicou Simone Sibilio.

O corregedor da Polícia Civil do Rio, Glaudiston Lessa, afirmou na sexta-feira não haver, até o momento, indícios da participação da delegada titular Adriana Belém no esquema pelo qual Jorge Camilo Luiz Alves, seu chefe de investigação, foi denunciado.

A operação realizada na sexta envolveu a Polícia Civil do RJ e o Ministério Público.

A Justiça emitiu 44 mandados de prisão preventiva e outros de busca e apreensão contra 45 denunciados de pertencer a grupos paramilitares.

Dos seis policiais militares denunciados, cinco foram presos. “A um deles, é imputado de ser uma das lideranças locais. Ele explora toda a atividade criminosa: a cobrança da taxa de segurança, as construções irregulares. Os demais policiais integram o núcleo da segurança, o braço armado desse grupo, e também o grupo financeiro”, explicou o promotor Marcelo Winter.

Após a prisão, o coronel Mauro Fliess, porta-voz da Polícia Militar, disse que desvios de conduta não serão tolerados.

“A polícia reforça nossa total intolerância contra desvios de conduta. Não podemos admitir em nossos quadros policiais que cometam crimes. Continuaremos sempre com nossas investigações e apoiando outras instituições sempre que se fizer necessário”, disse o porta-voz.

Via: G1