Em uma semana em que o Rio de Janeiro registrou sensação térmica de 45 graus, o Hospital Pedro II, em Santa Cruz, na Zona Oeste, luta contra um velho problema: a climatização deficiente. Um dos principais destinos de acidentados e vítimas de queimaduras, o nono andar da unidade, onde são atendidos pacientes neurológicos, não estava funcionando neste domingo. E, segundo visitantes de internos do CTI, a temperatura também subiu na área onde ficam os casos mais graves.
— Meu filho está no CTI desde o dia 16, mas durante esta semana o ar condicionado parou de funcionar. Eu tive que ficar abanando — contou Ana Cristina Alves.
O filho de Magdalena Correia está internado desde domingo. Ele foi espancado e precisou ser operado por causa de traumatismo craniano:
— Ele foi muito bem tratado aqui, mas precisei trazer um ventilador de casa. O nono andar está sem ar condicionado, conta.
De acordo com um funcionário, que falou em condição de anonimato, a refrigeração do hospital funciona precariamente, de forma geral. Na sala vermelha, neste domingo (2), apenas parte dos aparelhos estavam climatizando de forma satisfatória.
— O pior é quando chove. O hospital fica com cheiro de mofo. Não sei se é problema de encanamento, só sei que nunca consertam o problema. Tudo o que fazem é maquiagem — denuncia.
Ele também tem outro problema: os dutos da sala vermelha estão avariados, derramando água no andar de baixo, onde fica o refeitório e o corredor que leva a ele. Um vídeo enviado ao GLOBO mostra papelões no chão do corredor, além de falta de placas no teto. Segundo o mesmo funcionário, a “solução” já causou acidentes de trabalho, com profissionais escorregando no piso improvisado.
O pai de Luciana de Farias está internado há três dias na sala amarela, pois não conseguia se alimentar. Na área onde ele está, a temperatura está adequada, porém, o paciente só recebeu soro desde que chegou à unidade. Segundo Luciana, médicos informaram que aguardavam a chegada de alimentação enteral.
— A equipe está fazendo o que pode, mas faliram recursos. Meu pai precisa de uma tomografia, mas o aparelho está quebrado. Vou entrar agora, e não tem sabão para lavar as mãos — exemplifica.
A falta de insumos é confirmada por outros profissionais de saúde que trabalham no hospital, e pediram para não ser identificados. Eles também reclamam da falta de antibióticos e anti hipertensivos intravenosos, além de equipamentos básicos, como máscaras cirúrgicas.
Rede de oxigênio
Em reportagem veiculada pelo RJ TV 2, da TV Globo, uma funcionária, que não se identificou, afirmava em áudio que 11 óbitos no CTI estariam relacionados aos problemas no ar condicionado e na rede de oxigênio. A secretária municipal de Saúde, Ana Beatriz Busch, admite que a climatização é uma questão “crônica”, e informa que, no ano passado, foram gastos mais de R$ 3 milhões revisão e limpeza dos dutos. No entanto, ela contesta veementemente a denúncia sobre a rede de oxigênio.
— São mais de 50 leitos críticos neste hospital, e nenhum equipamento apresenta defeito. Em média, na rede de saúde do Rio, computamos dois óbitos por dia nas nossas UTIs, UIs e salas vermelhas. O esperado aqui são 14 óbitos por semana. Desde quarta-feira, foram 10, o que está dentro dos nossos parâmetros normais — diz, acrescentando que a SPDM, organização social responsável pela administração do Pedro II está buscando soluções para acelerar o fim dos problemas de climatização.
— É importante ressaltar que a rede de oxigênio alimenta todo o hospital. Se houvesse um problema, ele seria generalizado, e afetaria setores como o CTI pediátrico, a UTI neonatal e a sala vermelha — ressalta o diretor técnico da unidade, Carlos Alberto Costa Jr.
O outro lado
Procurados, a secretária municipal de saúde, Beatriz Busch, e o diretor técnico do Hospital Pedro II, Carlos Alberto da Costa Araújo Júnior, consideram a denúncia de um defeito na rede de oxigênio como “mentirosa” e “irresponsável”.
“Em média, em qualquer unidade hospitalar pública no Rio de Janeiro, há cerca de 14 óbitos por semana. Nessa semana que se passou foram dez no Pedro II.Temos mais de 100 internações por dia e acompanhamos nossos pacientes. A população não precisa se preocupar”, diz Beatriz Busch, em nota.
Sobre o problema no ar-condicionado, a secretaria reconheceu que há setores com problemas, mas disse que não há relação com os óbitos.
“Para o lugar onde estiver mais quente, monitoramos o estado do paciente e acompanhamos a hidratação. Não há relação de calor com óbitos”.
Segundo a secretaria, a entrega de insumos na unidade é normal, e “faltas pontuais não interferem no atendimento à população”. A pasta também nega falta de alimentação enteral. Além disso, a pasta informa que a empresa especializada já foi contactada para consertar o tomógrafo.
Sobre o piso molhado, a SMS informa se tratar do resultado de uma reforma no sistema de ar condicionado: “a área passa por um tratamento do isolamento térmico, com condensação da água gelada que passa pelos dutos de refrigeração, o que pode acarretar vazamento”. A secretaria garante que o problema será resolvido.
Via: Jornal Extra