Jornal Povo

Human Rights Watch indica possível destruição de provas pela polícia no caso do Fallet-Fogueteiro

A organização não governamental Human Rights Watch afirmou que dois pareceres de peritos forenses internacionais indicaram a possível destruição de evidências pela Polícia Militar no caso que resultou na morte de 13 pessoas no Morro da Fallet-Fogueteiro, em 8 de fevereiro de 2019.

No dia 1º de novembro do ano passado, a Polícia Civil pediu o arquivamento do inquérito, alegando que os PMs agiram em legítima defesa.

As análises, encomendadas pela organização, também apontam para outras falhas na coleta e preservação de evidências importantes para o caso.

Os pareceres, baseados em análises dos laudos de necrópsia de nove dos 13 mortos, sugerem que a Polícia Militar pode ter levado os corpos para o hospital, fingindo que precisava mover as vítimas para tentar salvar suas vidas.

“São várias as falhas graves nos laudos de necrópsia. Descrições inexistentes, falta de exames residuográficos para detectar pólvora nas mãos dos mortos e fotografias de péssima qualidade”, enumerou a diretora da Human Rights Watch, Maria Laura Canineu.

Segundo ela, o estudo mostra que a maioria das perícias foi feita em cerca de 40 minutos – uma delas, em apenas 10 minutos.

“É evidente que não isso não é tempo suficiente para se concluir um trabalho de perícia bem feito”.

Segundo a Human Rights Watch, as autópsias da polícia mostram que nove vítimas tiveram ferimentos a bala nos pulmões – oito apresentaram ferimentos no coração, entre outras lesões. Policiais militares disseram aos investigadores da Polícia Civil que usaram fuzis durante a operação. Os fuzis produzem muito mais danos do que pistolas dada a maior velocidade dos projéteis.

Um dos mortos, de 21 anos, recebeu três tiros à curta distância (dois na cabeça e um no corpo), bem como mais quatro disparos em outras partes do corpo.

O crânio dele foi fraturado, seus vasos sanguíneos do pescoço destruídos e seu coração, pulmão, diafragma, fígado, estômago e intestino foram perfurados com balas, de acordo com a autópsia da polícia.

Um vídeo gravado no hospital e uma foto incluída no inquérito mostravam esse homem com o tronco aberto e os intestinos fora do corpo.

Policiais militares disseram aos investigadores que ele estava vivo quando o levaram ao Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro.

Porém, afirma a Humans Rights Watch, as vítimas já estavam todas mortas quando chegaram à unidade.

O fato não surpreendeu a organização.

“Há mais de uma década temos documentado casos semelhantes aos que chamamos de “falsos socorros” no Rio de Janeiro – nessas ocorrências, policiais levam pessoas já mortas para os hospitais sob a alegação de que tentaram salvá-las. Na verdade, fazem isso apenas para comprometerem a cena do crime e dificultarem as investigações. Pelo nosso levantamento, esse procedimento foi usado no caso Fallet-Fogueteiro”.

A organização encaminhou, nesta segunda-feira (3), os dois pareceres dos peritos internacionais ao Ministério Público do Rio de Janeiro.

No dia 8 de fevereiro, um intenso tiroteio deixou 13 pessoas mortas nas comunidade do Fallet, em Santa Teresa, Região Central do Rio.

Na época, a Polícia Militar informou que os suspeitos participavam de um confronto com agentes do Comando de Operações Especiais (COE). A operação contou também com homens do Batalhões de Operações Especiais (Bope) e do Batalhão de Choque. Segundo a polícia, a ação foi para combater o tráfico de drogas.

A PM relata que as equipes foram recebidas a tiros durante o vasculhamento e houve confronto. A maior parte da troca de tiros se deu dentro de uma casa.

Dois baleados foram levados ao Souza Aguiar. Em outro ponto, armas foram apreendidas. Os militares teriam sido alertados de que uma van escolar seria utilizada para a fuga de criminosos. Três foram presos no veículo.

No entanto, parentes dos mortos afirmam que todos foram assassinados sem chances de defesa. A Defensoria Pública pediu que o caso seja reaberto e submetido a novas investigações.

O caso chamou a atenção da Comissão Arns de Direitos Humanos. Integrantes do grupo participaram de uma reunião na Defensoria.

“Com base em laudos, pedimos que o Ministério Público ofereça uma denúncia e instaure uma ação penal para que os autores desse crime sejam finalmente julgados. Houve uma execução. Esses rapazes não resistiram. Foi um ato absolutamente covarde por parte dos policiais”, afirmou o presidente da Fundação Arns, José Carlos Dias.

Por meio de sua assessoria de imprensa, o MPRJ informou:

“O Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública (GAESP/MPRJ) instaurou procedimento investigatório criminal, para, de modo independente, colher provas sobre as mortes ocorridas em 08/02/2019, em operação policial na Comunidade do Fallet/Fogueteiro, investigações essas que vem se desenvolvendo desde o primeiro momento, logo após a ocorrência dos fatos.

O GAESP/MPRJ vem acompanhando o trabalho desenvolvido pela DH- Capital e entende que ainda há diligências a serem realizadas, a fim de melhor esclarecer os fatos. Por fim, esclarece que foram realizadas várias reuniões com a Defensoria Pública e seus representantes, desde o primeiro momento, dando máxima atenção aos seus questionamentos, sempre no intuito, como dito, de esclarecer os fatos.”

Via: G1