Jornal Povo

Cedae diz não saber de onde veio detergente que parou Guandu

Representantes da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) disseram, na tarde desta terça-feira (4), não saber de onde surgiu o detergente que parou a Estação de Tratamento do Guandu, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, na segunda-feira (3).

A Cedae informou, ainda, que um monitoramento foi feito até as 3h desta terça para verificar se ainda havia presença de detergente na água e as análises descartaram essa hipótese.

A captação da água foi retomada normalmente, segundo a companhia. No entanto, moradores da Baixada Fluminense e de vários bairros da capital reclamam de torneiras secas.

A Cedae e a Secretaria de Estado de Ambiente realizaram uma entrevista coletiva na Estação do Guandu para prestar esclarecimentos à população sobre a operação da estação e a qualidade da água.

A companhia informou que foram abertos dois procedimentos investigativos internos desde o início da crise da água para apurar o aparecimento da geosmina e a turbidez. Eles não informaram o prazo para conclusão da investigação, mas disseram que a conclusão será encaminhada para a Polícia Civil que abriu inquérito sobre o caso.

Segundo Pedro Ortolano, chefe da Estação Guandu, a decisão de parar a captação da água na segunda foi adotada por medida de segurança.

Técnicos do Instituto Estadual de Meio Ambiente (Inea) estiveram pela manhã em vários pontos da área de captação e fizeram uma vistoria no entorno do Guandu. Eles coletaram amostras da água que vem do Rio Poços, que passa pelo Distrito Industrial de Queimados e deságua no Guandu. Também foram coletadas amostras da entrada da estação de captação. O resultado deve ser divulgado em 24 horas.

Polícia voltou até Guandu

Na manhã desta terça, equipes da Delegacia de Defesa de Serviços Delegados (DDSD) voltaram à estação. Os agentes fizeram um sobrevoo em toda a área.

A Polícia Civil já havia sido acionada e esteve no local no dia 16 de janeiro para investigar uma suspeita de sabotagem, citada pelo próprio governador do Rio, Wilson Witzel.

Funcionários, ex-funcionários e o próprio presidente da Cedae, Hélio Cabral, foram ouvidos. O inquérito, no entanto, ainda não foi concluído e ainda não há a confirmação de sabotagem.

Peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli estiveram em Guandu no dia 16 de janeiro e recolheram material para uma análise laboratorial.

Geosmina

Em relação à geosmina, Sérgio Marques, gerente de Controle de Qualidade da Cedae, esclareceu que não existe nenhuma comprovação de que ela possa causar qualquer problema de saúde e que o gosto de terra relatado pela população é típico da alga.

O diretor completou dizendo: “Não há relação entre geosmina e turbidez na água. Problemas de turbidez são pontuais – por conta de variação de vazamento da água dentro da tubulação. Fazemos 2,3 mil amostras mensais. Mais de 11,5 mil resultados analíticos por mês.”

Segundo Hélio Ferraz, presidente da Cedae, a água produzida em Guandu já estava sem gosto desde domingo.

“A questão é que dependendo do tamanho da caixa d’água , pode demorar mais. É natural.”

Ferraz também comentou sobre os procedimentos para a limpeza da água. Ele disse que a companhia não estava preparada para o que chamou de “um evento como este.”

“Nós adotamos procedimento de usara o carvão e a argila, que são usados em dezenas de estações no mundo. Aqui no Brasil pelo menos em dez. Fizemos reuniões com acadêmicos das universidades que nós recomendaram que o procedimento para terminar o cheiro e sabor era esse. Nós não estávamos preparados para um evento como esse.”, afirmou

A produção havia sido interrompida no fim da tarde de segunda por causa de análises laboratoriais que apontaram a presença de detergentes na água que chega à estação de tratamento.

Em consequência de cerca de 15 horas de interrupção, torneiras secaram em boa parte da área coberta pelo Guandu. Nas redes sociais, moradores relataram falta d’água em suas casas.

A reabertura das comportas do canal principal da estação ocorreu após técnicos da companhia constatarem que não havia risco à operação.

A Cedae ressalta que em alguns bairros, como ruas altas, o abastecimento pode levar até 72 horas para se restabelecer completamente.

Este não foi o primeiro problema com qualidade da água este ano. Desde o começo de janeiro, moradores do Rio de Janeiro têm reclamado do cheiro e gosto da água que chega às torneiras.

A Cedae atribuiu os problemas à presença da enzima geosmina, liberada por microalgas que, em contato com microorganismos, altera a aparência da água, mas informou que ela não prejudica a saúde.

Para solucionar o problema, a empresa aplicou carvão ativado e argila na água.

Falta d’água

Moradores de bairros das zonas Norte e Oeste da capital fluminense reclamam que as torneiras já estão secas. A estação abastece cerca de 80% da população da cidade do Rio. Quem vive na Baixada Fluminense, região mais próxima à estação, também reclama de problemas no fornecimento.

Segundo professor Júlio César da Silva, chefe do Departamento de Engenharia Sanitária e do Meio Ambiente da Uerj, as áreas mais próximas ao Guandu são as mais afetadas.

“O que acontece é que a rede de distribuição de água é diferente. Então há locais onde vai faltar água mais rápido e locais onde vai demorar mais, de acordo com a quantidade de água que existe no sistema de distribuição. As regiões de mais curto percurso vão sentir mais falta desta distribuição. As áreas mais distantes vão sentir falta depois, provavelmente”, contou o professor.

Via: G1