Musa da Portela é faixa preta de caratê e médica veterinária: ‘Amores diferentes’

Entre o gracejo da sambista e o golpe da lutadora. Quem vê Alice Alves, musa da Portela, sambando na quadra de Madureira não imagina o que se esconde por trás da maquiagem, da purpurina e do salto alto.

Dez vezes campeã brasileira e faixa preta de caratê, Alice, de 38 anos, divide o seu amor e o seu tempo entre o samba e a luta. Sem contar no seu ofício, o de médica veterinária cirurgiã.

“São amores diferentes. Comecei a lutar com 12 anos e com 15 desfilei pela primeira vez pela Portela. Mais tarde descobri a veterinária e me completou. Largaria tudo pelo meu trabalho com os animais”, conta ela que, há oito anos ocupa o cargo de musa na escola.

“As pessoas não acreditam nem colocam fé de que eu sou realmente uma carateca. Principalmente pela minha aparência. E eu acho divertido quando alguém fica sabendo e meio que se assusta. Mas, quando coloco o quimono, muda tudo. Muda a postura, as feições. Parece que entra uma personagem. Da mesma forma quando entra o figurino de carnaval. A meiguice, o sorriso, tudo aparece. Eu troco o chip: sou a meiga do carnaval e ao mesmo tempo a brava da luta.”

Amor de carnaval

Em 22 anos de carnaval, Alice já passou pela Vila Isabel, Beija-Flor, Império Serrano, União da Ilha e Caprichosos de Pilares. Mas com o amor pela Portela sempre em primeiro lugar. “A Portela é o grande amor da minha vida, não tem como explicar. Fui criada por uma família que sempre foi apaixonada pela Portela. Então, já nasci aprendendo a amar a escola.”

“Vivo o carnaval, não vivo de carnaval. E me orgulho muito disso. Tenho a minha vida, o meu emprego e a minha família. Minha vida gira em torno da minha estabilidade e também do meu amor pela Portela”, completa.

Com tudo em cima

Atleta de nível nacional e internacional — ela competiu em três mundiais de caratê, Alice se mantém na rotina regrada do esporte como um aliado na boa forma para, também, fazer bonito no carnaval.

“Sempre tive a preocupação com o meu corpo, mas nem sempre eu fui feliz. Passei a entender que tenho que ter o corpo perfeito o ano inteiro e não só durante o carnaval. Quando o carnaval se aproxima a gente intensifica, claro. Mas, não é só isso. Tem que ter uma rotina, se manter regrada”.

“Comecei a fazer musculação só há dez ano. Meu corpo foi condicionado ao esforço físico pelos treinos de caratê e isso me ajuda muito. Hoje, já ex-atleta, treino caratê uma vez por semana. É o suficiente. Antes eram oito horas e todo dia na semana. Era profissional”, relembra.

Na memória, ficam os títulos e as conquistas. E a certeza de ter feito a coisa certa. “Parei aos 34 anos, no meu auge. Mas foi por uma questão de escolha, prioridades. Foi pelo amor da veterinária, que foi muito maior. Pela minha profissão eu abriria mão até do carnaval.”

Fonte: G1