Sérgio de Castro Oliveira, apontado como operador do ex-governador Sérgio Cabral (MDB) na organização criminosa revelada pela Lava Jato, detalhou como eram feitos os supostos pagamentos de propina a Luiz Fernando Pezão (MDB). As acusações estão em um dos documentos da colaboração premiada feita ao Ministério Público Federal e homologada feita pela Justiça Federal.
Pezão, que sucedeu Cabral no cargo, nega as denúncias.
Serjão, como era conhecido, foi assessor parlamentar de Cabral na década de 90 e é apontado pelos investigadores da Lava Jato como operador financeiro do esquema. Ele diz que fez as entregas de 2008 até 2013. No início, eram R$ 50 mil, diz. O valor teria aumentado depois que Pezão, então secretário de Obras, passou à pasta de Infraestrutura.
“Neste período (2011), o valor passou a ser R$ 100 mil por mês. No terceiro ou quarto mês em que recebeu R$ 100 mil, o Pezão falou que estava preocupado em andar com tanto dinheiro na sua pasta.”
A partir daí, relata o delator, metade do valor teria sido entregue ao dono de uma empresa com a qual Pezão tinha contatos. Essa rotina teria se mantido por seis meses até Pezão voltar a pedir a entrega integral.
As acusações fazem parte da Operação Boca de Lobo, que levou Pezão à prisão no fim de 2018. No último mês de dezembro, o ex-governador foi solto por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Pezão diz que delator mente
A Lava Jato estima que Pezão tenha obtido R$ 39 milhões em propina de 2007 a 2015, de empreiteiras a empresas de ônibus, em espécie e contas no exterior.
Ele também já foi citado pelo ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Jonas Lopes; Álvaro Novis, doleiro da Fetranspor; e pelo próprio Cabral. O ex-governador diz que é vítima de conspiração.
No intuito de provar que quatro delatores se uniram contra ele, Pezão apontou contradições nos depoimentos. Uma delas sobre a suposta entrega de propina em sua residência.
Serjão diz ter levado pacotes de dinheiro até o apartamento de Pezão no Leblon na véspera de um assalto ao imóvel em 2012. Fotos do passaporte do ex-governador juntadas ao processo indicam que ele estava em viagem na Itália naquele dia.
Pezão viajou no dia 21 e voltou no dia 30. O assalto ocorreu no dia 29. Para Pezão, essa é uma prova de que o delator mentiu.
“Falaram que me entregaram um dinheiro na véspera do assalto (na residência do Leblon). (Na audiência da Lava Jato), Ele (Serjão) dá um riso irônico quando o doutor (juiz Marcelo) Bretas pergunta se o dinheiro foi levado, ele dá um riso achando que foi. Eu estava na Itália. Então, mostra o nível de mentira dessas pessoas”, afirmou Pezão na última segunda.
O ex-governador afirma que ordenou o pagamento de R$ 55 bilhões sem nunca ter sido implicado por empreiteiros e empresários.
“Claro que sou inocente. Eu tenho 36 anos de vida pública. A única coisa que vou ter é minha aposentadoria do INSS que estou esperando como dois milhões de brasileiros. Estou esperando há 19 meses”, rebate.
Pezão deixa prédio da Justiça Federal após ser interrogado
Depoimento
Na segunda-feira (3), Pezão foi interrogado após seu antecessor, Sérgio Cabral, acusá-lo de participação na organização criminosa que chefiou. Ele negou todas acusações: da participação no esquema de propina e também de que recebeu R$ 400 milhões para a campanha à reeleição, como havia dito Cabral pouco antes.
Fonte: G1