O youtuber japonês Ryosuke Watanabe, de 30 anos, que causou polêmica por ter segurado a arma de traficante no Vidigal, Zona Sul do Rio, e tirado fotos com outro criminoso, explicou o motivo que o levou a fazer isso.
Ryosuke disse que, apesar de sentir medo, sua intenção era mostrar aos seguidores japoneses como é a realidade em uma comunidade no Brasil.
— Eu estava com medo de entrar naquela área, mas eu queria conhecer a realidade. As notícias que recebemos diariamente podem ser verdadeiras ou não. E os japoneses enxergam a paz como uma coisa garantida. Foi por isso que eu quis falar para eles como é uma favela de verdade no Brasil — afirmou.
O influenciador digital disse que já tinha conhecimento sobre os riscos maiores em algumas regiões do Rio e que sabia sobre episódios recentes de violência urbana, mas demonstrou que estava acostumado, por ter visitado países na América Central e “lugares perigosos” na Ásia.
— Eu quis mostrar a obscuridade do mundo que não é reportada como verdade. A experiência mais surpreendente foi que há tantas facções, e facções armadas, e eles (criminosos) não largam os radiocomunicadores. Talvez eles sempre verifiquem as pessoas, incluindo a polícia — acrescentou.
Ryosuke, que começou seu canal no YouTube em abril do ano passado, contou que o tema do projeto é “Bucket list”, que significa uma lista de atividades que ele gostaria de realizar antes de morrer. Em geral, essas aventuras envolvem viagens. O japonês disse já ter visitado 75 países.
— Enquanto sigo meus sonhos, eu vou mostrar a realidade do mundo, as partes boas e ruins, a verdade não dita, os problemas dos países. E eu quero combater a pobreza e problemas de educação. É por isso que eu também atuo como voluntário — frisou.
As imagens polêmicas dele no Vidigal foram registradas em dezembro do ano passado. A pistola é entregue por um homem que teve o rosto borrado. O youtuber aponta a arma para a própria cabeça e arranha o português para pedir uma foto com o grupo, que a princípio nega. Por fim, ele consegue fazer um registro sorrindo ao lado de um deles. É possível ouvir até mesmo trechos da comunicação via rádio feita entre os traficantes.
O local é o mesmo onde quatro pessoas foram mortas durante uma operação da Polícia Militar no Vidigal em janeiro. As famílias de duas vítimas negam envolvimento delas com o tráfico.
Professora de japonês no Instituto Brasileiro de Línguas (IBL) em Niterói, Bruna Faria traduziu algumas das declarações de Ryosuke no encontro.
— Milagrosamente a gangue consentiu as filmagens. Até me recomendaram uma pose — disse ele.
Em outro momento, ele ressalta:
— É uma arma de verdade!
Após a visita na Rocinha, ele compartilhou uma foto do local no Instagram. Na legenda, escreveu: “De qualquer forma, é divertido conhecer, ver e ouvir um novo mundo. Você não precisa de ‘coragem’ pra fazer algo novo. Apenas estar ‘preparado'”.
Via: Jornal Extra