Jornal Povo

Presidente demitido da Cedae vai a Alerj, sai às pressas e é vaiado: ‘Não me sinto confortável de responder’

O presidente demitido da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae), Hélio Cabral, deixou uma audiência pública sobre a crise da água na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) às pressas nesta terça-feira (11), um dia após o governador Wilson Witzel anunciar a demissão.

Ele foi vaiado ao dizer que faria um pronunciamento e anunciar: “Não me sinto confortável de responder [a perguntas dos deputados]”.

Em meio às críticas dos parlamentares, ele abandonou correndo a reunião, deixou o Palácio Tiradentes e entrou em um carro que o aguardava. Jornalistas tentaram ir atrás, mas um segurança fechou a porta de saída por alguns segundos até que Hélio embarcasse, impedindo a aproximação.

Protestos e pedidos por CPI

O encontro foi marcado por protestos. Deputados, espectadores e ativistas pediram a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre a Companhia Estadual de Água e Esgoto (Cedae) e o reembolso da conta d’água aos consumidores.

Cabral o discurso agradecendo a “confiança depositada pelo governador Wilson Witzel”, antes de fazer uma apresentação em slides.

Antes, parlamentares fizeram perguntas como se o “sucateamento” da empresa estatal era uma forma de agilizar a privatização e se ele havia sido indicado politicamente pelo ex-senador Pastor Everaldo.

No pronunciamento, Hélio culpou o “déficit histórico de saneamento” agravado pelo crescimento desordenado das cidades.

“É um problema que demanda muito trabalho e soluções somente a médio prazo. Estou aqui em respeito aos senhores, à essa Casa tão importante para a população do estado. No entanto, não me sinto confortável para responder as perguntas dos senhores e senhoras que deverão ser feitas ao meu sucessor.”

‘Reembolso já’

Das galerias, houve gritos de “reembolso já” e “essa conta não é nossa”.

O ato, promovido pelo grupo Meu Rio, faz parte de uma mobilização que começou na internet com 40 mil assinaturas, e pede que a o consumidor seja ressarcido. Governo, Defensoria Pública e Ministério Público ainda tentam um acordo sobre a possível indenização.

Contas d’água também foram jogadas sobre os deputados, a quem foi oferecido simbolicamente um galão com água barrenta.

“Solicitamos ao senhor (presidente da Cedae) que sejamos reembolsados pelo valor total pago na conta de janeiro como forma de desconto na conta do mês de fevereiro”, diz o texto.

A ação critica ainda a falta de transparência da Cedae ao afirmar que a companhia se apressou ao indicar a geosmina como a “culpada” pela alteração no gosto e no sabor da água.

“A companhia não liberou o resultado de nenhum teste para a população nem se dispôs a fazer um teste com acompanhamento de terceiros”, prossegue.

Alerj discute crise hídrica em audiência pública com a presença do ex-presidente da Cedae — Foto: Gabriel Barreira/G1 Rio
Alerj discute crise hídrica em audiência pública com a presença do ex-presidente da Cedae — Foto: Gabriel Barreira/G1 Rio

Queixas começaram em janeiro

Moradores da Região Metropolitana do Rio se queixam do gosto de terra e da coloração da água desde o início de janeiro. De acordo com a companhia, a mudança se dá por conta da presença de geosmina, substância orgânica produzida por algas, perto da Estação de Tratamento de Guandu, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

A companhia disse que a geosmina na água fornecida pela empresa não representa perigos à saúde e começou tratamento adicional com carvão ativado e argila. Ainda assim, as queixas em relação ao gosto continuaram.

No sábado (8), um último teste foi divulgado pela companhia, atestando que a quantidade de geosmina encontrada na produção da Cedae aumentou na comparação entre o dia 8 de janeiro para o dia 3 de fevereiro.

Na tentativa de solucionar o problema, a Cedae começou a aplicar carvão ativado na água e argila perto do Guandu para evitar a proliferação de algas.

Água da Cedae — Foto: Reprodução/TV Globo
Água da Cedae — Foto: Reprodução/TV Globo


Demissão

A demissão de Hélio Cabral foi confirmada na segunda-feira (10), mais de um mês após o início da crise da água no RJ.

Segundo o governo, a decisão foi tomada por Wilson Witzel na qualidade de representante do acionista controlador da Cedae, o estado do Rio.

O governador indicou para sucedê-lo o engenheiro Renato Lima do Espírito Santo.

Hélio Cabral, ex-presidente da Cedae — Foto: Ricardo Cassiano/Estadão
Hélio Cabral, ex-presidente da Cedae — Foto: Ricardo Cassiano/Estadão

Fonte: G1