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Com medo das chuvas, pedreiro constrói ‘passarela’ para sair de casa durante inundações no Jardim Maravilha

Depois de perder móveis e eletrodomésticos durante um temporal no ano passado, o pedreiro Marcelo Pádua da Silva, que mora com a mulher e três filhos no Jardim Maravilha, em Guaratiba, construiu, com tábuas de madeira, uma espécie de passarela do lado de fora de casa. A estrutura, que liga a janela da cozinha do imóvel a um muro do quintal, é uma estratégia de sobrevivência. É por lá que ele pretende escapar caso a região, sempre castigada pelas chuvas, inunde mais uma vez, como aconteceu na última segunda-feira.

—Fiz um “refúgio improvisado” para o caso de a água entrar. Se isso acontecer, coloco as crianças para cima, assim como os documentos, as roupas e o que for de maior necessidade — disse Marcelo, que, sem conseguir chegar até o local onde costuma buscar água, tem matado a sede com chuva.

O Jardim Maravilha, onde Marcelo e outras 20 mil pessoas moram, costuma alagar por conta da falta de dragagem do Rio Cabuçu-Piraquê, que corta a região. A prefeitura chegou a iniciar o serviço depois das enchentes do ano passado e prometeu que tudo ficaria pronto antes do fim do verão. A promessa inicial era de que as obras fossem concluídas no mês passado, mas o prazo, agora, vai até maio. Outras obras de urbanização ainda terão que ser orçadas.

Em Rio das Pedras, outro ponto da cidade que enfrenta alagamentos sempre que chove, falta uma rede de drenagem eficiente, afirma o engenheiro Roberto Lozinsky.

— O solo em Rio das Pedras é muito impermeabilizado por causa de tantas construções. Não tem como a água escoar. Além disso, implantar rede de drenagem de águas pluviais é um decisão política, seja no asfalto ou na favela. Investir em canos não é algo que dê visibilidade — diz o engenheiro.

Aparentemente, não há uma solução à vista para Rio das Pedras. Há dois anos, Crivella chegou a anunciar um plano para sanear a comunidade. A ideia era construir um condomínio popular, removendo moradores de áreas às margens da Lagoa de Jacarepaguá e implantar saneamento e rede de drenagem, em uma parceria público-privada. Houve resistência de moradores e o prefeito desistiu.

Bueiros entupidos

Na Zona Sul, os bolsões d’água são recorrentes na Rua do Catete e na Lagoa, entre outros locais. Nesta terça-feira, Renato Félix, porteiro de um edifício na Avenida Epitácio Pessoa, contou que a água subiu rapidamente na segunda-feira, já que os bueiros próximos ao prédio estavam entupidos. A prefeitura gastou R$ 66,6 milhões, entre 2017 e 2019, na limpeza de bueiros e da rede pluvial da cidade. O valor previsto era de R$ 81,9 milhões.

— Esses pontos da Zona Sul ficam em áreas baixas e têm uma rede muito antiga, que não foi renovada, apesar do crescimento dos bairros. Se a chuva cair com maré alta, a água vai demorar ainda mais a escoar. A realidade é que a drenagem d e toda a cidade tem que ser repensada — diz a professora de engenharia ambiental da Universidade Veiga de Almeida, Viviane Japiassu, citando outro ponto crítico da cidade quando chove. — Nem todas as obras previstas para as enchentes na Grande Tijuca foram concluídas.

No caso da Tijuca, a Fundação Rio-Águas, do município, está concluindo um estudo que vai definir a necessidade de novos investimentos em drenagem.

Via: Jornal Extra