Um dos maiores escândalos da história da Fórmula 1 acabou sem nenhuma prisão. Num dia 23 de fevereiro como hoje, em 2009, ficou determinado que os engenheiros Mike Coughlan, Paddy Lowe, Jonathan Neale e Rob Taylor, então na McLaren, teriam de pagar multas pesadas por terem utilizado dados confidenciais da Ferrari, passados por Nigel Stepney.
Dois anos antes, em 2007, Stepney vazou informações sigilosas do carro da equipe italiana, e Coughlan as recebeu para utilizar no projeto da escuderia inglesa, enquanto Lowe, Neale e Taylor também foram envolvidos. Os profissionais foram indiciados pela justiça italiana por espionagem industrial.
No conturbado campeonato de 2007, McLaren e Ferrari eram as grandes forças da Fórmula 1. Os pilotos Fernando Alonso e Lewis Hamilton, da equipe inglesa, e Felipe Massa e Kimi Raikkonen, da italiana, se revezaram nas primeiras posições na tabela e venceram todas as 17 provas da temporada.
No entanto, a McLaren era ligeiramente superior na maioria das pistas e despontou como favorita ao título. O problema é que a rivalidade entre Alonso e Hamilton explodiu, e, um mês depois de o escândalo de espionagem ser deflagrado, o espanhol entregou à Federação Internacional de Automobilismo (FIA) e-mails nos quais ficava comprovado o conhecimento do caso por parte do chefão Ron Dennis.
No âmbito desportivo, a McLaren recebeu uma multa recorde de US$ 100 milhões (na época aproximadamente R$ 200 milhões), além de ser desclassificada do Mundial de Construtores. Os pilotos foram poupados e não perderam seus pontos no campeonato, mas o estrago estava feito.
A situação no time ficou tão dramática, que circulou na mídia europeia o boato (nunca confirmado) de que Alonso teria sido sabotado pela própria McLaren na calibragem dos pneus durante a classificação do GP da China, penúltima prova da temporada, para que Hamilton fosse favorecido.
Em meio a uma enorme crise interna, Hamilton e Alonso perderam o título para Kimi Raikkonen, que arrancou nas etapas finais do campeonato e ainda contou com erros do inglês, que fazia sua temporada de estreia. Mesmo perdendo o tri, Alonso estava aliviado por não ter sido superado por Hamilton – terminaram empatados com 109 pontos, um a menos do que Raikkonen.
Sem nenhum clima para ficar na McLaren, Alonso voltou para a Renault. Em 2008, seria beneficiado com outro escândalo, o do Singapuragate, no qual venceu após o companheiro Nelsinho Piquet bater de propósito a mando da equipe para causar a entrada do safety car e favorecer sua estratégia.
Ainda na McLaren, tendo como novo companheiro o finlandês Heikki Kovalainen, Hamilton conquistou o primeiro de seus seis títulos mundiais, derrotando Felipe Massa numa dramática decisão em Interlagos. Hamilton seguiu na equipe até 2012, quando decidiu se transferir para a Mercedes.
Já Ron Dennis permaneceu como chefe da McLaren até 2016, quando foi removido do comando pelos acionistas da companhia. Hoje, sob a liderança de Zak Brown, o time tenta se reerguer após uma grave crise técnica e esportiva. Em 2019, a McLaren ficou em quarto lugar no Mundial de Construtores.
Em 2010, Stepney foi condenado a um ano e oito meses de prisão e pagou uma multa por sua participação no escândalo, por “sabotagem, espionagem industrial, fraude esportiva e tentativa de lesão grave”. A sentença foi reduzida após um acordo, e Stepney não ficou um dia sequer na prisão. Após voltar a trabalhar como engenheiro em categorias de turismo, o inglês morreu em 2014 num acidente.
Em 2009, Coughlan teve de pagar multa de 180 mil euros, enquanto Lowe, Neale e Taylor foram multados em 150 mil euros. Nos últimos anos, Coughlan trabalhou na equipe Richard Childress Racing, na Nascar. Após uma passagem vitoriosa pela Mercedes e fracassada pela Williams, Lowe está fora da F1, enquanto Taylor é projetista da Haas, e Neale é o único que ainda segue na McLaren.
Fonte: Globoesporte