Jornal Povo

Ex-presidente de honra do Salgueiro aponta briga de família como causa de morte de irmão de Maninho

O ex-presidente de honra da Acadêmicos do Salgueiro, o empresário Rafael Alves, disse que o assassinato do contraventor Alcebíades Paes Garcia, o Bidi, foi motivado pela briga por dinheiro. De acordo com Alves, “todos sabem quem matou” Bidi e o motivo teria sido culminado pela “a disputa por bens”, que de acordo com ele, “tem acabado com uma família”. O empresário, que é ex-marido de Shanna Harrouche Garcia, sobrinha de Bidi, afirmou que a Justiça e a Polícia não conseguem resolver a situação (das mortes). Alves e Bidi eram amigos há 15 anos. O bicheiro foi enterrado no começo da tarde desta quarta-feira no Cemitério Memorial do Carmo, no Caju.

— Mais um membro da família que sofre essa covardia. A gente não sabe onde isso vai acabar. Essa briga de família que o Rio de Janeiro sabe de onde vem e, infelizmente, a justiça e a polícia não estão conseguindo solucionar esses crimes. Todo mundo sabe (quem é o mandante) — disse o empresário, que deu a entender que sabia quem teria mandado matar Alcebíades.

Sem citar nomes, Rafael Alves voltou a afirmou que “alguém tem interesse nisso (nas morte). — Não é possível que todos estejam morrendo, a família está sendo eliminada e, nada acontece — contou Alves que era um dos cerca de 50 amigos e parentes que estavam no enterro do contraventor.

Cerca de 50 pessoas participaram do enterro de Bidi, no Cemitério Memorial do Carmo
Cerca de 50 pessoas participaram do enterro de Bidi, no Cemitério Memorial do Carmo Foto: Guilherme Pinto / Agência O Globo

Indagado se ele sabia quem é o interessado nas mortes, Rafael voltou atrás e falou: — Não sei quem é, mas quem tem que solucionar é a polícia.

O empresário confirmou que há uma guerra pelo espólio do contraventor Waldomiro Garcia, o Miro, que tem valor estimado por parentes em torno de R$ 25 milhões. Irmão de Maninho, Bidi estava afastado da contravenção, mas tinha direito a participar da herança, que inclui entre outras coisas, pontos de bicho, máquinas de caça-níqueis e imóveis.

— Eram brigas por bens, inventários, eram essas coisas que, infelizmente, nunca chegaram num acordo. Infelizmente, o dinheiro, o poder e a ganância então falando mais alto e nisso vidas estão indo embora e famílias chorando. Os quatro filhos estão aí sofrendo e o que vai ser deles?

Bidi foi executado com pelo menos 20 tiros quando chegava em casa, na Barra da Tijuca, no final da madrugada desta terça-feira. Antes de ser assassinado, o homem havia passado o carnaval em um camarote.

Nesta quarta, durante o velório e enterro de Bidi, ninguém quis falar com a imprensa. Nenhuma das filhas de Maninho compareceram ao enterro do tio.

Era afastado da família

De acordo com Rafael Alves, Alcebíades Paes Garcia não tinha uma relação de proximidade com os sobrinhos, filhos do também contraventor Waldomiro Paes Garcia, o Maninho, morto em 2004. Perguntado sobre a relação do tio com sua sobrinha, a empresária Shanna Harrouche Garcia, Alves disse que “era normal”.

— Ele tinha uma relação de afastamento com a família, não era de dia a dia, não tinha briga, guerra. Bidi não tinha guerra com ninguém. Ele tinha zero disputas com a Shanna.

Foi credenciado e desfilou pelo Salgueiro

Alcebíades Paes Garcia gozou de todas as regalias durante o carnaval. O contraventor foi credenciado para atravessar a Passarela do Samba sem ser barrado. Inclusive, desfilou a frente da vermelho e branco. A informação é de Rafael Alves. No entanto, o Alves não deixou claro se o bicheiro foi credenciado pela Liga Independente das Escolas de Samba do Rio (Liesa) ou pela Empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro (Riotur), presidida por Marcello Alves, irmão de Rafael.

— Ele estava com a credencial. Então, rodou em tudo como ele gostava. Domingo a gente passou juntos (pela Marquês de Sapucaí). Entramos na frente da escola na Avenida, ele não desfilou com camisa de diretoria, mas veio a frente da escola, prestigiando a agremiação.

A assessoria de imprensa da Acadêmicos do Salgueiro enviou uma nota na qual informou que a família Garcia não possui qualquer ligação com a escola.

Veja a nota na íntegra:

“O GRES Acadêmicos do Salgueiro vem, a título de esclarecimento e de manter presente a verdade, refutar veementemente as declarações dadas pelo Sr. Rafael Alves em relação à participação de membros da família Garcia na atual gestão da escola.

Embora toda a comunidade salgueirense e sua atual administração reconheça o valor e a importância da família Garcia na história do Salgueiro, seus membros já não fazem parte do corpo de diretivo da agremiação há mais de uma década, tendo sua participação cessado ainda na gestão do ex-presidente Fu, ou seja, há mais de 10 anos, como já dito.

O Sr. Alcebíades Paes Garcia, lamentavelmente morto na madrugada desta terça-feira, nunca fez parte da atual administração, portanto, não desempenhava nenhuma função ou detinha qualquer cargo nesta Agremiação. Lamentamos, não somente o seu falecimento, como também declarações infundadas que insistem em ligar, de alguma forma o Salgueiro ou sua atual gestão a questões que não fazem parte do nosso cotidiano. Por diversas vezes declaramos e seguiremos dizendo comprovadamente que NENHUM membro da família Garcia faz parte do Salgueiro ou apoia financeiramente a agremiação na atual gestão. O senhor Rafael Alves, apoiador declarado da ilegítima e inelegível ex-presidente Regina Celi, recebeu de forma irregular, segundo o Estatuto da Escola, o título de presidente de honra, o qual foi devidamente cassado em reunião do Conselho Deliberativo, poder constituído do Salgueiro. Portanto, qualquer declaração do referido senhor, que através de ato nulo e ilegal, proferido por ex-presidente inelegível e cujo mandato foi cassado pela justiça, foi condecorado com honraria não imputável ao mesmo, deve ser totalmente desconsiderado, pois nunca representou ou pôde falar em nome da Agremiação. Assim, finalizamos esclarecendo:

– em referência à credencial do Sr Alcebíades Paes não foi concedida pelo Salgueiro. Pelo que, somente a LIESA ou a RIOTUR podem informar quem a concedeu. Além disso, cabe esclarece que QUALQUER pessoa com credencial tem livre acesso à Sapucaí. Portanto, se o Sr Alcebíades Paes e o Sr Rafael Alves acompanharam o desfile da escola, não foram como membros da Agremiação ou de seu corpo diretivo. As imagens da Rede Globo podem comprovar. Vale repetir: a credencial do Sr Alcebíades não foi emitida a pedido do Salgueiro, cuja comprovação pode ser pedida à LIESA, entidade reguladora das credenciais emitidas pelas escolas de samba.

– há mais de 10 anos, a família Garcia está afastada do corpo diretivo da escola , salvo exceção do período eleitoral onde, a convite da ilegítima ex-presidente da Escola, senhora Regina Celi, o senhor Rafael Alves recebeu (de forma irregular) o título de presidente de honra, título este já cassado pelo Conselho Deliberativo da Agremiação.

– a família Garcia não investe financeiramente no Salgueiro, cuja receita é comprovadamente oriunda dos eventos de quadra, venda de produtos licenciados e patrocinadores oficiais da agremiação.”

Fonte: Jornal Extra