Jornal Povo

Empreendedoras da baixada contam sobre sua relação com o trabalho

No último domingo, dia 8, uma das buscas que protagonizou o topo das pesquisas referente ao dia da mulher, no Google, foi “Mulheres que fizeram história”. Nomes já conhecidos apareciam na lista, mas, a frente de grandes histórias que movimentam o cotidiano “comum”, mulheres da atualidade, consideradas anônimas, continuam fazendo história também.

Nos últimos dois anos, o número de mulheres empreendedoras que assumem a principal fonte de renda de suas casas subiu de 38% para 45%. Fatores como o desemprego, que segundo o IBGE aumentou 12,7% no primeiro trimestre de 2019, afetam diretamente a vida da população e são decisivos na hora da iniciativa em empreender. Ainda assim, a relação que a mulher moderna tem com o trabalho vai além da sobrevivência e permeia a possibilidade de autonomia de escolha, como conta uma das nossas entrevistadas.

– A mulher poder trabalhar, pra mim, representa reconhecimento, conquista e muita luta, porque por trás disso tudo houve muitos momentos em que mulheres tiveram que morrer pra lutar pelos seus direitos – afirma Marcelle Santana.

Marcelle, 18 anos, mora em Belford Roxo e administra, junto com a irmã Nathalia, 23, a Mar de Fotos (@marrdefotos no Instagram), loja virtual que tem os mais diversos tipos de impressão de fotos à disponibilidade do cliente, trazendo como carro chefe as fotos Polaroid.

Fotos produzidas pela Mar de Fotos

Ela conta que pela necessidade de complementar a renda que a mãe levava pra casa, e numa tentativa de não abrir mão de seu tempo de estudo para realizar o sonho de cursar medicina, teve a ideia de criar a Mar de Fotos, que logo foi acolhida por sua irmã, que é formada em Publicidade e pode aplicar seus conhecimentos na página. Falando em formação, as empreendedoras brasileiras possuem um nível de escolaridade 16% superior aos homens, mas continuam ganhando 22% a menos.

Essa disparidade salarial entre os gêneros é rastro forte deixado pelo machismo, que é perpetuado até hoje, apesar da incansável luta para que esse cenário mude. Mayra Pinheiro, 19, outra mulher entrevistada pelo Jornal Povo, conta que já foi alvo de machismo por parte de um ex namorado.

– Já tive um relacionamento que terminou porque ele não soube lidar com a minha construção profissional. Para a maioria dos homens, teoricamente a mulher deveria estar em casa, lavando e passando ao invés de liderar. Ouvi muitos  “será que você vai dar conta de conciliar trabalho, curso, projetos?” – conta.

Mayra, 19, assim como Marcelle, deu início ao empreendedorismo desde cedo pela paixão que tem pela culinária. Começou vendendo palha italiana na escola (a @palhasdamay no Instagram), as vendas cresceram e ela enxergou nisso a possibilidade de um negócio que lhe desse retorno. Aumentou o catálogo passando a vender outros tipos de doce como brownie, cones trufados, e sua última empreitada foi a criação do Carioquinha do Peixe e Acarajé, onde vende peixe frito, acarajé, bobó de camarão e pirão, em Belford Roxo.

Palhas italianas produzidas pela Mayra

Quando perguntada sobre sua maior meta dentro de seu trabalho, Mayra fala sobre a relação que isso tem com o empoderamento.

– Trocar experiências e empoderar outras mulheres que empreendem ou que estão iniciando. Ser referência, poder chegar a lugares que muitas vezes dizem que são impossíveis.

 Marcelle também compartilha com Mayra o desejo pelo reconhecimento de seu trabalho.

– Que meu trabalho seja valorizado, que as pessoas valorizem mais também o hábito de revelar fotos, porque isso vai consequentemente me ajudar em relação às vendas e me ajudar a ficar mais estável.

O desejo por reconhecimento e valorização do próprio trabalho tem impulsionado também outras milhares de mulheres, que somam 24 milhões nos números do empreendimento brasileiro. E apesar da média de empreendedoras ser 43 anos de idade, isso não impede o envolvimento com os negócios surgirem desde cedo, como é o caso de nossas entrevistadas.

Elas representam a mudança significativa das quais a mulher tem sido protagonista nas últimas décadas. O estudo, por exemplo, antes sendo algo não considerado como espaço adequado para a mulher, hoje tem realidade diferente. Em 2016, o índice de ingresso de mulheres a educação, no Brasil, principalmente ao ensino superior, foi de 59%, reflexo de um progresso alcançado também por toda a América Latina.

Os direitos alcançados que, de fato, são condizentes ao dia a dia ainda crescem lentamente. Mas exemplos como os de Marcelle e Mayra, duas de milhares que têm feito a diferença, apontam para um futuro que pode ser muito mais igualitário. 

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