David Sousa teve o sonho de se tornar jogador de futebol quase interrompido em 2014 ao ser dispensado pelo Flamengo. Mas o talento falou mais alto e, quando o rival Botafogo lhe deu uma chance, ele a agarrou com força para, seis anos depois, estrear no profissional, se tornar capitão do sub-20 e um dos principais nomes da equipe para a disputa do Carioca da categoria.
A estreia do Botafogo na competição será contra o Volta Redonda, neste sábado, às 15h, no Cefat, em Niterói.
– Quando acabou a Copa São Paulo de Futebol Junior, a gente teve uma reunião com o Tiano Gomes (gerente da base), e ele disse que a gente não podia estar satisfeito com aquilo que a gente tinha apresentado. E para esse ano a gente quer levantar taça. O Valdir Espinosa nos deixou agora e ele falava bastante: “Só fica marcado quem bota a faixa de campeão”.
Ao longo dos últimos 18 anos, o zagueiro ganhou força de muita gente para seguir o sonho, mas um fã em especial tem sido fundamental na vida do garoto: Adilson. O avô coruja faz de tudo para que o neto consiga ser um atleta de sucesso: desde ensinar o caminho até Niterói nos primeiros dias de Botafogo até segui-lo em jogos e competições, inclusive viajar para acompanhá-lo na Copa São Paulo de Futebol Junior.
– Ele é meu fã. Sempre me ajudou e me incentivou. Nos jogos ele sempre fala, me joga para cima. Me corneta às vezes em campo, me deixando até estressado pelas cobranças. Mas tenho total carinho por ele, um cara excepcional. Desde que eu comecei no Botafogo, ele foi o cara que mais me incentivou. Ele mora no meu prédio, então todo dia que eu saio cedinho ele está lá para se despedir. Espero que ele tenha muitos anos de vida para me ver atuar no profissional.
Mas Adilson não esteve perto de Sousa em um dos momentos mais cruciais do início da carreira do zagueiro, quando foi titular do profissional nas duas primeiras rodadas da Taça Guanabara. O avô não acompanhou no estádio as partidas contra Volta Redonda e Madureira não porque não quis, mas por medo de não segurar a emoção.
“Meu avô está em todos os jogos, foi até para a Copinha. Nos jogos que fiz pelo profissional ele não foi, porque estava nervoso e ficou com medo de passar mal. Até tomou remédios de pressão”.
– Ele fica gritando o tempo todo: “Vai, Sousa!”. Quando vai para a cobrança de pênaltis, o estádio fica em silêncio, todos tensos, e ele aos berros para o adversário: “Vai perder!”. Também fica incentivando o Andrew (goleiro) para ele pegar os pênaltis.
Botafogo
– Cheguei aqui com 14 anos depois de ter sido dispensado do Flamengo. Fui na escolinha que comecei, e meu professor conseguiu um teste para mim no Botafogo. Demorei um mês e pouco para ter a resposta da aprovação, fiquei receoso de não passar. Fiquei agoniado, porque sou muito ansioso. Quando passei, meu pai falou que eu não iria, porque eu moro em Jacarepaguá e é muito longe de Niterói. Comecei a chorar, e meu tio, que já foi jogador de futebol (ex-volante Edu – jogou por Caracas e América), me ajudou a convencê-lo.
– Nos primeiros dias, meu avô foi comigo para me ensinar o caminho. O Caio Martins estava em reforma e, no começo, os treinos eram no CEFAT, ainda mais longe. Eu ficava meio com medo, era muito novo, mas deu tudo certo.
Espaço de destaque no Botafogo e Seleção sub-15
– No Flamengo eu não chegava a jogar, não pegava relação de jogo e, no Botafogo, comecei a evoluir e ter oportunidade frequentando ambiente de jogo. O Daniel, meu treinador no sub-15, me deu muito suporte. Na época, consegui ir para a Seleção Sub-15.
“Foram duas convocações. Uma para período de treinos e outra para um amistoso contra a Inglaterra”.
– Na época, um dirigente chamou meu para uma reunião e eu pensei ser algo de contrato. Meu pai esperou eu chegar do treino, e minha mãe queria filmar minha reação. Eu não estava entendendo nada, e meu pai deu a notícia: “Você foi convocado”. Fiquei sem acreditar. O ambiente da Seleção é totalmente diferente, tem tudo para que a gente possa se adaptar e executar os treinamentos da melhor maneira.
Rotina
– Eu levanto 5h20, pego o BRT e o metrô para chegar no clube por volta de 7h30 para treinar. Já me formei no ensino médio e vou começar o curso de inglês, e também estou tirando carteira de habilitação. Conversei com a nossa assistente social sobre fazer faculdade. É uma boa alternativa e vou conversar com minha família sobre isso.
Contrato profissional
O zagueiro teve o primeiro contrato profissional assinado em dezembro de 2018. O vínculo vai até julho de 2022 com multa rescisória de R$ 35 milhões para clubes do exterior.
“Eu fico muito feliz, o clube tem me dado total suporte, meu contrato é longo e quero ficar aqui por bastante tempo, atuar no profissional, conquistar títulos e dar alegrias para a torcida”.
Ídolos
– No geral, o Thiago Silva, que é um líder, muito profissional. No meu período no profissional percebi que os atletas são bem profissionais, pude ter uma experiência boa. Vi isso com o Diego Cavalieri também, que me ensinou bastante.
“Dentro do clube eu tenho como referência o Marcelo Benevenuto, que também era da base e foi ganhando o espaço dele no profissional. Está arrebentando. Meu principal objetivo é subir para o profissional e, como o Marcelo fez, buscar o meu espaço e pensar em seleção brasileira e voos maiores”.
Pré-temporada no Espírito Santo
Em janeiro deste ano, o elenco profissional do Botafogo fez a pré-temporada no CT do China Park, em Domingos Martins, no Espírito Santo. Sousa ficou um período treinando lá até ser informado que retornaria ao Rio de Janeiro para jogas as duas primeiras rodadas da Taça Guanabara.
– Logo depois uma eliminação na Copinha, eu recebi a notícia que ia para a pré-temporada. Aproveitei muito os dias de treinamento com o Alberto Valentim, ele me ensinou bastante coisa, me deu total confiança. Antes de a gente voltar, ele conversou comigo, falou para eu ficar tranquilo e que confiava em mim, por isso eu iria começar a partida. Os atletas mais experientes me deram confiança também, pediram para eu fazer o simples e o que estou acostumado.
“Quando eu soube que ia jogar na estreia do Carioca, eu fiquei bem nervoso. Só foi cair a ficha depois do jogo. Passa um filme na cabeça de todos os momentos que vivi. Fiquei feliz pela confiança que o clube me deu”.
Contato com Keisuke Honda
– Passei alguns dias no profissional, e eu estava quando ele chegou. É um cara que tem muita facilidade para achar os passes. Vi ele na academia se esforçando, chegando mais cedo, que é um costume dos profissionais. Hoje eu posso chegar no sub-20 mais cedo e ensinar para quem está subindo agora: “Vem fazer uma academia, vamos aperfeiçoar, treinar uma falta”.
Fonte: Globoesporte