Jornal Povo

Ameaça do coronavírus e restrição a aglomerações fazem o Rio se recolher

No início, o coronavírus mudou o cenário de ambientes limitados — hospitais, aeroportos, a casa de pacientes. Mas na noite desta sexta-feira, horas após a assinatura de um decreto estadual que combate aglomerações, o Rio começou a se transformar.

Temendo a escassez de alimentos, os cariocas correram para o mercado. João Gabriel Santarém, de 31 anos, assistente de direitos musicais, adiantou as compras do mês em um supermercado na Zona Sul do Rio. Mudou sua programação “um pouco por prevenção, um pouco por pânico”. Encontrou diversas gôndolas vazias.

— Comprei mais papel higiênico, arroz, feijão e água. Procurei também alguns produtos enlatados e legumes, mas já acabaram — explicou.

João Gabriel Santarém antecipou as compras do mês e teme que restrição a acesso a supermercados provoque um 'pandemônio'
João Gabriel Santarém antecipou as compras do mês e teme que restrição a acesso a supermercados provoque um ‘pandemônio’ Foto: ROBERTO MOREYRA / Agência O Globo

Parte das compras de Santarém será para sua cunhada, que está de quarentena em casa, com suspeita de coronavírus.

Mais cedo, o governador Wilson Witzel assegurou que não haveria risco de desabastecimento no estado. E afirmou que poderia fechar supermercados onde houvesse aglomerações.

— Não acho que restringir o acesso ao mercado seja uma boa solução para conter o coronavírus — condenou Santarém. — Pode transformar a pandemia em pandemônio.

A Feira de São Cristóvão, como é chamado o Centro Municipal Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, estava praticamente deserta na sexta-feira à noite. Diversos restaurantes estavam vazios, algumas lojas fecharam mais cedo e apenas uma mulher acompanhava um show no palco principal. O funcionamento da feira também será suspenso para conter a disseminação do coronavírus.

Lojas e restaurantes ficaram vazios à noite na Feira de São Cristóvão
Lojas e restaurantes ficaram vazios à noite na Feira de São Cristóvão Foto: ROBERTO MOREYRA / Agência O Globo

A lojista Janira Salvador, de 50 anos, que vende produtos como bijuteria, bolsas e brinquedos, viu o movimento de seu estabelecimento cair 70% em menos de um mês. Durante o trabalho, passa avidamente álcool-gel em suas mãos.

— Tomo um banho de álcool por hora, já que muitas pessoas pagam com dinheiro, que passa de mão em mão — assinalou. — Assim como os frequentadores da feira, também tenho medo do coronavírus. Todos estão virando prisioneiros em suas casas. Meu filho está me incentivando a ir para o mercado e estocar alimentos.

Presidente da Associação dos Feirantes da Feira de São Cristóvão, integrada por 643 comerciantes, Flávio Xavier condenou o fechamento do local.

— Restringir o público é uma coisa, fechar é uma medida muito mais séria. Como vamos pagar nossas contas? — questionou. — É um ano eleitoral, então as autoridades apelam para estas prerrogativas (como o decreto do governo do estado).

O coronavírus não assustou os frequentadores da Lapa, cujos bares continuavam cheios — as casas de shows, no entanto, terão a atividade temporariamente suspensa. E, no WhatsApp, circula uma corrente convocando foliões para um bloco carnavalesco: “Vamos juntar nossa alegria e nossas máscaras cirurgicas contra o Covid-19”.

Mesmo diante dos limites a aglomerações, nem todo o Rio está disposto a se render à pandemia mundial.

Fonte: Jornal Extra