BRASÍLIA — Primeiro parlamentar diagnosticado com o Covid-19, o senador Nelsinho Trad (PSD-MS) teve uma rotina intensa no Congresso antes de saber que estava infectado com o coronavírus. Participou de audiências com senadores, de reuniões com ministros e da sessão que derrubou o limite da renda familiar per capita para acesso ao benefício de Prestação Continuada (BPC), com outros 498 parlamentares — 439 deputados e 59 senadores — que participaram da votação.
— Eu abracei meio Congresso. Você entra lá dentro, vindo de uma viagem internacional, e acaba abraçando os caras. A gente gosta deles. Eles gostam da gente. A gente abraça, pergunta como foi (a viagem). Estive com Rodrigo Maia, com Davi Alcolumbre, com Paulo Guedes, com Mandetta, com Ramos, numa reunião em que falei que deveríamos tomar providência e ter disciplina. Não precisamos esperar morrer um para depois fazer o que tem de fazer — afirmou Trad, referindo-se aos ministros da Economia, Saúde e Secretaria de Governo.
Presidente da Comissão de Relações Exteriores, Trad presidiu a reunião da Representação Brasileira no Parlamento do Mercosul (CPCMS) no Senado. Ele também esteve como embaixador da Síria, Mohamad Khafif.
O senador afirmou “ter certeza” que foi infectado dentro da aeronave presidencial. Ele integrou a comitiva do presidente Jair Bolsonaro aos Estados Unidos e diz ter vindo sentado na poltrona à frente do secretário de Comunicação da Presidência, Fabio Wajngarten, que foi diagnosticado com Covid-19.
— Eu tenho certeza que peguei no avião. Eu estava no banco “um” e ele (Fabio) estava no “dois”, logo atrás de mim. Qualquer tossida ou espirro dele vinha na minha nuca. Do lado dele estava o Filipe Martins (assessor especial da Presidência, que teve resultado negativo para coronavírus) — disse Trad, lembrando que Fabio apresentava sintomas de gripe. Trad decidiu fazer exame após a confirmação positiva de Wajngarten.
Trad diz estar em isolamento na sua residência, no Mato Grosso do Sul. Ontem, ao ter resultado positivo confirmado, Trad recebeu uma ligação do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), dizendo que iria visitá-lo para dar “um abraço”, mas o senador o orientou a não ir. Ele diz que mulher e filha também estão isolados, e que está tomando precauções, como separar objetos pessoais dentro de casa.
— Comecei a sentir os sintomas leves de uma gripe três dias depois da viagem. Estou seguindo aquelas orientações básicas que a avó da gente fazia quando tinha hepatite, de não misturar copos. Quando pintava com esmalte o copo e o talher, para não misturar com o dos outros — contou.
O senador conversou com Davi Alcolumbre sobre o risco do vírus se espalhar no Congresso. Os plenários da Câmara e do Senado ficam nas famosas cúpulas projetadas por Oscar Niemeyer. São ambientes fechados, sem janelas, sem circulação de ar e com carpetes.
— É o ambiente que o vírus gosta, qualquer vírus. É um ambiente fechado, com mais de 500 pessoas. Mas Davi a princípio vai manter as sessões da semana que vem, mas está na expectativa de outros desdobramentos — disse Trad.
Fonte: Jornal Extra