Uma declaração do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) responsabilizando a China pela pandemia de coronavírus provocou uma crise diplomática com o país. Por meio de seu embaixador no Brasil, Yang Wanming, o país asiático, que é o principal parceiro comercial do Brasil, manifestou veemente repúdio a uma declaração de deputado, chegando a dizer que o filho do presidente Jair Bolsonaro “contraiu um vírus mental” em Miami.
“A parte chinesa repudia veementemente as suas palavras, e exige que as retire imediatamente e peça uma desculpa ao povo chinês. Vou protestar e manifestar a nossa indignação junto ao Itamaraty e a Câmara dos Deputados”, disse Yang no Twitter.
“As suas palavras são um insulto maléfico contra a China e o povo chinês. Tal atitude flagrante anti-China não condiz com o seu estatuto como deputado federal, nem a sua qualidade como uma figura pública especial. Além disso, vão ferir a relação amistosa China-Brasil”, acrescentou.
A conta oficial da Embaixada da China disse que as palavras de Eduardo “são extremamente irresponsáveis e nos soam familiares. Não deixam de ser uma imitação dos seus queridos amigos. Ao voltar de Miami, contraiu, infelizmente, vírus mental, que está infectando a amizades entre os nossos povos”.
Yang disse também que Eduardo Bolsonaro “precisa assumir todas as suas consequências”.
Mais cedo, o filho do presidente, que atua como chanceler informal do governo e foi cotado para ser embaixador do Brasil em Washington, escreveu uma mensagem em que responsabilizou a China pela disseminação global do coronavírus.
“Quem assistiu Chernobyl vai entender o q ocorreu.Substitua a usina nuclear pelo coronavírus e a ditadura soviética pela chinesa. Mais uma ditadura preferiu esconder algo grave a expor tendo desgaste, mas q salvaria inúmeras vidas A culpa é da China e liberdade seria a solução”, escreveu Eduardo no Twitter.
O deputado também passou adiante uma mensagem dizendo que “A culpa pela pandemia de Coronavírus no mundo tem nome e sobrenome. É do Partido Comunista Chinês”.
O comportamento de Eduardo mimetiza o do presidente dos Estaods Unidos, Donald Trump, que tem chamado a Covid-19 de “o vírus chinês”, expressão considerada racista. Em uma entrevista nesta quarta-feira, Trump voltou a usar o termo, falando em uma “guerra dos EUA contra o vírus chinês”.
— Não sei se podemos dizer que a China é culpada— disse Trump. — Mas veio da China e não há dúvidas sobre isso.
A China é o maior parceiro comercial do Brasil, que figura entre as principais fontes de investimento estrangeiro direto no país. Em 2019, a balança comercial com o país asiático teve superávit de mais US$ 30 bilhões de dólares: o Brasil exportou US$ 65,3 bilhões, e importou US$ 35,8 bilhões.
A China controlou internamente a pandemia de coronavírus, e não reportou nenhum caso de contaminação nesta quinta-feira (hora local). O país tem buscado usar a pandemia e o controle interno dela no país como uma poderosa arma de soft power, oferecendo auxílio técnico e financeiro a diversos países.
Nesta quarta-feira, o governo chinês anunciou que enviará mais de dois milhões de máscaras à União Europeia (UE) para combater o novo coronavírus, alegando que “a luta contra a doença é global e devemos nos ajudar nesses tempos difíceis”. O material a ser entregue “em breve” incluirá 2 milhões de máscaras cirúrgicas, 200 mil máscaras N-95 e 50 mil testes de triagem.
O governo chinês está ansioso para reivindicar vitória no que o líder da China, Xi Jinping, descreveu como uma “guerra popular” contra o vírus. Neste sentido, empreende uma campanha abrangente para eliminar a dissidência da esfera pública, censurando reportagens, assediando jornalistas independentes e fechando sites de notícias.
Fonte: O Globo