Jornal Povo

Ibovespa cai 30% em março, maior queda mensal em 22 anos

Saldo final dos mercados neste março de 2020, terminado nesta terça-feira (31): a epidemia de coronavírus virou pandemia; a economia mundial entrou em processo de contração; o preço do dólar disparou; e o Ibovespa deixou dois dígitos de perdas para para trás.

O Ibovespa fechou março acumulando queda de 29,90%, aos 73,019 pontos. Foi a maior queda num só mês desde 1998, em meio à crise russa. Já o dólar comercial, com alta acumulada de 15,96%, teve seu maior rali desde setembro de 2011, indo aos R$ 5,1960.

maior parte do vendaval, de aversão ao risco nas alturas, aconteceu entre os dois 9 e 18 de março. Aqui no Brasil, entre apenas oito pregões, numa sequência inédita, o circuit breaker precisou ser acionado seis vezes na B3. Isso acontece quando o Ibovespa entra em queda livre de 10%, e os negócios são congelados para evitar o esfarelamento dos preços de ações.

Numa queda de 15% após a reabertura, o botão de pânico precisa ser apertado pela segunda vez, paralisando negócios por uma hora. É raro, mas os tempos que vivemos também não são típicos, e isso chegou a acontecer por aqui uma vez. Foi a cereja do bolo deste mês.

A primeira injeção de pânico nos mercados veio da queda dos preços do petróleo. Na segunda semana do mês, os contratos futuros negociados em Londres e Nova York caíram 30% logo na abertura.

Arábia Saudita e Rússia estão em guerra de preços. Os árabes defendiam entre a Organização de Países Exportadores de Petróleo (Opep) e seus aliados cortassem produções para conter a queda de preços em meio à baixa demanda. Só que os russos bateram o pé, e os árabes radicalizaram, cortando preços e aumentando a produção. E os russos, em vez de ceder, decidiram fizeram o mesmo.

Os contratos para venda futura de petróleo em Londres (Brent, referência mundial) caíram 60% em março, indo aos US$ 26,35 por barril. Em Nova York (WTI, referência da indústria americana), tombo de 54%%, com os barris indo aos US$ 22,74.

Na renda fixa, simbolizando com perfeição a draga de março, os depósitos em caderneta de poupança feitos até 3 de maio de 2012, antes de mudanças nas regras, apresentaram o melhor resultado, com retorno de 1,51%.

onda de pânico no mercado cresceu depois que a Organização Mundial da Saúde (OMS), que até então dizia lidar com uma epidemia, reclassificou o novo coronavírus como pandemia. Na prática, significa que os governos não tiveram sucesso em impedir o Covid-19 de se espalhar. E que, agora, esforços não só de contenção do contágio são necessários. Países precisam se preparar também para atender um número crescente de doentes.

O clima ficou ainda mais tenso quando o presidente americano, Donald Trump, anunciou o fechamento das fronteiras dos Estados Unidos para viajantes vindos da Europa. Era uma tentativa de impedir que o coronavírus afetasse mais o país, que termina o mês como o principal epicentro da doença no mundo.

Nestes últimos pregões de março, fica a impressão de que o pior já pode ter passado para o mercado. Ou, como gostam de dizer investidores e analistas, todas as informações em mãos já foram “precificadas” pelos ativos.

Com a contração da atividade econômica de todos os países, cujas profundidade e duração seguem incertas, haja estímulos para evitar um avanço maior da quebradeira de empresas, do desemprego, e do aumento da pobreza. Mas os Estados Unidos fizeram lá a sua parte, e trouxeram alguma calmaria aos mercados.

O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) zerou seus juros no começo do mês, depois de dois cortes emergenciais que fizeram o mercado tremer num primeiro momento. A estratégia adotada incluiu ainda um programa de recompra ilimitada de títulos públicos ou lastrados em hipotecas, prometendo fazer chover os dólares necessários para que os mercados reencontrem alguma estabilidade.

Nos últimos pregões, colaborou para diminuir a intensidade do sobe e desce a aprovação de um pacote econômico de US$ 2 trilhões no Congresso americano, com o objetivo principal de diminuir impactos econômicos da pandemia. O Goldman Sachs prevê para a atividade americana uma queda de nada menos que 30% no próximo trimestre. Naturalmente, se isso acontecer com a maior economia do globo, as demais vão para o buraco junto.

Com essa sensação calando fundo no coração do investidor, o ouro negociado na B3 acumulou alta de 15,24%, algo esperado para um ativo em que o investidor tradicionalmente busca segurança. Mas a foto do fim do mês não mostra o que foi o filme.

Em boa parte das sessões, o ouro chegou a cair mesmo com as bolsas derretendo, algo muito atípico. O movimento era resultado, principalmente, da falta de dinheiro em mãos do investidor em meio às perdas. Com a necessidade de se desfazer das reservas em ouro guardas em outros temos, e com suas ações já suficientemente desvalorizadas, os preços do ouro foram levados a cair junto ao preço de ações.

Nesta terça-feira, depois de um pregão de alta moderada nas bolsas, nem mesmo sinais de melhoria na economia chinesa, neste último pregão da semana, foram capazes de fazer o Ibovespa subir. Nos momentos finais do pregão, com bolsas americanas aprofundando o mergulho, o índice brasileiro foi atrás.

No fim do dia, o Ibovespa caía 2,17%, com 17 de suas 73 ações em carteira no positivo.

Depois de forte retração dos setores industrial e de serviços na China, em fevereiro, a atividade voltou a se expandir por lá, ligeiramente, em março. Mas não bastou para animar a ida às compras aqui no Brasil. Os negócios estão com o ritmo ainda mais correlacionado no país com as transações feitas em Nova York.

Na cidade americana, os números crescentes de vítimas por coronavírus lembram que, apesar da recuperação parcial de pregões recentes, estamos diante do maior colapso econômico e sanitária de que temos notícias. No acumulado do mês, o índice S&P 500, que reflete o sobe e desce de 500 papéis listados nos Estados Unidos, acumulou queda de 12,5%.

Veja, abaixo, como fecharam as bolsas de Wall Street nesta terça:

  • Dow Jones: -1,84% (21.917 pontos)
  • S&P 500: -1,60% (2.584 pontos)
  • Nasdaq: -0,95% (7.700 pontos)

Já na Europa, em que o Stoxx 600, índice que mede o desempenho de uma carteira de 600 ações negociadas no continente, acumulou queda de 15% em março.

Confira o placar final, nesta terça, dos cinco principais índices de bolsa nacionais por lá, em que os números chineses surtiram efeito positivo:

  • Londres: +1,95% (5.671 pontos)
  • Madri: +1,88% (6.785 pontos)
  • Frankfurt: +1,22% (9.935 pontos)
  • Milão: +1,06% (17.050 pontos)
  • Paris: +0,40% (4.396 pontos)

Na bolsa brasileira, o sinal de retomada da China acendeu o alerta para investidores apostarem em exportadoras da B3, que tem nos chineses seus principais compradores internacionais.

No topo dos ganhos desta terça quando a bolsa fechou – já bem menos gordinhos que na abertura, é verdade –, ficaram as ações da Suzano, com alta de 5,30%. O setor de celulose, do qual faz parte também a Klabin, cujas ações subiram 1,65%, promete recuperação nos próximos tempos, com coronavírus e tudo o mais.

As ações ordinárias (ON, que dão direito a voto em assembleias) da Petrobras, subiram 5,21%, na vice-liderança do dia. Na sequência, as preferenciais (PN, que dão preferência por dividendos) ganharam 4,56%.

Os papéis da Vale, em linha com a alta de 0,4% do preço do minério na China, subiram 3,47%. Entre as empresas de siderurgia, outras altas, com as ações da Metalúrgica Gerdau em alta de 3,33%, liderando no setor.

O frigorífico BRF, que teve sua avaliação de risco medida pela S&P rebaixada de “positiva” para “estável”, subiu 4,00%.

No entanto, apesar dessas altas, os bancões da B3 caíram em bloco, sendo a maior das derrocadas da ação do Itaú Unibanco, de 4,23%. Eles estão na mira das varejistas, que enviaram carta ao Banco Central e ao Ministério da Economia reclamando de taxas supostamente abusivas para uma pandemia.

As empresas ligadas ao consumo, aliás, também tombaram em bloco, após a subida de pregões recentes, com investidores indo atrás de pechinchas após vários circuit brakers. Nesta sessão, pagaram pela perspectiva de isolamento social prolongado pela frente os papéis da Natura, caindo 6,16%; da rede de shoppings Br Malls, 7,59%; da concorrente Multiplan, de 8,93%; e da B2w (Submarino, Shoptime, Americanas.com), 5,86%.

Voltaram a ficar em baixa, depois de algumas altas motivadas por promessa de socorro do governo, as empresas ligadas ao turismo. Elas têm tido os custos, majoritariamente em dólar, pressionados a subir. Já as receitas, majoritariamente em reais e rareando com a interrupção do fluxo de passageiros, são raras.

Os papéis da companhia de viagens CVC fecham março em queda diária de 14,29%. Os da empresa de milhagens da Gol, a Smiles, de 9,52%; da aérea Gol, de 7,56%; e da Azul, de 8,07%.

No mês, a ação do Ibovespa com melhor desempenho foi a do Carrefour. Detalhe: não subiu, foi a que menos caiu, 0,29% no acumulado de março. Investidores têm trocado suas ações de varejistas de produtos não essenciais, que na quarentena só funcionam pelo e-commerce, por de supermercados, que seguem funcionando normalmente.

As 20 “menos piores” de março no Ibovespa

PapelCódigoVariação (%)Cotação
CARREFOUR BR ONCRFB3-0,2920,63
VALE ONVALE3-2,4643,22
SUZANO PAPEL ONSUZB3-6,1635,79
RUMO ONRAIL3-6,9619,65
TELEFONICA BRASIL PNVIVT4-7,1449,45
P.ACUCAR – CBD ONPCAR3-8,0066,34
JBS ONJBSS3-10,4020,34
BRADESPAR PNBRAP4-12,6729,16
TAESA UNITTAEE11-13,8725,83
RAIADROGASIL ONRADL3-14,96101,85
HYPERA ONHYPE3-15,9828,59
KLABIN S/A UNTKLBN11-16,9415,99
AMBEV ONABEV3-18,0211,92
ENGIE BRASIL ONEGIE3-18,1138,92
ENERGIAS BR ONENBR3-20,3116,28
BBSEGURIDADE ONBBSE3-21,9824,85
WEG ONWEGE3-22,1433,57
B2W DIGITAL ONBTOW3-22,7748,00
MAGAZINE LUIZA ONMGLU3-22,8238,99
TIM PART ONTIMP3-22,8812,44

Nas baixas acumuladas, quem mais caiu foi a ação do IRB Brasil, 70,89%. Mas tem menos a ver com o coronavírus, e mais com os problemas internos na empresa.

As piores de março no Ibovespa

PapelCódigoVariação (%)Cotação
IRB BRASIL RESSEGUROS ONIRBR3-70,899,68
SMILES ONSMLS3-62,3212,35
VIA VAREJO ONVVAR3-61,775,28
AZUL PNAZUL4-60,5117,55
COGNA ONCOGN3-60,364,00
YDUQS PART ONYDUQ3-57,2822,17
CVC BRASIL ONCVCB3-56,8611,10
GOL PNGOLL4-55,5911,37
CYRELA REALT ONCYRE3-52,6314,13
BTGP BANCO UNTBPAC11-50,8033,24
PETROBRAS ONPETR3-47,9214,14
LOCALIZA ONRENT3-46,8026,30
PETROBRAS PNPETR4-44,7913,99
BRF S.A. ONBRFS3-44,1915,09
EMBRAER ONEMBR3-43,759,54
GRUPO NATURA ONNTCO3-43,4425,74
GERDAU MET PNGOAU4-41,364,65
PETROBRAS BR ONBRDT3-40,5715,51
GERDAU PNGGBR4-40,5310,05
BRASIL ONBBAS3-40,2327,89

Veja agora qual foi o desempenho das 73 ações do Ibovespa neste último dia de pregão em março, no qual movimentaram R$ 18,9 bilhões.

As 73 do Ibovespa (31/3/20)

CódigoNomeAberturaMínimaMédiaMáximaFechamentoVar. %
COGN3COGNA ON ON NM4,693,974,334,774,00-20,95
YDUQ3YDUQS PART ON NM26,6821,9824,0826,6822,17-17,18
CVCB3CVC BRASIL ON NM12,5011,0011,8312,7211,10-14,29
IGTA3IGUATEMI ON NM35,1531,0632,2335,1531,25-11,02
CYRE3CYRELA REALTON NM15,5814,1314,7415,5814,13-10,00
IRBR3IRBBRASIL REON NM10,999,3710,1110,999,68-9,87
SMLS3SMILES ON NM13,8111,9012,6714,2512,35-9,52
MULT3MULTIPLAN ON N220,7419,0819,9221,0819,08-8,93
RENT3LOCALIZA ON NM28,8425,5027,2929,3026,30-8,36
AZUL4AZUL PN N219,5017,2018,0519,6517,55-8,07
BPAC11BTGP BANCO UNT N236,0832,5634,3036,4033,24-7,87
BRML3BR MALLS PARON NM10,709,8010,1410,819,98-7,59
GOLL4GOL PN N212,4511,2511,8312,6911,37-7,56
ECOR3ECORODOVIAS ON NM10,169,259,6810,169,45-7,35
HYPE3HYPERA ON EJ NM30,7028,1429,2030,7028,59-6,87
CIEL3CIELO ON NM4,794,374,574,894,44-6,72
GNDI3INTERMEDICA ON ED NM47,3744,0446,4148,5844,96-6,33
MGLU3MAGAZ LUIZA ON NM42,4838,8141,1343,2038,99-6,27
TIMP3TIM PART S/AON NM13,1012,2712,6313,1712,44-6,25
NTCO3GRUPO NATURAON NM27,5024,8025,9427,5025,74-6,16
MRVE3MRV ON NM13,0411,9512,5213,1312,24-6,13
LREN3LOJAS RENNERON EJ NM35,5032,7334,4736,1933,56-5,97
BTOW3B2W DIGITAL ON NM50,7647,3548,9451,0448,00-5,86
SULA11SUL AMERICA UNT EJ N235,6833,6734,4935,9633,80-5,85
HAPV3HAPVIDA ON NM45,0342,0044,0546,5042,40-5,84
JBSS3JBS ON NM21,1920,3420,7821,4820,34-5,70
LAME4LOJAS AMERICPN N119,0117,6718,2419,3018,00-5,46
SANB11SANTANDER BRUNT27,8026,1826,9928,1126,67-5,43
ABEV3AMBEV S/A ON12,4011,8512,0712,4011,92-5,02
CCRO3CCR SA ON NM12,1911,6412,0112,4511,73-4,56
CRFB3CARREFOUR BRON NM21,4920,2220,7121,5820,63-4,40
ITUB4ITAUUNIBANCOPN N123,9522,8123,3424,2523,09-4,23
SBSP3SABESP ON NM40,6437,4939,0340,6439,11-4,17
BBAS3BRASIL ON NM29,2027,4328,4929,5027,89-3,79
BBDC4BRADESCO PN N121,2520,4021,0121,4920,77-3,44
CSAN3COSAN ON NM55,3653,7155,1957,3453,76-3,27
VVAR3VIAVAREJO ON NM5,505,205,445,655,28-3,12
B3SA3B3 ON EDJ NM35,8935,0336,1537,1635,90-2,97
BRKM5BRASKEM PNA N117,8017,0617,6918,2517,22-2,71
HGTX3CIA HERING ON NM15,3114,5114,9615,6614,88-2,43
RADL3RAIADROGASILON EJ NM103,9399,52102,68105,00101,85-2,39
BBDC3BRADESCO ON N118,9318,3518,8719,2418,81-2,29
EGIE3ENGIE BRASILON NM39,4638,6039,4840,4338,92-2,21
CMIG4CEMIG PN N19,118,739,099,448,91-2,20
FLRY3FLEURY ON NM20,8019,6720,4520,9320,24-1,99
QUAL3QUALICORP ON NM23,9122,9923,8224,4623,60-1,99
ELET6ELETROBRAS PNB N126,6025,4926,3828,1326,03-1,55
BRDT3PETROBRAS BRON NM15,8015,4015,6215,9715,51-1,52
WEGE3WEG ON EJ NM34,0932,9634,1535,4433,57-1,32
CSNA3SID NACIONALON7,066,977,227,456,98-1,13
MRFG3MARFRIG ON NM9,208,859,119,408,85-1,12
RAIL3RUMO S.A. ON NM19,6219,2719,8620,7019,65-0,76
ITSA4ITAUSA PN N18,818,618,808,998,77-0,57
UGPA3ULTRAPAR ON NM12,7012,2512,5812,9112,53-0,56
TOTS3TOTVS ON NM46,3045,6046,6447,5446,68-0,55
ENBR3ENERGIAS BR ON NM16,1615,9416,5616,9916,28-0,06
EQTL3EQUATORIAL ON NM17,5017,1217,7718,3517,600,06
VIVT4TELEF BRASILPN49,1449,0049,8150,6649,450,12
BBSE3BBSEGURIDADEON NM24,7824,0124,7725,3824,850,24
KLBN11KLABIN S/A UNT N216,0615,7616,4417,0515,991,65
PCAR3P.ACUCAR-CBDON NM63,8763,8765,6466,4966,342,06
BRAP4BRADESPAR PN N128,6528,4529,4930,2729,162,07
TAEE11TAESA UNT N225,3025,3025,8026,1525,832,22
ELET3ELETROBRAS ON N123,9523,1524,1925,5023,862,36
EMBR3EMBRAER ON NM9,509,379,629,979,542,36
GGBR4GERDAU PN N19,919,9110,2710,7110,052,76
USIM5USIMINAS PNA N14,834,805,015,174,922,93
GOAU4GERDAU MET PN N14,554,504,684,874,653,33
VALE3VALE ON NM42,3042,2243,4444,4943,223,47
BRFS3BRF SA ON NM14,5214,3115,0015,6215,094,00
PETR4PETROBRAS PN N213,6013,6014,0414,5413,994,56
PETR3PETROBRAS ON N213,5813,5314,2214,7514,145,21
SUZB3SUZANO S.A. ON NM34,9234,0236,1037,3935,795,30