Maracanã, dia 1º de abril de 2000. Os jogadores do Flamengo estão no gramado aguardando o início do jogo contra o Olaria, pelo Campeonato Carioca. De repente, da saudosa geral, vem o grito de um pequeno grupo de torcedores:
– Ão, ão, ão, Maurinho é Seleção!
O lateral percebe na hora que é brincadeira. É o Dia da Mentira, e o esforçado jogador já havia vivido momentos de pressão no Flamengo. Mas não perde a esportiva: vira para os companheiros e entra na zoeira:
– Viu a moral?
Os torcedores completam a pilha com os gritos de “il, il, il, primeiro de abril”. Os repórteres no campo logo percebem a situação e a relatam em seus veículos. E a brincadeira de um pequeno grupo de torcedores geraldinos ganha grandes proporções.
Mesmo 20 anos depois do episódio, Maurinho não se importa de falar sobre aquele momento. Só faz questão de afirmar que em momento algum acenou para a torcida, como as versões mais saborosas da história contam. Para ele, aquela brincadeira foi saudável e mostrou, na verdade, que o pior já havia passado.
– Percebi na hora que era sacanagem! Todo mundo sacou. Falei com alguns jogadores na hora, e ríamos. Depois houve algumas gozações no vestiário, mas nada naquele dia me incomodou. Aquele momento foi o início de uma virada da pressão para o momento de apoio – contou o ex-lateral, hoje treinador do Serrano, de Petrópolis.
Um dos repórteres a ajudar a imortalizar o episódio foi Eric Faria, da TV Globo. Ele estava no campo e citou o fato na transmissão ao vivo da partida.
– O coro começou ali na geral. De certa forma, não ganhou o estádio. Não houve uma grande manifestação na arquibancada. Mas gerou muita risada. Todo mundo que estava por ali e ouviu não segurou o riso. Foi muito surpreendente – lembrou o repórter.
Vitória e “grande atuação”
Passada a zoação, o Flamengo conquistou com tranquilidade uma vitória por 2 a 0, gols de Tuta e Reinaldo, ambos no segundo tempo (veja no vídeo acima). Maurinho lembra que teve atuação de destaque na partida. Para ele, aquela fase já era bem mais tranquila, após, principalmente, a conquista da Mercosul em 1999.
– Me lembro bem daquele dia, pois fiz uma grande partida. Tive, sim, um carinho em forma de brincadeira da torcida. Sei bem do que estou falando, pois foram seis anos jogando pelo Flamengo e sete títulos conquistados. Aprendi a entender a massa, quando a cobrança era leve descontraída ou quando o bicho ia pegar… Aquele Carioca foi o campeonato em que percebi que tinha um respeito sincero da torcida.
Maurinho chegou ao Flamengo em 1997, vindo do Bragantino. A princípio, jogaria de volante, sua posição de origem, mas acabou deslocado para a lateral direita. Seu começo foi difícil, com muitas críticas da torcida. Aos poucos, porém, o jogador conquistou seu espaço. Para ele, o time como um todo sofria pressão.
– O que ocorreu foi que vínhamos de vice-campeonatos (Copa do Brasil de 1997), e o Vasco ganhando Brasileiro, Libertadores. A pressão era enorme… Depois que vencemos o Carioca e a Mercosul em 1999, começou a clarear. No bi de 2000, o ambiente ficou leve. O torcedor até hoje me para na rua e fala o quanto fui importante, que era guerreiro.
Maurinho, o treinador
Maurinho deixou o Flamengo em 2002. Passou por clubes como Coritiba, Paysandu e Náutico. Após encerrar a carreira, começou a se preparar para ser treinador.
Em seu primeiro trabalho, assumiu o Mageense e foi campeão da Série C do Carioca, em 2018. No ano seguinte, comandou o Barra Mansa na Série B2 e chegou à semifinal do torneio.
No início de 2020, Maurinho foi anunciado como novo técnico do Serrano, de Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro. O time está atualmente na Série B1 do Campeonato Carioca.
Fonte: Globoesporte