Jornal Povo

Exército faz estudo sobre retomada do País após a crise da COVID-19

Testar em massa os brasileiros, agir rapidamente para isolar novos infectados e tentar manter o isolamento dos grupos de risco são as estratégias defendidas pelo Centro de Estudos Estratégicos do Exército (CEEEx) para o momento em que o País decidir pela retomada das atividades econômicas. O estudo foi publicado na quinta-feira pelo CEEEx, um órgão do Estado-Maior de Exército.

O estudo feito pelo CEEEx é uma rotina do órgão. Assim como o Observatório da Praia Vermelha, o centro tem desenvolvido cenários sobre a evolução, o documento acabou sendo interpretado como mais uma manifestação técnica no governo que se opõe à visão do presidente da República Jair Messias Bolsonaro de lidar politicamente com a crise, o que o Exército nega. Diante da repercussão, o Exército decidiu retirar o conteúdo do ar para evitar polêmicas.

O documento estabelece dois caminhos para a abertura: o primeiro deles é a transição direta do isolamento horizontal – atualmente adotado pela maioria dos Estados brasileiros com maior ou menor grau. Essa transição é comparada pelos militares com a estratégia usada em Taiwan, Cingapura e Coreia do Sul. Ela se baseia na adoção de testes em massa, no isolamento rápido dos infectados e na comunicação imediata dos casos.

Exército faz estudo sobre retomada do País após a crise da covid ...
Gabriela Biló/Estadão

O segundo caminho identificado pelo CEEEx foi chamado pelos responsáveis pelo estudo de “estratégia de sequenciamento ou mista”. Nela, o País alternaria quinze de isolamento horizontal com o vertical em razão do tempo necessário de quarentena para o coronavírus (14 dias). Haveria revesamento de atividades permitidas com dias e horários pré-determinados e limite para a presença de pessoas em lojas. Haveria ainda a adotação de distância obrigatória entre as pessoas e limites no transporte púbico, além de serem mantidas as proibições de aglomerações.

Por fim, os militares reconhecem que a situação brasileira tem especificidades que devem ser levada em conta. A primeira delas é a dimensão do País muito diferente dos países asiáticos onde as duas estratégias de retorno à normalidade foram aplicadas. Além disso, o estudo chama a atenção para o fato de grandes contingentes populacionais viverem em ambientes precários e superpovoados nas grandes cidades ocupando comunidades carentes. O saneamento básico precário, deficiências no sistema hospitalar e “características culturais diversas” também devem ser levados em consideração.

“Consenso tem de ser construído de forma urgente. Não parece razoável quebrar de governabilidade num momento tão crítico”, afirma o estudo. O documento ainda diz que o País deve ter deve ter “vontade de mobilizar todos os recursos da nação”. “Fica claro que o objetivo principal será o de proteger vidas. Mas isso não pode ser atingido sem os meios necessários. Para isso o custo financeiro será alto, como em toda a guerra e, portanto, não poderemos desperdiçar recursos, sejam eles pessoal, de material, financeiros, de infraestrutura ou quaisquer outros.”

O documento do Exército chama a atenção ainda para o papel que os municípios devem desempenhar na crise em um país com as dimensões do Brasil. Pois mesmo dentro de Estados existem realidades e desafios completamente diversas entre as cidades. O estudo também aponta que as pesquisas sobre medicamentos e vacinas ainda são incipientes. Por isso, reconhece que o isolamento horizontal, por ora adotado em regiões com maior número de casos, aparentemente contribuiu para reduzir a curva de contágio do vírus. Os militares ainda alertam para um possível agravamento do quadro da doença quando o Brasil entrar no inverno, principalmente, na região Sul do País.

Fonte: Estadão