“Estou numa missão”, afirma a presidente da Fundação Osvaldo Cruz, Nísia Trindade Lima, de 62 anos. Ela é a primeira mulher a ocupar o cargo máximo da instituição que completa 120 anos em maio. “O que aumenta muito a responsabilidade e a autocobrança. Na Ciência, somos minoria em postos mais altos.” Devido à pandemia, a carioca, doutora em Sociologia, está se relacionando a distância com os filhos, o neto e o namorado. “Nos falamos ao telefone”, diz.
Desde o início da crise sanitária, Nísia trabalha 15 horas por dia; de segunda a sexta-feira, acorda às 6h30, pratica 30 minutos de ioga e segue para Manguinhos, onde está localizada a fundação, que abriga o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, o Laboratório de Virologia Molecular, o de Vírus Respiratórios e do Sarampo, ligado ao Instituto Osvaldo Cruz, entre outras unidades técnico-científicas. Lá, comanda operações, monitora pesquisas, participa de reuniões virtuais e faz articulações com o Ministério da Saúde. “É um momento só comparável à gripe espanhola. Porém, em 1918, o Brasil era um país rural, uma república oligárquica”, reflete Nísia, que fala com calma admirável para o momento. “Situações como essa exigem engajamento. Ficar em casa reforça o coletivo. Evidencia-se também a nossa interdependência: a minha saúde é a saúde do outro”.
Cabe a ela reger uma série de ações, executadas por um exército de gestores, pesquisadores, médicos, cientistas e enfermeiros. Uma delas é o ensaio clínico multicêntrico da OMS no Brasil, chamado Solidariedade. A Fiocruz também desenvolveu um teste molecular para identificar o vírus. Já a construção, no ex-campo de futebol da fundação, de um Centro Hospitalar para a Pandemia de Covid-19, uma expansão do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), com 200 leitos para pacientes graves, exige empenho hercúleo. “É um esforço de guerra”.
Ao voltar para a casa, Nísia tem o hábito de se reunir com amigos por meio de um grupo no WhatsApp em que compartilha textos e músicas. “É uma espécie de sarau. Também estou lendo a biografia da Fernanda Montenegro”, acrescenta. E, assim como todos os brasileiros, traça planos para o fim da tempestade. “Vou encontrar filhos e netinho e caminhar na Praia de Copacabana”.
Fonte: O Globo