RIO – Ainda sem um protocolo definido pelo Ministério da Saúde para uso em estados e municípios, os testes rápidos para Covid-19 começaram a ser vendidos em drogarias do Rio. O Conselho Regional de Farmácia do Rio diz que a aplicação dos testes pelos estabelecimentos é ilegal, e a Vigilância Sanitária estadual aguarda regulamentação federal. Em uma farmácia do Leblon, o teste é oferecido por R$ 250. Especialistas contestam a eficácia dos resultados dos exames. O risco é de um “falso passaporte” de imunidade. Quem faz o teste sozinho pode concluir, equivocadamente, que tem anticorpos e está livre do vírus, quando, na verdade, há risco de estar contaminado e também disseminar a doença ao circular sem preocupação pelas ruas.
São 33 tipos diferentes de exames autorizados pela Anvisa. Segundo a Vigilância Sanitária, o Estado do Rio não tem regulamentação para a venda dos testes rápidos em farmácias. Os exames não detectam o coronavírus, mas os anticorpos produzidos pelo organismo (IgM e IgG). A procura é grande, mas a oferta ainda é pouca em razão da origem dos kits, a maior parte vinda do exterior.
Os testes custam R$ 250 em uma drogaria do Leblon. Os primeiros kits chegaram no último sábado, segundo um atendente. O cliente faz o pedido por telefone e um enfermeiro da farmácia vai até a residência fazer o exame.
Em uma farmácia da Barra, há 500 pedidos de kits já reservados por clientes. O gerente da drogaria conta que espera a entrega dos testes pelos fornecedores há uma semana. A maior procura, segundo ele, é de profissionais de saúde. A previsão é que os kits custem de R$ 350 a R$ 390.
— Os testes já deveriam ter chegado, mas aqui no Rio está um problema muito grande de entrega. É muita procura e ninguém tem para vender. Nós pedimos uma quantidade grande, mas, dependendo de quantos chegarem, vão acabar no mesmo dia.
Segundo a Vigilância Sanitária do município, a venda de testes está restrita à rede hospitalar: “O procedimento é irregular e deve ser denunciado à central 1746 para que a fiscalização seja acionada”.
Uma análise de um laboratório particular, encomendada pelo Ministério da Saúde, indicou que há 75% de chance de erro em resultados negativos para o novo coronavírus, enquanto a probabilidade de um falso positivo é de 14%. Com menos de 30% de sensibilidade para os casos negativos, a possibilidade de uma pessoa com esse resultado ter contraído o coronavírus e o transmitir sem saber é grande. Além disso, os falsos negativos levam a um achatamento falso da curva de crescimento da epidemia.
— Esse tipo de teste tem baixa sensibilidade e especificidade. Se for positivo, pode indicar exposição prévia. E não sabemos se esses anticorpos seriam protetores e eficientes contra o coronavírus. Se for negativo, pode ser um falso negativo. O risco desses testes é que podem permitir a circulação de portadores assintomáticos — explica o oncologista e hematologista Daniel Tabak.
Presidente do Conselho Regional de Farmácia, Tania Mouço diz que a venda dos testes para Covid-19 em drogarias é ilegal. Segundo ela, o uso dos exames rápidos está restrito a laboratórios e unidades médicas.
— Estamos tentando junto à Vigilância Sanitária uma forma de regulamentar isso, somos superfavoráveis. Mas não pode ocorrer (a venda) do jeito que está. Nós temos relatos de farmacêuticos que estão se recusando a fazer os testes por falta itens de segurança. Precisa de treinamento.
O uso certo
Umas das vantagens do teste rápido é identificar profissionais de saúde e de outras profissões de risco que tenham contraído Covid-19 há mais tempo e já estejam sem sintomas. Eles vão positivar, o que indica que, em tese, não terão mais a doença, pois têm anticorpos de proteção do tipo IgG, e poderão trabalhar. Para o pesquisador da Fiocruz Manoel Barral, os testes rápidos só são eficientes quando feitos em grandes grupos:
— São testes de baixa capacidade de identificação. Têm utilidade para verificar resposta imune de certo grupo. Individualmente, mesmo quando positivo, o valor do resultado é muito baixo.
Fonte: Jornal Extra