Com o prefeito internado com diagnóstico de coronavírus e as ruas movimentadas, a cidade de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, tem a segunda maior taxa de mortos pela doença por 100 mil habitantes em todo o Rio de Janeiro, atrás só de Volta Redonda, no Sul do estado. É o que mostra um levantamento exclusivo feito pelo G1.
Em números absolutos de óbitos por Covid-19, o município também ocupa a segunda colocação, com 16. A capital lidera, com 115 mortes, segundo a Secretaria Estadual de Saúde.
Se considerada a população do município da Baixada, de quase um milhão de habitantes conforme o dado mais recente do IBGE, a taxa de morte é de 1,73 a cada 100 mil pessoas – atrás apenas de Volta Redonda e à frente até mesmo da capital (veja abaixo).
A Secretaria Municipal de Saúde de Duque de Caxias afirmou ao G1 que está analisando cada um dos óbitos confirmados de Covid-19 na cidade e destacou que alguns deles estavam sob investigação e só foram assegurados depois de exames. E que a demora no retorno destes resultados, causada pela alta demanda dos municípios do estado, é um agravante na confirmação dos casos notificados.
A secretaria informa ainda que, entre os óbitos na cidade, 60% deles são de idosos e 70% de pessoas com comorbidades.
Leitos de CTI 100% ocupados
Segundo a Secretaria de Saúde de Duque de Caxias, até o final da tarde desta segunda-feira (13), todo os leitos de CTI para Covid-19 estavam ocupados no município.
Ao todo, 31 leitos de CTI destinados a pacientes com a doença estão ocupados. De acordo com a assessoria, a cidade conta com seis leitos de CTI exclusivo para Covid-19 no Hospital Municipal Dr. Moacyr Rodrigues do Carmo ( HMMRC); 22 leitos na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Beira Mar; mais três leitos de isolamento na sala vermelha do HMMRC, destinados a pacientes de isolamento que podem ser convertidos para atender coronavírus.
Entre os 86 casos confirmados no município, está o do prefeito Washington Reis (MDB). A Prefeitura de Duque de Caxias afirmou que ele segue internado no Hospital Pró-Cardíaco, na Zona Sul do Rio de Janeiro, em unidade de tratamento semi-intensiva, com quadro de Covid-19 e evolução estável.
Um ex-funcionário da prefeitura afirmou em entrevista ao G1 que ele vinha fazendo “pressão” para que os órgãos públicos não alterassem a rotina de trabalho em meio à pandemia, desconsiderando a recomendação da Organização Mundial da Saúde e decreto do governo do estado.
“A ordem velada era ‘continue trabalhando normalmente, não vou liberar ninguém'”, relata ele.
“As pessoas estão indo (trabalhar) quando poderiam estar em home office perfeitamente. (…) Eu tinha coordenador diabético. Falei: ‘Diz que você é grupo de risco, pede para ficar em casa’. E ele não quis bancar. Fica todo mundo naquela coação moral, assédio moral total, porque quem precisa (do emprego) não vai bater de frente pra ser exonerado e acaba indo, obrigado, trabalhar”, diz o ex-funcionário, que pediu anonimato.
O prefeito chegou a incentivar abertamente a manutenção do funcionamento do comércio e disse que não fecharia igrejas porque a “cura virá de lá”, como noticiou o jornal O Globo.
No domingo, ele foi diagnosticado com a doença e está internado na unidade semi-intensiva de um hospital particular da capital.
O município de Duque de Caxias negou as ameaças e disse que “o relato não é verídico e que a prefeitura zela pela saúde e segurança de todos os servidores”.
Sobre as falas do prefeito que teriam incentivado a abertura do comércio e de igrejas, a Prefeitura de Duque de Caxias informou ao G1 que adotou uma série de medidas restritivas para o combate da doença. Entre elas está a suspensão por 15 dias do funcionamento de shoppings, lojas, bares e outros estabelecimentos similares.
Porém, o poder municipal admite que, mesmo assim, em algumas áreas da cidade os comerciantes ainda desafiam as restrições.
Outras medidas que a prefeitura afirma estarem sendo tomadas são campanhas de higiene e etiqueta respiratória, higienização das ruas e distribuição de máscaras. Além disso, a Secretaria de Saúde começou a realização de testes rápidos entre os profissionais de saúde que apresentem sintomas respiratórios.
Na segunda-feira, o RJ2 mostrou grande movimentação na cidade. Parte do comércio estava aberto, descumprindo a lei estadual, e as ruas cheias.
Leitos
Atualmente, Caxias tem 128 leitos para o coronavírus, segundo o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) do Ministério da Saúde. Outros 200 serão criados num hospital de campanha, totalizando 328.
O infectologista Edimilson Migowski alerta que a situação é preocupante, sobretudo enquanto as unidades temporárias não estiverem prontas.
“Se muita gente adoecer vai encontrar muitos hospitais de campanha em montagem, grupos de médicos e enfermeiros sem equipamentos suficientes, sem evidências de qual antiviral usar contra a doença. Adoecer a qualquer momento é complicado. Adoecer quando não se tem o recurso é mais ainda. O que vai se observar é que as pessoas vão morrer por falta de atendimento, o que não aconteceria se tivessem um atendimento mais robusto”, diz ele.
Nos epicentros da epidemia, têm sido necessários 2,4 leitos para cada 10 mil habitantes. Isto significa que Caxias precisaria de cerca de 240 leitos de UTI. Embora a meta prometida atinga esse número, a situação preocupa devido aos municípios mais pobres no entorno sem leitos.
“É possível que você tenha os casos aumentados e que os leitos não sejam suficientes”, resume.
O município informou que trabalha com a perspectiva de criação do maior número de leitos possível, pois afirma não ter como prever como esta demanda reagirá nas próximas semanas. E que estudos estão sendo realizados para o suprimento de leitos e de profissionais de saúde, pois muitos estão sendo afastados por síndrome gripal. A cidade de Duque de Caxias não informou quantos destes profissionais foram afastados.
Fonte: G1