A resistência de quem passou por períodos severos no país se mantém também durante a pandemia do coronavírus. Aos 104 anos, João Freire Jucá Sobrinho, o policial militar reformado mais antigo do Estado do Rio de Janeiro, enfrentou duas guerras mundiais, a gripe espanhola e, desta vez, precisou se manter firme no isolamento mesmo diante de seu aniversário, comemorado na última sexta-feira (10).
Apesar de não ter abraços, foi uma festa de consciência e amor ao próximo.
A filha caçula de Jucá, Regina Célia Rampini Jucá Bender, explica que ele desejou abraçar a família durante a comemoração, mas compreendeu as medidas de segurança adotadas pelos filhos e netos.
“Ele e a minha mãe, com a cuidadora, ficaram em casa. E nós ficamos do lado de fora. Depois que cantamos parabéns, ele queria nos abraçar, mas explicamos pra ele o motivo de não poder. Ele acabou compreendendo. Conseguimos estar presentes de uma outra forma. Meu pai passou por duas grandes guerras mundiais, foi ativo na de 1945 aqui no Brasil, viu a gripe espanhola se espalhar e temos certeza que também vai passar por esse Covid-19”, explica.
O veterano tem hoje cinco filhos, 16 netos e 20 bisnetos. A comemoração envolveu sorrisos e muita entrega. Por conta da pandemia, foram poucos que se reuniram no local para prestar as homenagens mantendo vários metros de distância. Alguns estiveram presentes de forma virtual, mas todos agradecendo pelos ensinamentos recebidos ao longo de toda a vida.
“Ele é uma pessoa extremamente sábia. Fui criada por ele, com todos os seus ensinamentos, diversas lições de ética, de moral, de cumprir os seus deveres. Em uma época foi até rígido demais, mas hoje eu entendo o quanto isso cooperou pra eu ser a pessoa que eu sou hoje. Ele é um pai fantástico”, conta Regina Célia.
Vitalidade e atuação do militar
O tenente-coronel se dedicou por 40 anos aos serviços da Polícia Militar. Ingressou como ajudante ainda jovem, depois fez a prova e se tornou soldado. Ativo, Jucá foi instrutor de educação física no Batalhão, o que a família avalia como uma das coisas que o fez chegar à idade que tem.
Ao lado da esposa Evangelina, com quem é casado há 76 anos, o tenente-coronel recebeu continência de um policial militar que foi representar a Polícia Militar do Estado do Rio. Na trajetória, ele reúne a experiência de ter sido um dos militares que resguardava o Rio de Janeiro, enquanto capital do Brasil.
“Ele foi Policial Militar Federal e quando a capital foi para Brasília se aposentou. O RG dele na Polícia é 1-04, o que pra gente é coincidência com a idade que ele completa esse ano. Segundo o 26º BPM, aqui de Petrópolis, ele é o policial mais antigo vivo do Brasil todo”, acrescenta a filha caçula.
Fotógrafo detalha experiência em meio à pandemia
Responsável por registrar os momentos da comemoração, o fotógrafo Giovani Garcia confessa que fazer parte deste momento foi um verdadeiro desafio. Ao Jorna Povo, ele revelou que seu primeiro questionamento à família foi sobre como fazer as fotos em meio à pandemia.
“Eles relataram que seria muita pretensão adiar, pois apesar de ele estar bem, ele tem 104 anos. A gente nunca sabe o que pode acontecer. Eu sabia que todos estariam a distância do lado de fora e eu não fazia ideia do que ia conseguir registrar. Quando eu cheguei ele não estava entendendo muito bem o motivo de ninguém estar na casa. Assim que ele soube que ninguém poderia entrar pra preservá-lo durante a pandemia, ele compreendeu e, a sua forma, interagia o tempo todo. Sorria, batia palmas, participava dos parabéns…”, disse.
O fotógrafo acrescentou que ainda diante das dificuldades, estar neste momento foi algo especial.
“Para a família acredito que tenha sido muito importante por poder registrar esses momentos dele em plena pandemia. Mesmo com as dificuldades técnicas de fazer de longe, com iluminação em que eu não poderia interferir, consegui passar um pouco do que foi esse momento tão especial para eles”, finaliza Giovani.
Fonte: G1