Jornal Povo

Hospital reserva contêiner para armazenar corpos de vítimas de Covid-19

RIO – Referência no combate ao coronavírus no Estado do Rio, o Hospital Regional Zilda Arns, em Volta Redonda, no Sul Fluminense, começa se preparar para um cenário de maior gravidade. A unidade recebeu na quarta-feira um contêiner frigorífico para armazenar corpos de vítimas da doença. Médicos e enfermeiros acompanham, com preocupação, um aumento na procura por internações. Nesta quinta-feira, havia 86 pacientes com Covid-19 no local; na quinta-feira da semana passada, eram 49.

O Zilda Arns conta com 180 leitos, e a expectativa é que todos estejam ocupados em poucas semanas. Na UTI, segundo funcionários, 35 das 37 vagas estão com doentes. O GLOBO foi nesta quinta à unidade e, entre 11h55 e 12h15, registrou a chegada de cinco pacientes com diagnóstico positivo para coronavírus. Entre eles, havia uma mulher de 70 anos, transferida do Hospital São João Batista, também em Volta Redonda, em estado grave. Ela respirava com ajuda de aparelhos. Ao longo do dia, 16 pessoas foram internadas.

Muitos dos pacientes do Zilda Arns são moradores de outras cidades do Sul Fluminense e da Região Metropolitana. Administrado pelo governo estadual, o hospital vem recebendo infectados inclusive do município do Rio, a 130 quilômetros de distância (e mais de duas horas de viagem). De acordo com a direção, nos últimos quatro dias, 30 morreram. No início da tarde, a equipe de reportagem presenciou a saída de um corpo do hospital. O paciente tinha contraído a Covid-19.

O contêiner que chegou na quarta à unidade tem 14 metros de comprimento e capacidade para armazenar 20 cadáveres a uma temperatura de, no máximo, nove graus. O equipamento é necessário porque o necrotério do Zilda Arns só comporta quatro corpos, e, apesar de passar a manhã e a tarde de quinta-feira vazio, já estava com a refrigeração funcionando.

Com uma população estimada em 300 mil pessoas, Volta Redonda é o terceiro município do estado com maior quantidade de moradores contaminados. São 162 casos confirmados e 730 suspeitos, e sete óbitos registrados.

Ruas cheias

A prefeitura determinou o fechamento do comércio considerado não essencial e recomendou à população que evite sair de casa, porém O GLOBO encontrou nesta quinta muitas lojas abertas. Além disso, ruas estavam cheias em vários bairros, como Vila, Aterrado e Centro. Em todos, foi possível ver aglomerações.

O prefeito Samuca Silva disse que o movimento era grande na cidade porque muita gente saiu de casa para tentar receber a ajuda de custo de R$ 600 que o governo federal oferece.

— O povo não está respeitando de uns dois dias para cá; antes, de forma geral, vinha seguindo as regras. Mas o comércio está cumprindo, sim, as medidas de isolamento — garantiu Samuca.

No entanto, segundo a própria prefeitura, a adesão ao confinamento vem diminuindo. O fluxo de pessoas nas ruas havia apresentado uma redução de 60% em relação aos dias que antecederam a pandemia do coronavírus, mas, esta semana, o índice caiu para 53%.

— As pessoas estão baixando a guarda. Compete, agora, a gente convencer, de novo, a população da importância da quarentena — afirmou Samuca, para, em seguida, contemporizar: —Apesar do nosso índice de infectados estar alto, temos apenas 20% dos leitos da cidade ocupados. Estamos conseguindo evitar o aumento da doença com a quarentena.

A prefeitura vem montando um hospital de campanha com 114 leitos no Estádio Raulino de Oliveira. Samuca informou que, na próxima semana, vai consultar o Ministério Público estadual sobre a possibilidade de reabrir o comércio.

Fonte: O Globo