Jornal Povo

‘Nunca foi um fardo’, diz Mandetta após deixar o Ministério da Saúde

BRASÍLIA — Relaxando no sofá após ter transmitido o cargo de ministro da Saúde ao oncologista Nelson Teich, Luiz Henrique Mandetta fez ao GLOBO uma rápida avaliação da missão que cumpriu por um ano e quatro meses no governo do presidente Jair Bolsonaro.  

— Nunca foi um fardo para mim. Nunca foi uma pressão. Eu gosto disso, adoro essa adrenalina. Eu sou cirurgião, trabalho na linha entre a vida e a morte. Gosto da adrenalina e não tenho problemas com crise — analisou em entrevista por telefone ao GLOBO.

A ligação, à tarde, aconteceu após Mandetta desfrutar de um almoço com seus aliados de primeira ordem, Ronaldo Caiado (GO) e Abelardo Lupion (RS), ambos do DEM, na casa de Lupion em Brasília. O encontro, em que foi servida “uma alcatra muito gostosa”, segundo Mandetta, estava marcado para discutir o “day after” do ministro e seu papel no partido daqui em diante.

Enquanto degustava um mate gelado, Mandetta disse que, de “tão tranquilo”, chegou a engordar nos últimos meses de governo mesmo diante da pandemia do novo coronavírus. Deve ter sido o mel, brinca o ex-ministro, lembrando ter tomado colheradas do produto para fortalecer a imunidade.  

Apesar de negar estar aliviado ao deixar o governo, Mandetta demonstra satisfação com o desfecho de sua saída. Na sua avaliação, foi uma saída “tranquila” e “educada”. Na noite de quinta-feira, após o anúncio de sua demissão, o cerimonial do Palácio do Planalto ligou para o gabinete do então ministro para convidá-lo para a cerimônia de posse. 

Do outro lado da linha, o interlocutor insistia que a presença de Mandetta iria colaborar para reduzir os ânimos da crise e frisava que o último ministro que havia deixado o governo sem participar da transição havia sido o ex-chefe da Secretaria Geral da Presidência Gustavo Bebianno. Mandetta topou participar.  

O ex-ministro se diz aberto a colaborar com o governo e com o enfrentamento ao novo coronavírus. Questionado sobre os novos rumos do governo, ele se esquiva de comentar. Ele frisa que para colaborar com o enfrentamento do novo coronavírus precisa manter o silêncio. Diz querer evitar “interpretações dúbias” sobre suas declarações. 

Sem visitar os familiares em Campo Grande desde a chegada do Covid-19 ao Brasil, em fevereiro, Mandetta se programa para viajar de carro neste sábado ao Mato Grosso do Sul. Serão doze horas dirigindo, caso o agora ex-ministro da Saúde desista de fazer um pitstop na casa do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que insiste para que o aliado político durma uma noite lá para quebrar a viagem de mil quilômetros. 

Longe do governo, Mandetta será uma espécie de conselheiro nacional no Democratas, partido ao qual é filiado.  A legenda avaliou que o ex-ministro não deve participar de governos estaduais para tentar evitar interpretações de que teria usado o Ministério da Saúde para ajudar aliados. Além do governador de Goiás, o de São Paulo, João Doria (PSDB), tinha demonstrado interesse em trabalhar com Mandetta.

Mandetta será “consultor” de governadores e prefeitos na crise, remunerado pela Fundação Liberdade e Cidadania, do DEM. O ex-deputado Abelardo Lupion (DEM-RS) diz que é preciso que o colega tenha um salário para viajar pelo Brasil enquanto durar a pandemia.

— Mandetta não é um cara rico, então precisa se manter. Nós temos a fundação do partido que vai fazer esse papel. A fundação Liberdade e Cidadania vai fazer esse papel, para ele poder ter essa facilidade de poder se locomover, poder ajudar — diz o aliado.

Fonte: O Globo