Jornal Povo

‘É difícil sair do hospital com a sensação de dever cumprido’, diz chefe da UTI do Hospital de Acari

RIO – Coordenador médico de Terapia Intensiva do Hospital municipal Ronaldo Gazolla, em Acari, referência para a Covid-19, Sandro Oliveira conta que tem dormido apenas três horas por dia e que emagreceu nove quilos desde o começo da pandemia. Ele, que tem 39 anos, é pai de Camile, de 11 anos, e Bernardo, de 7. O médico não vê os filhos há um mês. Os dois estão com a mulher, em Jacarepaguá, enquanto ele fica na Barra da Tijuca. Seu maior medo, além de contaminar a família, é se infectar e ter que deixar o front no combate ao coronavírus.

“Hoje, vendo pacientes muito graves na UTI,  é difícil sair do hospital com a sensação de dever cumprido”, diz o intensivista, que muitas vezes se sente impotente diante do novo coronavírus. Confira o depoimento:

“Falar um pouquinho do que está se passando na nossa vida, na nossa cabeça é o mesmo que dizer que se está num furacão. Tenho dois medos: caso me infecte de ter de sair da linha de frente e não poder mais colaborar presencialmente e de contaminar meus familiares. Por esse motivo, não tenho contato fisicamente com eles. Infelizmente, não tenho ainda previsão para retornar a ver meus filhos. A nossa comunicação é basicamente por telefone, chamada de vídeo. Dói o coração, mas o risco e a nossa preocupação com o bem-estar de quem a gente ama supera toda essa saudade, toda essa angústia. Quando meus filhos reclamam, eu falo: papai só vai voltar a ver vocês quando essa Covid passar.

“Nossa missão é essa, não podemos fugir da luta. A nossa parte é contribuir para melhorar a saúde da população. E a parte da população é se manter em isolamento, ficar em casa para e diminuir o risco de contaminação.”

“Mas a nossa missão é essa, não podemos fugir da luta. A nossa parte é contribuir para melhorar a saúde da população. E a parte da população é se manter em isolamento, ficar em casa para e diminuir o risco de contaminação.

“Fui o responsável pelo atendimento a gestantes com H1N1 no Hospital estadual Albert Schweitzer (em 2009)  e pelo atendimento dos adolescentes e crianças da tragédia da escola em Realengo (em 2011). Mas não há nada parecido com a pandemia atual.

“Hoje chego ao hospital por volta das 6h30 e saio por volta das 21h para ainda, em casa, estudar as novas publicações médicas e desenvolver, conforme mudanças na literatura, protocolos e treinamentos para a equipe. Nos fins de semana, tenho ficado de sábado de manhã até domingo à noite direto no hospital. Atualmente, durmo em torno de três horas por dia.

“Minha rotina de trabalho antes era estar no hospital no período da manhã e tarde; raramente, vinha ao hospital nos fins de semana. Atualmente, são todos os dias – de manhã, tarde e noite – e, regularmente, na madrugada orientando a equipe pelo telefone, estudando ou montando conteúdo. Já emagreci nove quilos desde o início da pandemia por falta de tempo para comer adequadamente. Acabou que isso não entrou como prioridade.

“Os pacientes que chegam à UTI são muito graves, com necessidades particulares, principalmente da parte respiratória. Tive contato com diversos pacientes e cheguei a comunicar famílias sobre óbitos.  Em alguns casos, principalmente pela rápida evolução, fiquei com a sensação de impotência em relação a essa doença.

“Hoje, vendo pacientes muito graves na UTI,  é difícil sair do hospital com a sensação de dever cumprido. Mas saio porque preciso no mínimo parar meu corpo para o próximo dia.”

Fonte: O Globo

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