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Parceiro de Dida, valente e fã de treinos: conheça Henrique, o terceiro maior artilheiro da história do Flamengo

Zico é quase um Deus para o torcedor do Flamengo, e Dida, o ídolo do Galinho, também é figurinha carimbada no imaginário rubro-negro. Mas o terceiro maior artilheiro da história do clube da Gávea não é nenhum nome óbvio, apesar de ter um histórico respeitável para compor o pódio com duas lendas: é Henrique Frade.

Mineiro de Formiga, cidade a 200 km de Belo Horizonte, Henrique marcou 212 gols em 411 jogos pelo Flamengo – uma média de 0,52. Ele atuou de 1954 a 1963 pelo clube e, neste período, conquistou três Campeonatos Cariocas (1954, 1955 e 1963) e um Torneio Rio-São Paulo (1961).

Centroavante de área, com boa capacidade física, Henrique foi o ponto de referência de um ataque que marcou época no Flamengo, junto com Joel, Zagallo, Moacir e Dida – este último, seu principal parceiro. O curioso é que deste quinteto, ele foi o único a não ser convocado para a Copa do Mundo de 1958, a primeira conquistada pela seleção brasileira.

– Ele era um centroavante forte, jogava dentro da área, brigava dentro da área. Era um ponto de referência. Um cara alto, forte, valente e goleador. Fazia dupla com o Dida, que recuava mais – lembrou o meia Gerson, o Canhotinha de Ouro, que, vindo da base do Flamengo, atuou com Henrique no início dos anos 60.

A desenvoltura em campo era diferente fora dele. Henrique era considerado tímido, de temperamento bastante humilde. No começo da carreira, teve a tarefa de substituir o ídolo Índio, vendido ao Corinthians, e logo garantiu sua vaga na equipe.

– Era um mineiro, bem humilde. Tinha zero marketing – contou Bruno Lucena, coordenador do Patrimônio Histórico do Flamengo.

Henrique Frade em pé, entre Gerson e Dida, companheiros de Flamengo — Foto: Bruno Lucena / Patrimônio Histórico do Flamengo
Henrique Frade em pé, entre Gerson e Dida, companheiros de Flamengo — Foto: Bruno Lucena / Patrimônio Histórico do Flamengo

Ainda assim, os gols no Flamengo lhe renderam convocações para o Brasil em outros momentos. Em 1959, marcou um dos gols na vitória sobre a Inglaterra no Maracanã por 2 a 0, em partida que ficou famosa pela imensa vaia que o ponta-direita Julinho Botelho recebeu, por atuar no lugar de Garrincha. Julinho marcou o primeiro gol, teve grande atuação e depois foi aplaudido pela torcida.

No mesmo ano, Henrique fez dupla com Pelé no ataque do Brasil na campanha do Sul-Americano. Na ocasião, a Seleção ficou em segundo lugar, apesar de ter terminado o torneio invicta.

Henrique, entre Didi e Pelé, pela seleção brasileira — Foto: Bruno Lucena / Patrimônio Histórico do Flamengo
Henrique, entre Didi e Pelé, pela seleção brasileira — Foto: Bruno Lucena / Patrimônio Histórico do Flamengo

Disposição para treinar

As lembranças de um jovem Gérson, que começava a conquistar seu espaço no Flamengo no início de 1960, são de um Henrique discreto, avesso à badalação. E com uma característica que deixava os companheiros ligeiramente irritados: gostava de treinar.

– Ele era discreto, brincalhão, parceiro. Sempre me dei bem com ele. Quando entrei no Flamengo, jogando com todos aqueles veteranos, ele me dava muita força. Gostava muito de treinar. Era um cara que, no primeiro dia da semana, quando começava os treinos, ele ia na frente, puxando a fila, e ninguém gostava (risos) – lembrou Gerson.

Em 1964, Henrique deixou o Flamengo para defender a Portuguesa, de São Paulo. Lá, adicionou o sobrenome Frade para se diferenciar de um companheiro. Passou ainda pelo Nacional, do Uruguai, e pelo Atlético-MG.

Olheiro na década de 1980

Aposentado, Henrique treinou alguns times em Minas Gerais e voltou ao Flamengo em 1982. Desta vez, como um olheiro, responsável por uma das escolinhas do clube, na Ilha do Governador. Em suas palavras, transparecia o respeito e o carinho pelo Rubro-Negro:

– É um trabalho muito bonito que estou fazendo com o Dida, Silva e Carlinhos. Somos quatro ex-jogadores com a responsabilidade de escolher os craques do futuro. É um trabalho de muita responsabilidade, porque não podemos mandar qualquer um para a Gávea – disse Henrique à imprensa na época.

Com o tempo, Henrique passou a sofrer com um problema nas pernas, devido a uma fratura mal calcificada. Passou por diversas cirurgias e precisou usar muletas para se locomover. Ele faleceu no dia 15 de maio de 2004, no Rio de Janeiro, mas deixou seu nome na história do Flamengo com seus gols.

Henrique, já aposentado, na época de olheiro do Flamengo. Problema na perna o obrigou a usar muletas — Foto: Reprodução
Henrique, já aposentado, na época de olheiro do Flamengo. Problema na perna o obrigou a usar muletas — Foto: Reprodução

Fonte: Globoesporte