Jornal Povo

Em reação a fala de Bolsonaro, militares dizem não apoiar qualquer medida de força contra Judiciário ou Legislativo

Um dia depois de o presidente Jair Bolsonaro fazer ameaças contra interferências do Judiciário em seu governo, os militares não gostaram de como o chefe do Executivo usou o nome das Forças Armadas durante fala em manifestações antidemocráticas em Brasília e avaliam que ele coloca os militares numa disputa que não é deles.

Segundo interlocutores da cúpula militar do governo, eles avaliam que o presidente acabou usando uma reunião convocada no último sábado (2) para passar, mais uma vez, a falsa mensagem de que as Forças Armadas apoiam os ataques feitos por Bolsonaro ao Judiciário e Legislativo.

Tal como ele tentou fazer há duas semanas, quando discursou para um ato antidemocrático na frente do Quartel General do Exército e também gerou insatisfação na cúpula militar, principalmente nos comandantes das três forças.

Durante a reunião do último sábado, Bolsonaro reclamou das interferências do Judiciário em seus atos. Referência às decisões do ministro Alexandre de Moraes, de barrar a posse de Alexandre Ramagem na direção-geral da Polícia Federal, e do ministro Luís Roberto Barroso, que suspendeu medida do Itamaraty de mandar diplomatas venezuelanos saírem do Brasil.

Essas críticas do presidente contam com a concordância de uma ala dos militares, que também avalia que o Judiciário pode estar interferindo nos atos do Executivo de forma indevida. Em nenhum momento, porém, os militares sinalizaram ao presidente que estariam ao lado dele na adoção de “atos de força” contra decisões do STF que podem ser classificadas de interferência no governo federal.

https://www.youtube.com/watch?v=vnaJSyQd9j8

Segundo um interlocutor dos militares, o presidente acabou usando a reunião de sábado e a concordância de alguns militares às suas críticas de que há interferência do Judiciário em seu governo para dizer que as Forças Armadas estão do lado dele quando fez ameaças contra os outros Poderes.

“O que alguns militares disseram é que concordam com as críticas à interferência do Judiciário no Executivo, mas, para eles, o caminho é o das instituições, recorrer contra as decisões do Supremo, jamais usar medidas de força”, afirmou um interlocutor dos militares ao blog.

No domingo (3), Bolsonaro, ao participar de manifestações antidemocráticas, disse que “as Forças Armadas, ao lado da lei, da ordem, da democracia, da liberdade e da verdade, também estão ao nosso lado”.

Em seguida, fez uma fala em tom de ameaça. “Quanto aos algozes, peço a Deus que não tenham problemas esta semana, porque chegamos ao limite. Não tem mais conversa. Daqui para a frente, não só exigiremos, faremos cumprir a Constituição. Será cumprida a qualquer preço”, afirmou Bolsonaro.

Para os militares, o melhor caminho é o da negociação, e, no STF, o melhor canal é o presidente da Corte, José Dias Toffoli, que já teve como seu assessor o atual ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva. E o caminho é o das vias institucionais, como recorrer das decisões, podendo criticá-las, mas jamais dizer que a Constituição será cumprida a qualquer preço.

Segundo os militares, não há possibilidade de embarcarem numa aventura, porque, para eles, a solução está na Constituição.

Fonte: G1