Jornal Povo

Conflito entre Bolsonaro e Guedes está cada vez mais claro, diz Maia

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou nesta quinta-feira (7) que a divergência sobre o que pensam o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, está cada vez “mais clara” e que, “em algum momento isso vai ter que ser resolvido”.

Segundo ele, esse “conflito” dentro do governo se soma ao “conflito permanente” do presidente com o Congresso e com o Supremo Tribunal Federal (STF) e isso “gera uma sinalização ruim”.

“É claro que, quando se olha para um conflito político no meio de uma pandemia, certamente aumenta o nível de preocupação e de estresse em relação à gestão da crise e às soluções futuras. A gente vê que há no governo um conflito de posições que está ficando cada vez mais claro, entre o que pensa a equipe econômica e o que pensa o próprio presidente da República. Na votação desta semana, ficou claro isso em relação à excepcionalidade de servidores [no artigo do projeto de socorro a estados e municípios que trata do congelamento de salários até 2021]”, disse Maia durante uma live do Santander.

Na terça-feira (5), com incentivo do próprio governo e contrariando as recomendações da equipe de Guedes, deputados governistas atuaram com a oposição para aumentar a lista de carreiras que poderão receber reajustes nos 18 meses em que o salário do funcionalismo ficará congelado, como contrapartida ao repasse direto de R$ 60 bilhões da União aos demais entes da federação.

Além de servidores da saúde, da segurança e das Forças Armadas, foram beneficiados professores, policiais federais, técnicos e peritos criminais, trabalhadores da limpeza urbana e assistência social da União, desde que diretamente envolvidos no combate à pandemia da Covid-19. Com isso, a economia estimada pela medida foi reduzida de cerca de R$ 130 bilhões para R$ 43 bilhões, segundo a equipe econômica.

Para Maia, no entanto, a suspensão de reajuste de salários é inócua por causa da crise. “Congelamento num momento de queda de arrecadação não significa nada. A gente tem que discutir uma repactuação do tamanho do Estado brasileiro. Talvez agora não seja o momento. Talvez a partir de junho. O remédio talvez tenha que ser mais amargo.”

Auxílio emergencial

O deputado disse ainda que o aumento do desemprego deve gerar forte pressão para que o auxílio emergencial de R$ 600 a trabalhadores informais e intermitentes seja estendido para além dos três meses previstos inicialmente. “A situação das pessoas em situação vulnerável era muito pior do que todos imaginavam.” Maia defendeu, no entanto, que o Congresso não tome a iniciativa de propor medidas que gerem impacto nas contas do governo.

“No início da crise, tivemos uma posição proativa, porque parecia que o governo não queria acreditar no tamanho da crise. A PEC do Orçamento de Guerra foi uma pauta da Câmara e foi uma construção dos poderes, com participação do STF, do TCU [Tribunal de Contas da União]. Num segundo momento, teremos que ter uma posição mais de diálogo com o governo e menos proativa. A MP 936 [que permite suspensão de contratos e redução de salários], por exemplo, vamos mudar alguma coisa, mas estamos dialogando com a equipe econômica. Não vamos fazer nada que não seja bem articulado com o governo.”

Nesse sentido, Maia afirmou que considera importante a aproximação do Planalto com partidos do chamado centrão. “Dos partidos que compõem o centrão, uma parte resolveu apoiar o governo, organizar uma base. Isso é positivo. Facilita até para a negociação com a presidência da Câmara. É bom para o governo ter uma base, pois estava sem partido até para pedir verificação das matérias, não podia obstruir votação. Então, é importante ter partidos que têm influência e experiencia no assunto.”

Fonte: CNN